Se você é fã de motos clássicas, mas também não gosta de se sentir limitado quando o asfalto acaba, conheça a Himalayan, uma trail honesta e diferentona.
Em novembro de 2016, estava no Salão de Milão, fazendo a cobertura das novidades para a MOTOCICLISMO, quando vi pela primeira vez a Royal Enfield Himalayan, que era lançada naquele evento para a Europa e Américas, com injeção eletrônica. A moto não era necessariamente uma novidade para nós, pois já havia sido lançada na Índia, base operacional da marca hoje, com três fábricas em Chennai, com a alimentação por carburador.
A trail é o primeiro projeto da atual gestão da marca, sob os cuidados da indiana Eicher Motors, e me deixou cheio de curiosidade em saber como era a experiência de pilotá-la. Dois anos e pouco após meu primeiro encontro com ela, chegou o dia de fazer um teste completo, gastar alguns litros de gasolina e tirar todas as dúvidas sobre esta clássica aventureira.
A ideia original
Antes de tudo, vamos relembrar alguns fatos diretamente relacionados com a criação da Himalayan. Na Índia, a marca é muito popular, vendendo quase um milhão de motos por ano! Lá, talvez mais tradicional do que a marca, criada em 1901, é o passeio de moto realizado anualmente para desbravar o Himalaia, um complexo de montanhas imenso onde fica o Monte Everest, apenas a montanha mais alta do mundo. Mas sem a Himalayan, como iam? Simples, com Bullet, Classic e uma dose de coragem!
Ou seja, era um grande desafio percorrer os desafiadores caminhos entre as montanhas com motos que não foram projetadas para isso. Posição de pilotagem, peso, respostas das suspensões e de motor não eram ideais para percorrer o Himalaia, mas… Vai dizer a um motociclista que a moto dele não é adequada para algo que ele deseja… Aí é que ele vai e faz!
Tirando o espírito aventureiro dos motociclistas que subiam o Himalaia de Classic — incluindo alguns brasileiros sortudos — a Himalayan foi projetada e inspirada nesse passeio/aventura. Uma moto robusta, para aguentar as quedas nas tentativas não bem-sucedidas de transpor obstáculos. Um motor que trabalha bem em baixa e média rotações, com bastante torque disponível logo cedo.
Uma posição de pilotagem mais confortável e uma moto mais leve, para poupar energia do motociclista. Um conjunto mais adequado a esse ambiente desafiador: roda aro 21” na dianteira, pneus de uso misto e suspensões que trabalham bem em qualquer condição. Pronto! Essa é a receita da Royal Enfield Himalayan. E a marca foi bem-sucedida em tornar toda essa ideia em uma moto real, uma clássica autêntica, para uso diário e em qualquer terreno. Esse é o diferencial da nova Royal Enfield, que vai ao encontro da febre das clássicas modernas, que parece só crescer entre os motociclistas no mundo.
Uma clássica que topa tudo
Sim amigo(a) leitor(a), já apresentamos aqui a Triumph Scrambler 1200, uma clássica bem aventureira. Mas sabemos que é uma moto que quando chegar ao Brasil custará mais de R$ 50.000, sem contar o custo salgado de manutenção. A Himalayan tem preço fixado em R$ 18.990 e peças com preço acessível. É a única clássica aventureira acessível, sem exageros ou como foi muito repetido no lançamento por quem a provou, uma trail sem frescura.
Mais uma vez, a Royal Enfield se posicionou em um nicho, um espaço no mercado onde não tem concorrentes diretas. Esse é um dos segredos do crescimento da marca no mundo, sobretudo na Índia. Nós colocamos obviamente a Honda XRE 300 e a Yamaha Lander ABS como concorrentes por serem o mais próximo da Himalayan disponível no Brasil. Talvez a agora extinta Yamaha Ténéré 250 seja a moto mais próxima, mas tem comportamento diferente. Leve, ágil, com menos torque em baixa e com mais velocidade final.
Durante o teste, seu visual atraiu olhares curiosos por onde passou. Durante o percurso, foram muitas perguntas sobre a origem dessa moto, o motor e seu comportamento em geral. Nos primeiros quilômetros com a Himalayan, uma adaptação a seu estilo e suas respostas. Seu motor de um cilindro, com 411 cm³, gira menos que as conhecidas XRE e Lander.
A 120 km/h em quinta marcha, está com cerca de 6.000 rpm, sem a sensação de estar forçando o motor, com a velocidade de cruzeiro em torno de 110 km/h. O motor lembra os de motos custom, com som grave, encorpado, girando em baixas rotações e bem cheio, respondendo rápido, desde a saída até cerca de 5.000 rpm. Acima disso, o peso cheio de 191 kg, cerca de 40 kg acima das trail XRE 300 e Lander, interfere no seu desempenho, “roubando” uns cavalos.
No seu painel, cheio de mostradores analógicos e informações em display digital — incluindo até uma bússola —, a velocidade máxima chega em torno de 130 km/h, enquanto os modelos Honda e Yamaha ficam próximos de 150 km/h.
Isso precisa ficar claro: a Himalayan tem respostas e comportamento diferentes das conhecidas trail. Esse motor tem balanceiro, diferente do motor 500 da Classic, o que reduz (e muito) as vibrações. O câmbio tem engates macios e durante o teste ficamos grande parte do tempo na terceira marcha, quando não estávamos na rodovia. A posição de pilotagem é ereta, bem natural.
O guidão é mais alto que das rivais em relação ao assento, então não é preciso instalar um elevador de guidão para pilotar em pé, posição natural de uso no fora de estrada. Seja em pé ou sentado, a pilotagem é natural, sem sustos. Sobre a ciclística, principalmente nas curvas, é preciso se acostumar. Após pegar o jeito, tudo fica fácil, estável, natural e prazeroso. Mais uma vez, deixou aquela lembrança do comportamento de motos custom.
A grande diferença para as outras clássicas vendidas hoje é que quando acaba o asfalto você continua em frente, com conforto, estabilidade e segurança. O fã de Ténéré 250, por exemplo, poderá amar ou odiar a Himalayan, porque, além do visual original, as sensações são diferentes.
O que esperar da Himalayan?
Tendo as referências de outras trail na cabeça, o peso extra incomodou. Eu esperava uma moto mais ágil, leve e fácil, tanto para percorrer os corredores entre os carros na cidade, como para pegar estrada ou me divertir na terra. No corredor, o peso atrapalha, limita a agilidade, mas, claro, acostuma-se. Na estrada, basta respeitar os limites de velocidade que ela entrega o suficiente, sem forçar o motor.
Já no fora de estrada, me surpreendeu bastante, pois a moto passa confiança. Na terra, os freios foram destaque, pois, com ABS nas duas rodas, eu esperava problemas nas ladeiras com pedras soltas, mas a calibragem está na medida. No asfalto, senti que o freio dianteiro precisa de mais força que o normal no manete para frear bem, lembrando que a moto tem flexível de malha de aço nas duas rodas, um diferencial. Nada que a desabone, afinal ela não é feita para andar sempre correndo. A Himalayan é como um vinho, você precisa degustar talvez mais de uma vez para apreciar o que ela oferece, sem ter pressa.
Conclusão
A Himalayan é uma moto que você ama ou odeia. Ninguém fica indiferente. A decisão de deixar o visual bem retrô é para manter o DNA Royal Enfield e não assustar os fãs mais conservadores. Sobre o desempenho, o motor é forte em baixa e média e falta um empurrão em alta, mas dentro dos 120 km/h vai tranquila, sem forçar, vibrar e com bastante conforto.
Seu conjunto pensado para cruzar o Himalaia é bem robusto, com destaque para a posição de pilotagem e suspensões. Muito além de opção para evitar roubos, apesar do peso alto, essa é uma trail honesta, uma clássica aventureira para usar todo dia.
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Fotos: Renato Durães