Aprender a andar de moto é um dilema? Ou não? Eu acredito que há pessoas que já nascem motociclistas. De dentro do ventre da mãe o futuro bebê já recebe a endorfina (o hormônio do bem-estar) pelo cordão umbilical das sensações de prazer que a motocicleta é capaz de proporcionar quando sua mãe passeia de moto, seja pilotando ou na garupa. É inevitável, assim como os bebês que ouvem música através da placenta, são influenciados pelos acordes musicais.
Não foi meu caso, talvez nem o seu, e o de inúmeros motociclistas que receberam influencia externa para se apaixonar pelas motos, seja ela de parentes ou amigos. Há também aqueles que desde muito pequenos (geralmente seguindo a paixão do pai) são colocados no mundo da motocicleta e aceleram as motos até se tornam profissionais, caso de famosos como Valentino Rossi e Marc Marquez, verdadeiros fenômenos sobre duas rodas (só para citar nomes que quase todos aqui conhecem), mas exemplos deste tipo há por todas as categorias e em todos os lugares.
A verdade é que, no meu caso, em casa ninguém gostava de motos (pelo menos explicitamente), mas meu pai, publicitário em meados dos anos 1970, tinha a conta da extinta fábrica de capacetes Induma, hoje pertencente à Taurus, e por conta de suas obrigações, estava sempre nos eventos no autódromo de Interlagos (fossem corridas de carro ou de moto), trabalhando para a marca e nos levava (a mim e a meu irmão) ao autódromo. Naquela época do antigo traçado, ele nos deixava brincando em um gramado do lado de fora da pista com vista privilegiada, apesar de segura e, de lá, entre uma brincadeira e outra, assistíamos às corridas e nascia minha paixão pelas motos e pelas corridas.
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A influência do peso sobre a motocicleta
Meu pai não faz (ou não fazia) ideia do tamanho de sua influência sobre minha paixão pelas motos (pelo menos eu acho que não), até eu começar a encher o saco dele para ter uma Mobilette, influenciado também pelos amigos que já tinham o ciclomotor, eu achei que seria um bom motivo de persuasão, mas o pedido nunca foi realizado. Enfim, muita coisa aconteceu até eu ter a minha primeira moto, uma DT 180 de trilha comprada em sociedade com um amigo, mas isso só depois de me tornar maior de idade. De lá para cá nunca mais as abandonei e o destino me deu a oportunidade de fazer da paixão, minha profissão.
Andar de moto é bom. É um veículo muito seguro, depende de quem está sobre ela para que o nível de segurança seja potencializado ou minimizado. É verdade que intercorrências podem acontecer, mas se o motociclista estiver atento e preparado tecnicamente, ele pode evitar a situação de risco ou, se necessário, poderá sair dela com habilidades que podem (e devem) ser treinadas.
Por que aprender a andar de moto?
Mesmo eu sendo parte interessada nas motocicletas, afinal gosto delas e trabalho com a informação sobre as mesmas, poderia encher várias páginas com bons motivos para você tornar-se um motociclista, mesmo com todo paradigma e pré-conceitos que as motocicletas e motociclistas sofrem. O maior dos estereótipos da moto é de que ela não é segura, discordo!
Faz muito tempo que meu veículo é uma motocicleta, quando por algum motivo tenho que utilizar um carro, luto para não me estressar e me transformar em outro ser, nem sofrer por ficar parado no meio do trânsito. Aliás este já seria um excelente motivo para ir e vir de moto: não perder tempo no tráfego urbano!
Você já deve ter visto, talvez até já tenha feito esta conta, imagine que você gaste uma hora e meia para se deslocar até o trabalho e outro tanto igual para voltar, multiplique isto por cinco dias e depois por quatro semanas! Para você não ter que fazer a conta (de novo) eu já fiz aqui, são 60 horas perdidas no trânsito por mês!
Dois dias e meio de sua vida desperdiçados entre os carros com todo tipo de estresse que isto gera. Alguns dirão que estão acostumados, ou que meditam para passar o tempo (acho difícil no anda e para), outros que escutam podcasts (deve funcionar melhor), os mais tranquilos vão simplesmente tentar se abster das loucuras do trânsito e outros inevitavelmente se transformarão em seres assustadores e raivosos, que nem eles mesmos gostariam de encarar.
O motociclista treinado e atento não passa o mesmo nível de estresse que o motorista de um carro, mesmo em vias com muito tráfego. É verdade que para um iniciante rodar por avenidas muito movimentadas pode ser estressante, por isso é necessário ganhar experiencia em vias secundárias para iniciar na pauleira das grandes cidades. Em trânsito intenso o motociclista se beneficia porque os momentos em que a moto fica parada no tráfego são infinitamente menores e, quase sempre, aparece uma brecha para sair adiante rapidamente. O motociclista inteligente não encara dúvidas que podem comprometer sua segurança, por isto posso afirmar que a moto é segura.
Há muito mais atributos positivos na motocicleta além da economia de tempo e dinheiro, ela também é capaz de gerar prazer e bem-estar. Há pesquisas que mostram que os motociclistas envelhecem de maneira mais saudável, com mais reflexo e o cérebro mais ativo por conta das exigências físicas e motoras inerentes à pilotagem das motocicletas.
Se você tem vontade, mas tem medo de andar de moto, sugiro que procure um curso de pilotagem para iniciantes para aprender as técnicas que vão lhe dar a confiança necessária para poder sair de moto. Vale a pena!
Ande de moto, experimente a sensação e seja responsável na pilotagem, eu garanto que a moto é um transporte inteligente, ecologicamente mais correto, rápido, seguro e muito prazeroso. Topa?
Ismael Baubeta é editor da Revista Motociclismo no Brasil. Motociclista há mais de trinta anos, fez da paixão pelas motos sua profissão.