Quando é a hora certa de modificar uma moto? Quase infinitas variáveis são consideradas pela engenharia de uma fabricante antes de alterar um modelo e ele chegar até você, motociclista. Na Yamaha, a trail Crosser (em português, “aquela que atravessa”), produto que estreou em 2014 e logo depois já foi oficializada como sucessora da XTZ 125, é fruto de três anos de projeto e ganhou nova versão no Salão Duas Rodas 2017, a “Z”.
O que muda? Cor, grafismo — mudanças rotineiras — e o para-lama dianteiro, que agora é alto, além de sanfonas nas bengalas, típica proteção de motos trail tradicionais. A carenagem do farol mudou também, mas é quase imperceptível… Mas o que motivou essa nova versão? Uma pesquisa da Yamaha apurou que faltava o para-lama alto para a Crosser parecer uma autêntica aventureira. Você pediu, a Yamaha atendeu. Simples assim. Claro que o para-lama alto deixa ela mais parecida com a rival Honda Bros 160, lembrando que a “antiga” Crosser, com para-lama baixo, segue viva, agora batizada de versão “S”, R$ 200 mais acessível que a versão avaliada aqui, vendida por R$ 11 490.
A moto segue ágil, leve, com uma pilotagem fácil, muito natural e nitidamente é projetada para rodar dentro da cidade. As respostas do seu motor monocilíndrico de 149,3 cm³ com injeção eletrônica flex e escalonamento curto do câmbio de cinco velocidades com engates “amanteigados” comprovam isso. É o mesmo propulsor que equipa Fazer e Factor 150, sem alterações, nem nas curvas de potência e torque, nem na relação de transmissão final. Durante o teste, praticamente o tempo todo de uso ela ficou em torno de 6 000 rpm no seu belo painel de fácil leitura, com grande conta-giros de ponteiro na esquerda e display digital na direita, incluindo o útil indicador de marchas. Desta vez, realizamos as medições apenas com gasolina, com boa média de 40 km/l. O rendimento usando etanol é 27% menor. No caso, ficaria em torno de 29 km/l, com um pequeno ganho nas respostas em média e alta rpm.
Na estrada, a moto dificilmente chega a 120 km/h, quando está em 8 000 rpm. Na medição no dinamômetro comprovamos que o mapa de potência, com pico de 10,3 cv, sobe linear e constantemente até cerca de 7 000 rpm, quando começa a cair, ou seja, ela é boa em baixas e médias rotações, mas “falta motor” em altos giros, quando está, por exemplo, na estrada, comprometendo o conforto e o prazer na pilotagem —pontos fortes dessa moto quando usada na cidade. Vale lembrar que a própria Yamaha tem a Lander e a Ténéré 250 no line-up, com bom desempenho para cidade e que ainda favorecem escapadas para outros destinos.
O sistema de freio segue inalterado: disco na dianteira e tambor na traseira. Esse último é o ponto negativo da Crosser 2018, pois esperávamos, pelo menos, ver na roda traseira o freio a disco, que tem melhor modulação e não perde eficiência com o tempo, como ocorre no tambor. Na unidade avaliada, sentimos o freio dianteiro bem progressivo, diferente de testes anteriores com o modelo, mas, ainda assim, garantindo a segurança no uso urbano. Trocar o flexível do freio por um com malha de aço é mais que reA moto está equipada com o Metzeler Tourance, pneu de uso misto coadjuvante da pilotagem ágil e prazerosa da Crosser. Em todas as condições do teste (asfalto seco e molhado, terra seca, com muita pedra solta e mato escorregadio) ele foi muito bem, passando a confiança que se espera durante a pilotagem. Se nos permite uma dica, não troque o modelo do pneu, pois esse Tourance parece feito sob medida para a Crosser.
Nas suspensões, garfo telescópico de 33 mm na dianteira e monoamortecedor com link na traseira. Ambos sem opção de ajustes, mas bem calibrados, garantindo conforto para enfrentar qualquer terreno. Com garupa, o comportamento da ciclística muda minimamente, prova do bom trabalho da engenharia. Já o motor perde um pouco do seu bom desempenho com o peso extra, problema comum em motos de baixa cilindrada, lembrando que o limite de carga é de 157 kg, somando piloto, passageiro e bagagens.
Para quem pensa em uma 150 da Yamaha, antes de ver Fazer e Factor, indicamos que faça um test ride na Crosser. As trail custam um pouco mais, porém são mais confortáveis e prazerosas de pilotar. Mas, cuidado, pois quem prova moto trail dificilmente muda de categoria…
Texto: Marcelo Barros
Fotos: Renato Durães