A indiana Royal Enfield está fazendo um importante esforço para se firmar como uma marca global, e o que aconteceu no Brasil é um bom exemplo disso, já que faz pouco mais de um ano contamos com uma concessionária da marca fazendo um trabalho sério, com várias ações apresentando a marca e seus produtos. O volume de produção da Royal é enorme e no ano passado a marca produziu cerca de 700 000 motocicletas em sua gigantesca planta na cidade de Chennai, na India. Mas a Royal Enfield não quer parar por aí e a maior prova disso é o Centro de Design e Desenvolvimento que eles têm na Inglaterra, fundado com o objetivo de criar modelos que atendam os gostos e necessidades dos motociclistas ocidentais.
A Himalayan é o primeiro fruto desse novo centro no Reino Unido. Trata-se de uma trail de aspecto muito robusto equipada com um novo motor monocilíndrico de 411 cm³ de configuração bem clássica, isto é, com arrefecimento a ar, comando simples no cabeçote (OHC) e uma caixa de câmbio de cinco marchas. Os números de potência e torque são 25 cv a 8 500 rpm e 3,3 kgf.m a 4 500 giros, respectivamente.
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É uma moto desenvolvida para suportar uma condição de utilização bastante dura em qualquer terreno. Para isso, conta com suspensões de longo curso, rodas raiadas de 21” e 17” e freio a disco nas duas rodas. Por outro lado, o design é meio “industrial”, pensado justamente para aguentar o tranco e que seja resistente a pequenas quedas. Assim, o farol dianteiro foi instalado mais elevado que o normal e nas laterais do tanque encontramos barras de proteção. O silenciador do escape, do lado direito, também é elevado. Considerando o seu porte e a proposta “heavy-duty”, a Himalayan não é tão pesada. Em ordem de marcha a marca divulga 182 kg.
Em linhas gerais, assim é a nova Himalayan 410, uma trail metade para o asfalto, metade off-road, que causou grande expectativa e está surpreendendo pelas vendas na Europa, onde tem preço fixado em 4 395 euros (pouco mais de R$ 19 500).
Como é andando
A Himalayan é um pouco alta e precisamos levantar bem a perna para passar por cima do banco e sentar nela. Uma vez realizada a operação, as coisas mudam e notamos a moto mais compacta, e não é difícil chegar com os pés ao chão. O banco é bem confortável e a sua forração é agradável. O acabamento geral é simples e bom ao mesmo tempo. Toda a fiação e cabos estão organizados e nenhum detalhe parece fora de lugar ou causa má impressão. Assim que pressionamos o botão de partida, o motor acorda de imediato, e a primeira coisa que chama a atenção é a ausência de vibrações em baixas rotações. O som grave é típico dos monocilíndricos, a embreagem é leve e a primeira marcha entra de maneira suave e silenciosa.
A primeira impressão é realmente boa. Manobrando a baixa velocidade notamos como a direção esterça bem e é fácil manter o equilíbrio. O tato geral também agrada, e aceleramos… A resposta é contida, mas constante, e como um bom monocilíndrico, o motor vai de mais a menos. Fica claro que ele não transborda potência, mas empurra de maneira bem aceitável, com uma primeira marcha curta, e nos leva com alguma sobra, tendo em conta que a sua velocidade máxima ronda os 130 km/h. Desse modo, o seu ambiente são as estradas sinuosas sem muitas retas e que nos permitem brincar com o câmbio de cinco velocidades bem escalonadas e de engates corretos. Em quinta marcha a 120 km/h o motor gira a 6 000 rpm e percebemos que ele não está muito confortável com isso, tanto pelas vibrações que chegam a nossos pés quanto pelo ruído mecânico que chega a nossos ouvidos. Pelo que comprovamos nesta apresentação, a velocidade de cruzeiro ideal são 110 km/h. A esse ritmo nos sentimos bem protegidos atrás do “escudo” formado por farol, painel de instrumentos e para-brisa, sendo esse último bem envolvente e que desvia bem o vento da área do capacete.
Moderna
Apesar do bem resolvido estilo vintage, a Himalayan funciona e se comporta como uma moto moderna. Com a colaboração da prestigiada Harris Performance no desenvolvimento do chassi e acerto da ciclística, o resultado é uma moto de comportamento surpreendente, tanto no asfalto quanto na terra. Os excelentes pneus Pirelli MT 60 ajudam muito nesse sentido, mas o destaque maior vai para as suspensões.
As bengalas dianteiras, apesar do grande curso de 200 mm, não resultam macias demais no asfalto e absorvem tudo no off-road, sem fim de curso, mesmo em ritmo forte. O monoamortecedor traseiro, com bieletas, também vai bem nos dois ambientes, transmitindo conforto e confiança para o piloto. No quesito freios, sentimos falta de um pouco mais de potência no dianteiro, o que obriga a nos apoiar mais no traseiro, contudo, nada que comprometa.
Se as cabeças lá na Índia conseguirem entender as particularidades de nosso mercado — que é diferente do europeu e ainda mais do indiano — ou, melhor ainda, souberem aproveitar toda a expertise do seu concessionário no Brasil (que vem fazendo um ótimo trabalho), a Himalayan tem todas as credenciais para fazer bastante sucesso por aqui. Tem preço, o produto é bom e chega para atuar em um segmento sem concorrentes diretos.
Primeira impressão
Sem grandes alardes, a Himalayan é uma trail interessante, bem desenhada em linhas gerais e com um funcionamento mais que correto. Está claro que é uma moto para ser curtida naqueles passeios sem pressa, seja por estradas ou por caminhos sem asfalto. Entendendo a sua proposta e que não se trata de uma maxitrail devoradora de quilômetros, ela pode levar você muito longe. O seu tato geral é bom, a caixa de câmbio funciona impecavelmente e o conforto é ótimo graças a um assento muito cômodo, a um para-brisa que nos protege bem e às suspensões que absorvem as irregularidades. Ainda que o design seja do tipo “ame ou odeie”, os acabamentos são bons e ainda trata bem o garupa, permitindo inclusive montar malas laterais opcionais.
Texto: Gabriel Berardi e Victor Gancedo
Fotos: Javier Martínez