A ligação com o passado é inquestionável, mas soluções tecnológicas fazem da Triumph Bonneville T100 uma boa opção para curtir o ir e vir.
Imagine-se parado diante de uma máquina capaz de levar qualquer pessoa maior de idade e habilitada a viajar pelo tempo. Neste caso, voltar ao passado, mais precisamente ao final dos anos 1950. Essa é a sensação ao ficar diante da Triumph Bonneville T100 Black, que, embora seja uma motocicleta moderna, possui ligação com o passado mais forte do que a qualidade de seus acabamentos e belo design insinuam.
A inspiração vem de um tempo em que o capacete tapava a calota superior do crânio e largas cintas de couro cobriam as orelhas para se juntar na jugular e servir como fecho. Naquela época, a comunicação na rua era feita através de telefones públicos, que por sua vez também serviam como referência de localização. Hoje nossos orelhões estão minguando, cada um carrega seu telefone no bolso e na era da comunicação digital é indispensável contar com uma tomada USB para carregar seu celular e outros dispositivos, acessório escondido sob o assento largo e confortável da T100.
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Se a versão bicolor da Bonneville já chama a atenção, a Triumph Bonneville T100 Black se destaca ainda mais. Os detalhes que não são negros saltam aos olhos, como o escudo no tanque, o acabamento em alumínio escovado no coletor de admissão, as aletas de refrigeração dos cilindros e os raios brilhantes. O farol redondo, a dupla de escapes em formato de flauta e as linhas gerais arredondadas reforçam a ligação dessa moto com o passado.
Ergonomia
Ao subir na moto você percebe que o banco é acessível — são 790 mm do chão —, e ficar com os pés apoiados é tarefa fácil até para os motociclistas de menor estatura. Como o aço é a liga principal dos ingleses neste modelo, a sensação ao girar o guidão e movimentar a moto parada é de que seu peso é exagerado, mas assim que você coloca a T100 em movimento essa sensação diminui a ponto de parecer outra moto.
O banco reto parece ter pouca espuma, mas a impressão visual não confere com o bom nível de conforto que oferece. A ergonomia é bem neutra, as pedaleiras têm recuo leve e o guidão ajuda na postura corporal, mantendo o tronco ereto, e a distância até ele permite pilotar com os braços semiflexionados confortavelmente.
Viajando no tempo
Vire a chave e espere forçadamente o tempo para a leitura e inicialização da máquina antes de dar a partida. Provavelmente você vai tentar a primeira vez e vai perceber que esqueceu de acionar a embreagem ou não esperou o suficiente para começar a escutar o ronco grave de seu motor bicilíndrico em paralelo, com arrefecimento líquido.
A embreagem é macia — engate a primeira e comece a viajar no tempo. Embora o nosso dinamômetro tenha indicado potência máxima na roda de 50,2 cv a 5.760 rpm (nada impressionante), o que mais chama a atenção nesta moto é o excelente torque, que começa lá em baixo e sobe quase verticalmente até os 7,5 kgf.m a míseros 3.140 rpm. O motor tem câmbio de cinco marchas, longas por sinal, o que o tornam bastante elástico, embora numa estrada sinta-se a falta de uma sexta, como overdrive.
As respostas ao giro do acelerador são rápidas em qualquer uma das marchas, exigindo pouco movimento do punho direito para aumentar o empuxo e a diversão. O controle de tração é bem-vindo em pisos de baixa aderência, mas caso você não tenha problema com derrapagens pode desligá-lo e ficar 100% no controle.
A vibração sentida em ponto morto se ameniza à medida em que você põe a moto em marcha e não incomoda, ao contrário do calor que você sente quando para nos semáforos ou no trânsito mais intenso.
Pula-pula
Se há algo realmente ruim na cidade de São Paulo é o pavimento. Parece uma cópia da superfície lunar impressa em 3D, mas mesmo assim as suspensões da T100 Black dão conta do recado, absorvendo os impactos e copiando honestamente os buracos e imperfeições das vias, sem transmitir toda a energia para o corpo.
A calibragem tanto do garfo dianteiro como da dupla de amortecedores traseiros é firme, mas sem prejudicar o conforto — e ainda há a possibilidade de ajustar a pré-carga da mola atrás. Os pneus Pirelli Phantom Sport são adequados para a proposta de conforto e transmitem segurança, mas não têm a menor característica esportiva.
Conferem suavidade para contornar curvas, mas por terem a banda de rodagem com uma curvatura muito discreta, fazem com que a moto acompanhe alguns desníveis do asfalto, fazendo-a desviar centímetros sua trajetória. Até você se acostumar com esses movimentos, a sensação não é das melhores.
Parada
Se as características visuais da Triumph Bonneville T100 remetem ao passado, seus atributos no comportamento dinâmico rompem com ele e fazem um bom papel na era digital. Outro quesito que merece destaque é o sistema de freios, bem dimensionado para as prestações de desempenho, com bom tato e potência de frenagem, mesmo contando com um único disco na dianteira.
O ABS não é muito intrusivo e é preciso ter muito pouca aderência ou o piso muito ruim para sentir o pedal ou o manete trepidarem com o acionamento do sistema.
As virtudes da Triumph Bonneville T100 Black são fortes, mas o preço do tíquete para esta viagem ao passado, de R$ 42.600 — preço em maio de 2019 —, a colocam em uma faixa onde há muitas opções. Excelente escolha se você quer uma moto de personalidade marcante e não está preocupado com outras opções na mesma faixa de preço.
Números da Triumph Bonneville T100 Black
No dinamômetro
Potência máxima: 50,2 cv a 5.760 rpm
Torque máximo: 7,5 kgf.m a 3.140 rpm
Potência específica: 55,7 cv/litro
Relação peso-potência: 4,2 kg/cv
Consumo no teste: 24,7 km/l
Conclusão
Esta Triumph é digna de ocupar uma vaga na sua garagem, mesmo que você não tenha ligação com a história da marca, com as motos clássicas, nem interesse em viajar para o passado. Seguramente, no primeiro test-ride que você fizer com a Triumph Bonneville T100 Black vai perceber o que estou falando.
A suavidade é a tônica, ao mesmo tempo em que você pode contar com o excelente torque para as mais diversas situações no dia a dia, esbanja estilo e o nível de acabamento é primoroso. Talvez sem essas ligações históricas ou de status, na mesma faixa de preço você possa considerar muitas outras opções de compra — é com você!
Fotos: Renato Durães
Edição do texto: Marcelo Barros