Se a Husqvarna Svartpilen 401, novidade no Brasil após a abertura da primeira concessionária pudesse falar, acredito que ela diria em alto e bom tom: “Eu não sou uma scrambler!” Eu explico. Ela é a urbana mais “acessível” da marca, vendida por R$ 49.900 e beira a perfeição no funcionamento de todos os seus subconjuntos.
Motor, chassi, suspensões e freios trabalham com uma sintonia digna de orquestra sinfônica e o melhor é que ela permite que tanto um motociclista sem pleno domínio das técnicas de pilotagem quanto um piloto tenham um passeio muito prazeroso e seguro com ela.
Vamos deixar claro uma questão sobre o seu visual, que sem dúvida é bem original: apesar do guidão mais alto que da Vitpilen 701 e dos eficientes pneus mistos Pirelli Scorpion Rally STR, seu melhor lugar é mesmo no asfalto, onde sobra desempenho — sim, com domínio, você vai se divertir com ela na terra, mas esse uso não é seu propósito principal e sim, um “extra”.
Essa foi a segunda moto mais bem acertada que já provei, depois da Triumph Street Triple 765 RS, que comparada a 401 é uma moto mais pesada, com respostas bem mais ariscas, menos confortável e que você tem que pilotar bem, para domá-la com segurança. Achou um exagero? Não é, tanto que fugimos do trânsito urbano e fomos para a estrada conhecer todo o seu potencial.
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Coração KTM com DNA bem diferente
A Svartpilen 401 apareceu pela primeira vez no fim de 2014, como conceito, bem mais off-road do que essa versão final, que é montada na Áustria, terra natal da KTM, marca dona da Husqvarna desde 2013. Diferente da KTM 390 Duke, moto que compartilha com a 401 o chassi e o motor, a Svartpilen é importada, e não montada em Manaus, com porcentagem de itens nacionais, para atender as leis brasileiras e ganhar em troca de redução de impostos.
A 401 é importada, por isso, bem mais cara, e tudo nela é 100% fabricado e ou montado na Áustria. É mais ou menos como dois modelos diferentes de carro que compartilham o mesmo chassi, mas um é popular e outro bem superior, completíssimo. Isso explica bem a diferença entre Duke e Svartpilen, e indo além na comparação, eu diria que se você quer esportividade, a Duke funciona melhor. Se quer uma pilotagem prazerosa, uma moto mais fácil de ser pilotada, com conforto e segurança, a Svartpilen é sim uma opção, se você puder pagar, claro…
O grande diferencial
A ideia da Svartpilen 401 é ser uma moto bem acima da média, com excelência em todos os quesitos que você puder imaginar como motociclista. Você poderia comprar outras motos por esse valor, poderia ter mais desempenho, mais cilindros, mais conforto ou até mais estilo, mas a receita da Svartpilen é algo inédito.
No primeiro contato, uma surpresa foi à altura do banco. Ela passa a impressão de ser uma moto baixa, porém, com 830 mm é digna de uma moto trail e isso pode atrapalhar motociclistas com estatura abaixo de 1,70 m. Com 1,83 m me acostumei rápido com o banco alto e poucos quilômetros depois já estava bem à vontade. A ciclística é de uma moto naked, estreita e muito esperta na mudança de direção, fluindo com facilidade no trânsito. A moto é bem leve, com 150 kg — de peso seco — e com um motor de 373 cm³ fortíssimo que garante suas doses diárias de adrenalina, modificado para ter mais torque em baixa rotação, bom para o uso na cidade.
O acerto da Husqvarna com essa moto foi entregar uma experiência de pilotagem bem prazerosa, mesmo se você não é um piloto de track day. O comportamento dos freios, com modulação que não intimida em frenagens bruscas, as respostas progressivas das suspensões, para garantir conforto e uma pilotagem sem sustos e as respostas do motor, que dá um “soco” quando supera os 7 000 rpm do pico de torque, aumentando rápido também seus batimentos cardíacos, apesar de ser extremamente linear e domável, tanto na cidade como na estrada, onde a baixa autonomia chamou a atenção, pois são apenas 9,5 litros no tanque. Mas fez boa média de consumo, com 23,2 km/l.
A 401 é daquelas motos que você precisa pilotar antes de morrer, que você escolhe o caminho mais longo, seja do trabalho ou de uma viagem, só porque estar nela é uma experiência muito, mas muito boa. Hoje, nenhuma oferece o que a 401 entrega, mas ela cobra caro por isso.
Ficha técnica
Motor monocilíndrico, arrefecido a líquido
DOHC I 4 válvulas I câmbio de 6 velocidades
Cilindrada: 373,2 cm³
Potência máxima: 43,5 cv a 9 000 rpm
Torque máximo: 3,77 kgf.m a 7 000 rpm
Diâmetro x curso do pistão: 89 mm x 60 mm
Taxa de compressão: 12,6:1
Quadro: Treliça de aço
Cáster/Trail: 25°/95 mm
Suspensão dianteira: Garfo invertido de 43 mm com 142 mm de curso, sem ajustes
Suspensão traseira: Monoamortecedor com curso de 150 mm, ajuste de pré-carga em 10 níveis
Freio dianteiro: Disco de 320 mm, pinça radial de 4 pistões (ABS)
Freio traseiro: Disco de 230 mm, pinça de 1 pistão (ABS)
Modelo do pneu: Pirelli Scorpion Rally STR
Roda dianteira: 110/70 R17 M/C 54H
Roda traseira: 150/60 R17 M/C 66H
Medidas
Comprimento • 2 030 mm Largura • 850 mm
Altura do assento • 835 mm Entre-eixos • 1 357 mm
Tanque • 9,5 litros Peso seco • 150 kg
Preço R$ 49 900
