Poços de Caldas
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Conhecendo a Rota do Vulcão em Poços de Caldas (MG)

9 Minutos de leitura

  • Publicado: 31/12/2023
  • Por: Ismael Baubeta

Fizemos um dos rolês de off-road mais bonitos do sudeste, em Poços de Caldas, Minas Gerais! Já havia escutado a respeito desse roteiro e nunca tinha conseguido encaixá-lo na agenda, mas dessa vez não escapou! E valeu muito os quase 1000 quilômetros que rodamos no total.

Vulcão em Poços? De onde vem isso?

Se ouve muito falar que a cidade mineira de Poços de Caldas esta dentro da cratera de um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento, mas isso é lenda! Ainda bem! Segundo o engenheiro Resk Frayha, estudioso da região, o que acontece é o seguinte:

Fotos: Trinity Ronzella/ Rafael Takassi

A área do vulcão é enorme. (Foto: Na boca do Vulcão)

Um tempinho atrás, cerca de 80 milhões de anos, a região de Poços de Caldas sofreu uma intrusão de rochas alcalinas, ou seja, com a movimentação intensa de rocha e magma no subsolo, somado ao rompimento da crosta terrestre, surgiram as montanhas, elevando em 500 metros a altitude da região. Com o resfriamento das rochas, o solo da região central sofreu um “afundamento” e deu origem ao Planalto de Poços de Caldas.

Estamos falando de uma área com 800 km² e 30 km de diâmetro, é muito grande. Durante muito tempo achou-se que se tratava de uma “boca” de grande vulcão oriunda de explosão mas, isso não se sustentou e hoje é definida como sendo de origem vulcânica.

Poços de Caldas

Não foram encontrados vestígios de lava vulcânica nos arredores das montanhas, o que seria natural se fosse um grande vulcão mas, algumas manifestações vulcânicas aconteceram dentro do planalto (foram encontradas 13 estruturas circulares), o que deu origem às internacionalmente famosas, águas sulfurosas e as riquezas minerais que formam o complexo alcalino de Poços de Caldas, tido como um dos mais notáveis do mundo.

Roteiro

Em nosso rolé parecia que estávamos rodando dentro de um vulcão, dado o calor que pegamos, para você ter uma ideia, algumas vezes a temperatura informada na moto beirou os 40ºC o que nos fez adotar uma conduta mais conservadora e efetuar mais paradas para hidratação, repor as energias e descansar.

Poços e Caldas

Fizemos o roteiro em dois dias pelo tempo ser curto mas, como passeio, o ideal seriam quatro  dias para aproveitar bem a região e tudo que ela oferece, vamos ao que fizemos. Detalhe: o roteiro todo é bem acidentado, as estradas são de cascalho, pouco movimentadas e a região é riquíssima em paisagens, mas sempre há surpresas.

Poços de Caldas
Foto: Fabio Castro

Nos encontramos um dia antes de começar no New York Pub, em Poços de Caldas (MG), uma casa noturna a dez minutos de caminhada do hotel, onde nos reunimos para curtir boa música e comer muito bem, em um ambiente muito legal e bem decorado.

Primeiro dia – Poços de Caldas – Caldas (185 km)

O início do roteiro começa na Represa do Bortolã, na entrada de Poços de Caldas e vai sentido São Roque da Fartura. Nesse trecho as paisagens do Vale da Grama, uma fazenda que produz um azeite premiado internacionalmente, uma igreja desenhada por Niemeyer, plantações de café, abacate, azeitona e pecuária, além de paisagens lindíssimas preenchem todo o trajeto.

Em determinado momento, o roteiro é o mesmo do Caminho da Fé por alguns quilômetros e, em outro ponto vai no sentido contrário, por isso, preste atenção nas setas do Rota do Vulcão que estão por todo o trajeto.

Seguindo para Águas da Prata uma placa de “estrada interditada” e “sem saída” nos surpreendeu. Curiosos e desconfiados, fomos conferir o que era e fizemos um curto, porém muito gostoso “single track. Mas se não tem experiência em trilha, melhor fazer a volta pelo asfalto, que é onde esse trecho nos leva para descer até o distrito de Cascata. Cascata foi palco de luta entre mineiros (produtores de leite) e paulistas (produtores de café), na revolução de 32, a conhecida Guerra Café com Leite, vencida pelos mineiros.

Poços de Caldas

O marco divisório da fronteira e a estação de Cascata estão lá, a caminho de Andradas que tem como atrativo a Cachoeira Ponte de Pedra e a Gruta do Indio. Fora isso, passamos em frente a Pico do Gavião e iniciamos uma longa decida para o Bairro do Óleo, antes de seguir para Ibitiura de Minas.

Poços de Caldas

Nesse trecho passamos por dentro de uma propriedade particular, tendo que abrir e fechar porteiras, o visual da Pedra do Elefante é um ponto especial que pode ser avistado por um longo trecho.
No caminho para Santa Rita de Caldas subimos a Serra do Sertãozinho e rodamos pelo topo da cadeia vulcânica com visuais da Pedra da Cruz, Pedra do Pântano e ainda, Pedra do Elefante.

Um fato chamou bastante a atenção com um grupo de cavaleiros pela estrada. Uma carroça que estava junto era responsável por levar a cerveja. Depois de bebidas pelos cavaleiros, eles as atiravam ao chão com a maior naturalidade. Formou-se um rastro de latinhas de cerveja por quilômetros. Lamentável ainda presenciarmos tal atitude. Nota: no roteiro há sempre um vilarejo a menos de 30 quilômetros.

Poços de Caldas

De Santa Rita de Caldas para Caldas, optamos por fazer um trecho extra que valeu muito a pena. Depois de uma subida longa de cascalho, avistamos a Pedra Branca. Ela está a 1.803 metros de altitude e sua origem tem aproximadamente entre 50 a 70 milhões de anos. O acesso a ela, se faz apenas a pé, mas o visual dela impressiona e a estrada desse trecho extra também é incrível.

Hospedagem

Terminado esse primeiro dia depois de 180km e mais de 9h20m, já no final do dia, chegamos onde iríamos nos hospedar, que foi outra agradável supresa!

Poços
Piscina do Grand Hotel Pocinhos

O Grand Hotel Pocinhos é o hotel mais antigo do Brasil em funcionamento sem interromper  atividade, foi construído em 1886. Você é recebido pelo seu Elias e sua esposa, a senhora Rossana, que são proprietários desde 1986 e, os responsáveis pela reforma que o deixou em ótimo estado. O conforto, a tranquilidade, a comida e excelente atendimento são as justificativas para chegar mais cedo e aproveitar a estrutura e os lugares especiais do hotel!

Segundo dia: Poçinhos do Rio Verde – Poços de Caldas  (194 km)

Depois de um café da manhã especial, servido pela senhora Rossana, O seu Elias nos mostrou algumas instalações do hotel e nos contou algumas histórias, foi uma pena interromper para seguir, mas era necessário.
Abastecemos as motos no posto em frente ao hotel e seguimos para Santana de Caldas por mais estradas tortuosas, bastante poeira e cascalho.

Poços de Caldas

O café e a pecuária são predominantes na região e, o gado leiteiro está presente também, por isso, vá atento, pois nós cruzamos várias vezes com o gado leiteiro na estrada mudando de pasto. Sempre o peão conduzindo um pequeno grupo de vacas.

Subidas e descidas, paisagens, pés de café, gado, esse é o cenário o tempo todo. Entre Santana de Caldas e Bandeira do Sul, estávamos na crista da montanha, o que nos dava uma vista privilegiada da Caldeira Vulcânica.

No sentido de Botelhos existem várias fazendas de café, uma delas, a Sertãozinho, é a responsável pelo Café Orfeu, para exportação. Na simpática cidade de Botelhos, paramos para nosso almoço e acertamos no lugar. A Cantina D. Onça tem um self-service ótimo e o atendimento é fantástico. A simpatia faz toda diferença! Fica a dica!

Poços de Caldas

Seguindo o roteiro, agora um trecho mais tranquilo, de relevo menos acidentado após Palmeral que nos presenteia com o visual da Represa da Graminha, já próximo a cidade paulista de Caconde.
Não tivemos tempo de parar mas, depois de Caconde,  tem a cachoeira da usina velha, é preciso passer a Baragem de Graminha e segu pelo asfalto até o Mirante de Caconde, vale a vista da paisagem que é incrível. Esse é o caminho para chegar a Ribeirão de Santro Antônio, um vilarejo com aproximados 500 habitantes.

Poços de Caldas

De volta à cidade de Poços de Caldas

A partir daí é a reta final para chegar à montanha do Cristo de Poços de Caldas. Fica do lado oposto da cidade e, a altimetria é de 700 mas em 8 quilômetros até chegar à rampa de vôo livre, que se encontrava em reforma quando fizemos a viagem.

Poços de Caldas
A turma da viagem, a amizade sempre se fortalece nas aventuras.

Fizemos nosso registro lá de cima do Cristo com um visual incrível e seguimos para a cidade de Poços de Caldas, para um merecido banho e descanso no Minas Graden Hotel, onde já havíamos dormido no início do passeio. Bem localizado, é fácil passear pelo centro da cidade sem depender de veículo.

A moto da viagem KTM 890R

Rodamos com a Incrível KTM 890R, uma moto que cumpriu com folga a missão, seja pelos quase 400 quilômetros de terra ou os 500 de asfalto. O conjunto de suspensões foram perfeitos e engoliram tod tipo de obstáculo sem pestanejar. Ela é uma moto fácil de se pilotar e seus ajustes eletrônicos e os comandos são muito intuitivos, facilitando a pilotagem. O motor é capítulo à parte, ele pode manter-se calmo se você quiser, mas se buscar emoção, basta acelerar para os batimentos cardíacos dispararem, sensacional. Com tanque de 20 litros  e mais de 20 km/l de média, não passei aperto.

Obrigado aos amigos que acompanharam: João Barion, Somone Barion e Rafael Takassi

Dicas

  1. As placas e setas do trajeto foram colocadas visando quem está de bike, a moto anda mais rápido e, muitas vezes não dá tempo de ver a placa, fique atento;
  2. As distâncias rodadas nesse roteiro são apenas uma referência, pois fizemos alguns outros trajetos além do roteiro;
  3. Ao se deparar com gado na estrada, pare a moto e espere que passem, normalmente é gado leiteiro, e manso;
  4. Um bom dia e boa tarde são sempre correspondidos e bem-vindos;
  5. Leve sempre água e algum alimento com você, pode haver imprevistos e o calor exige cuidados;
  6. Saia com o tanque cheio e reabasteça em Pocinhos do Rio Verde, dá tranquilo.
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