As marcas de motos falam sobre as vendas em 2021, mas com certa cautela. Em resumo, as notícias não são ruins e há um certo otimismo em relação ao crescimento. Afinal, estamos há menos de dois meses de encerrar este difícil ano de 2020 e o mercado de motocicletas vem se recuperando da queda sofrida em boa parte do ano.
Sem dúvida, a moto usada para o transporte e o scooter, com seu amplo recurso de mobilidade, puxaram o setor para cima. Apesar que as motos mais caras também tiveram pouco (ou quase nenhum) reflexo de queda este ano. Mas o grande volume de vendas está no mercado de entrada, seguido pelo de scooter, e estes dois cresceram significativamente. Um pelo aumento do sistema de entregas por delivery e, o outro, pela procura do consumidor por uma opção urbana de mobilidade, que também o poupasse das aglomerações do transporte público.
Veja também:
A audiência da Motociclismo cresceu ainda mais
Eis a Trident 660, nova naked da Triumph
Honda NXR 160 Bros: quase um tanque de guerra
É com essa imagem mais otimista que caminhamos para 2021, após entrevistar três executivos de importantes marcas desses segmentos. Escutamos Alexandre Cury, diretor comercial da Honda, que destacou o grande crescimento da CG: sozinha ela representa hoje 30% do total de vendas do país, segundo o profissional.
Hélio Ninomiya, gerente de Marketing, Product & Sales Planning da Yamaha, considera que a marca pode crescer até 15% no próximo ano, mas que isso depende de inúmeros fatores.
Também ouvimos José Ricardo Siqueira, gerente nacional de marcas da Dafra. Este executivo se mostrou bem otimista, projetando um crescimento de até 50% para 2021.
As perguntas abaixo estão sendo respondidas por ordem alfabética do nome dos executivos:
Faltam dois meses para encerrar o ano de 2020 e os números de vendas indicam um resultado nem tão ruim para o mercado de motos. Como vocês estão avaliando 2021?
Alexandre Cury (Honda) – O mercado de duas rodas vinha em um ritmo de recuperação em 2019 e a previsão para 2020, no início do ano, era de 5 a 10% de crescimento nos resultados, uma vez que a demanda estava aquecida. Entre os meses de abril e junho, no entanto, as vendas foram impactadas devido à suspensão da produção por cerca de dois meses e a restrição das atividades nos pontos de venda, em consequência da pandemia do Covid-19. No entanto, os resultados de vendas em agosto, setembro e outubro desse ano já registraram recuperação, com emplacamentos superiores ao mesmo período de 2019. A retomada ocorreu de forma mais acelerada do que prevíamos e a nossa expectativa é que esse cenário positivo se mantenha durante 2021. Estamos otimistas, porém cautelosos e ainda não definimos um número para o próximo ano. Existem incertezas no ambiente econômico, como a situação fiscal do país e o alto nível de desemprego, e a própria pandemia, que ainda não foi superada, e que pode seguir impactando a vida das pessoas no próximo ano.
Helio Ninomiya (Yamaha) – O mercado de motocicletas teve uma recuperação mais rápida que outros segmentos. Em setembro, por exemplo, as vendas varejo foram 13% superiores ao mesmo mês do ano passado, enquanto no segmento quatro rodas, o resultado foi 11% inferior ao mesmo período. Com esse ritmo de vendas, a nossa projeção é de que para o ano de 2020, as vendas sejam de 900 mil motocicletas, portanto, com uma redução de 15% em relação a 2019. Para 2021, a nossa projeção é de uma recuperação no mercado total de motocicletas com um crescimento aproximado de 15% em relação a 2020, mas que pode ser influenciado negativamente por uma segunda onda de casos de Covid-19, da instabilidade fiscal e de uma alta no desemprego, que afetam diretamente a recuperação econômica.
José Ricardo (Dafra) – O mercado de motocicletas reagiu de forma bastante positiva a mais uma crise. Considerando o cenário de fechamento do ano, com vendas em patamares próximos ao que planejávamos para um “período normal”, estamos projetando um crescimento de 50% para 2021.
Em 2020 os segmentos de motos voltadas para o trabalho e o da mobilidade foram os que mais cresceram. Dá para fazer uma projeção de quanto serão as porcentagens de cada um deles, até o final do ano?
Alexandre Cury (Honda) – A pandemia fez crescer a demanda de motocicletas voltadas para o trabalho, principalmente no segmento de entregas, e para a mobilidade urbana, dada a tendência de priorização de modalidades individuais de transporte, que evitam as aglomerações. A CG, o veículo mais vendido do Brasil, é um bom referencial para demonstrar essa realidade. O modelo é um dos principais veículos para trabalho e locomoção diária de milhões de brasileiros e no último mês teve uma participação de aproximadamente 40% das vendas totais da Honda e de 30% do total da indústria.
Helio Ninomiya (Yamaha) – Os segmentos de baixa e média cilindrada, que contemplam essa característica de uso de mobilidade e entregas, representam mais de 90% das nossas vendas.
José Ricardo (Dafra) – A Dafra não tem atualmente no seu line-up produtos que competem na entrada de mercado, portanto para nós a participação de vendas de motos voltadas para trabalho não é tão elevada. Podemos considerar que fecharemos o ano com aproximadamente 70% das vendas para mobilidade urbana e 30% para trabalho.
Em 2021 os segmentos de entregas e mobilidade voltarão a crescer ou foi algo localizado em 2020, em função do Covid?
Alexandre Cury (Honda) – Sem dúvidas, o segmento de entregas teve um crescimento expressivo e atípico esse ano em função da pandemia, que acelerou a tendência de mudança no comportamento de compra do consumidor que, com o avanço da tecnologia, já vinha migrando para modalidade on-line. É difícil prever como será 2021 em relação a demanda por serviços de entregas, até porque ainda não sabemos como será a evolução da pandemia no nosso país. O que é certo é que o e-commerce é uma tendência sem volta e que, no médio e longo prazo, essa modalidade de consumo irá crescer, e a motocicleta tem muito a contribuir nesse processo. Para o consumidor final ela possibilita o recebimento do produto com rapidez e baixo custo de frete. Para o empresário é um ativo fundamental para a eficiência da operação logística. E para o motofretista seguirá sendo uma ferramenta de geração de renda. Em relação à mobilidade, também vejo grande potencial. Cada vez mais pessoas têm reconhecido a motocicleta e o scooter como uma opção para o deslocamento diário, pela praticidade, agilidade e baixo custo, tanto nos grandes centros urbanos, para fugir do trânsito, como no campo, ou em cidades menores, onde dificilmente há infraestrutura de transporte público.
Helio Ninomiya (Yamaha) – Para o segmento de entregas, nós acreditamos que é uma mudança de comportamento que deve permanecer no futuro. A praticidade de receber em casa qualquer tipo de encomenda, é extremamente conveniente e está também atrelada ao crescimento do e-commerce e de aplicativos para entrega no mercado brasileiro. Outra tendência é em relação ao home office, que deve permanecer mesmo em uma situação pós-pandemia. Portanto, as pessoas devem continuar procurando por oportunidades de mobilidade que sejam práticas, convenientes e de custo mais baixo, já que não precisam se locomover tanto como antes. Sem mencionar, aqueles que querem evitar aglomerações e substituir o transporte público por um transporte individual e acessível.
José Ricardo (Dafra) – Acreditamos que a venda para entregas continue crescendo. Experimentamos uma aceleração forçada da dependência do e-commerce e isso não tem volta. Ainda devemos enfrentar um ajuste nas relações trabalhistas como consequência da pandemia, forçando também a mobilidade urbana, portanto a tendência é de que ambos os segmentos continuem com crescimentos importantes em 2021.
Acompanhe a MOTOCICLISMO também pelas redes sociais!
– Instagram – Facebook – YouTube – Twitter
Há planos de investimentos em novos produtos para o próximo ano? Em quais segmentos?
Alexandre Cury (Honda) – Seguiremos investindo continuamente no fortalecimento da nossa linha de produtos, com foco em oferecer a motocicleta ideal para cada perfil de cliente. Estão previstas diversas novidades em praticamente todos os segmentos em que atuamos, entre lançamentos inéditos e novas gerações dos modelos atuais. Temos uma estratégia de fortalecimento da marca no segmento de alta cilindrada, em que a motocicleta é voltada para a diversão e constitui um estilo de vida. Pretendemos também ampliar a nossa liderança do mercado de scooters, voltado para a mobilidade urbana e ainda sustentar a posição de líder absoluto entre as motocicletas de baixa cilindrada.
Helio Ninomiya (Yamaha) – Nossa política é de não comentar sobre produtos futuros.
José Ricardo (Dafra) – Acreditamos que toda a indústria tenha enfrentado algum atraso no desenvolvimento dos seus projetos previstos para serem lançados em 2020. Esses projetos tendem a ser postergados, acumulando-se com parte de outros que já estavam previstos para 2021, portanto entendemos que será um ano de grandes novidades. Para a Dafra não será diferente. Dividimos nossas estratégias nos segmentos de scooters e de motocicletas, uma vez que são mercados distintos, e em ambos planejamos apresentar novidades importantes.