Pouca gente pensa o quanto o peso interfere na dinâmica da motocicleta, basta colocar um garupa para perceber que o simples giro para driblar o trânsito já custa outro esforço para se fazer, imagine então uma motocicleta com os dois ocupantes mais sua bagagem, é preciso se adaptar a essas circunstâncias e saber que os limites também mudam. Por exemplo, os freios não terão a mesma pegada de quando se anda sozinho, por isso é bom ter calma, inclusive na hora de carregar a moto.
Um motociclista de 1,8 metro de altura e peso ‘normal’ (80 kg) equivale a mais de 50% do que pesa uma motocicleta pequena, por exemplo, a Honda CB Twister ou a Yamaha Fazer 250, que pesam aproximadamente 145 kg, portanto os movimentos que ele fizer sobre o banco, vão se refletir no comportamento da motocicleta, inclusive tirando-a da trajetória se estes movimentos forem muito bruscos. Dai a importância das técnicas de pilotagem, que ensinam a fazer movimentos suaves sobre a motocicleta, enquanto se pilota.
No carro se você estiver sozinho dificilmente sentirá reflexos de seus movimentos na direção ou no balanço do carro, agora, se você estiver carregado de passageiros e bagagens as mudanças serão mais sensíveis, lógico. O condutor de 80 kg em um Volkswagen Gol, por exemplo, que pesa aproximadamente 900 kg, não chega a 10% do peso do veículo, portanto a diferença neste sentido é enorme. Pode se mexer à vontade que o carro não vai sentir, a menos que no movimento se apoie e acabe virando o volante, pise no freio ou acelere sem querer.
Essa teoria toda é excelente e ajuda a prever certas situações, mas fui aprender sobre isto há alguns anos e lembro de algumas cagadas que fiz (sem nenhuma de vergonha, afinal era inexperiente) até aprender as técnicas, e meu papel como jornalista/motociclista é ajudar as pessoas para que não cometam os mesmos erros, ou pelo menos tentar que não o façam.
Foto: http://unavaraderotrotona.blogspot.com
Hoje sabendo da importância da atitude corporal na pilotagem de uma motocicleta, volto à longínquas festas de final de ano, ainda no século passado, em que decidi viajar de moto (uma Suzuki DR650 motard) para Minas Gerais, sozinho, levando um bocado de coisas sem a menor noção sobre o assunto. Hoje vejo como fui negligente.
Como passaria alguns dias por lá, além da roupa, levava mantimentos e duas ou três garrafas para as comemorações, que acomodei com dificuldade em uma caixa bem presa à grade traseira da moto, já que eu não tinha e nem pensava em comprar um top case, ou baú rígido (o que me teria ajudado muito). As demais coisas acomodei em uma grande mochila (aquelas enormes de Camping) que pendurei nas costas, santa ignorância!
Foto: https://www.revzilla.com (Spurgeon Dunbar)
Para resumir a história, entre o peso da mochila (que eu achei que não teria problema por estar apoiada no banco da moto) e a caixa na parte de trás ocupando parte do banco, depois de 50 km rodados já sentia as costas incomodando com a mochila literalmente me empurrando para a frente, a consequência foi sentir os braços que começaram a dar sinais de que sofreriam um bocado até o destino.
A viagem foi de pouco mais de 350 km e boa parte dela cheia de curvas, subidas e descidas, nas quais poderia ter me deleitado, mas acabei não curtindo o que poderia, pela dificuldade na pilotagem. Embora estivesse bem preparado fisicamente, cada curva exigia concentração e força extra por conta do peso nas costas, a mochila (enorme e pesada, ocupava toda minhas costas) pendia para o lado de dentro das curvas atrapalhando os movimentos, inclusive algumas trajetórias, sobrevivi!
Nessa viagem aprendi (pela dor) que o piloto tem que estar livre para se movimentar e poder pilotar totalmente solto e que a bagagem deve ir acomodada da maneira certa, inclusive pensada para distribuir o peso de forma organizada para não desequilibrar a motocicleta, seja nas curvas ou frenagens . Só quem anda de moto e já levou garupa, sabe a diferença que isso pode fazer, com peso extra ainda nem se fala.
Por isso não tenha vergonha, informe-se, faça curso(s), aplique os conhecimentos adquiridos e ande sempre bem equipado, isso faz toda a diferença e você vai rodar mais tranquilo e feliz. Boa viagem!