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Coluna da Ju Corguinha: viagem para começar 2024 e partilhar histórias!

13 Minutos de leitura

  • Publicado: 03/02/2024
  • Atualizado: 05/02/2024 às 7:40
  • Por: Redação

Na coluna anterior da Ju Corguinha falamos sobre planejamento de viagem. E na primeira de 2024 temos o desenrolar desta viagem: ao lado de seu maridão, Ju partiu em uma aventura com mais de 11 mil quilômetros rodados e cinco países visitados. Confira!

Inspirada, renovada e cheia de histórias para partilhar! É neste clima que retorno de uma viagem em que me aventurei por 11.417km, passando por alguns destinos brasileiros, além de Argentina, Bolívia, Chile, e Uruguai , Argentina, Chile e Bolívia em 28 dias de estrada em companhia do meu marido e da minha motoca.

No dia 1º de janeiro de 2024, antes mesmo do despertador do telefone tocar, os olhos já estavam abertos e a mente tentando conter a ansiedade que acelerava o coração. Era o dia de pegar estrada, de desacelerar o pensamento, de energizar a alma e de aquecer o coração com tudo o que estava por vir. As motos já estavam arrumadas, os percursos organizados dia a dia e a mente aberta para aceitar todas as mudanças que iriam acontecer. Essa era uma certeza! Afinal, o caminho é imprevisível e, por isso, o roteiro de uma viagem precisa ser adaptável para que ela seja prazerosa.

Geiser del Tatio, San Pedro do Atacama (Foto: acervo pessoal)

No primeiro dia, no percurso de Niterói à Curitiba, após a decisão de não passar na BR116 na altura de São Paulo, fomos surpreendidos com a linda paisagem da Rodovia Dom Pedro e da Serra Cabeça de Anta. Na serra, túneis verdes e ar puro. O visual desse trecho nos transportou para uma espécie de bolha no qual ficamos imersos até o final da viagem.

No segundo dia, tínhamos planejado rodar em torno de 950km. Acordamos com um dia lindo de sol, mas, a previsão do tempo era de chuva! No Google Maps, a sinalização que um trecho da rodovia estava interditado. E aí, lembra que o roteiro deve ser adaptável para a viagem ser prazerosa? Esse movimento já aconteceu nesse segundo dia! O desvio indicado nos levou a uma estrada precária e cansativa e não demorou muito para cair aquele pé d’água prometido! As roupas impermeáveis não conseguiram conter o volume de água, nem tivemos tempo de parar e colocar a capa de chuva, em pouco tempo, estávamos ensopados e com frio. Andamos cerca de 350km neste dia e fomos buscar um hotel para nos restabelecermos e descansar.

Ruta del Desierto, no centrão da América do Sul (Foto: Acervo pessoal)

Poderia contar a história dia após dia com a riqueza de detalhes que saltam na minha mente e ocupar todas as páginas dessa revista somente com essa viagem. No entanto, o meu desejo é contar sobre os principais desafios, medos e alegrias vividos nessa aventura. Com a história desses dois dias, já consigo demonstrar que a capacidade de “resetar” as expectativas e se reprogramar faz toda diferença para continuar. Não dá para sentir frustração por algo que não se pode controlar. Esse é um pensamento que deve estar vivo a todo instante dentro de nós e que aprendi com uma grande amiga.

Muitos momentos se destacaram como relevantes nessa vivência, iniciando pelas fronteiras, que apesar de termos toda documentação, trouxeram uma apreensão. Ao entrar no Uruguai, primeiro país visitado, um turbilhão de imagens captadas pelos olhos e faziam surgir várias perguntas e respostas, como:

  • “Cadê a placa de velocidade da via?”
  • “Ah! Essa é a sinalização da estrada onde podem ocorrer pousos de emergência de avião”
  • “Ops, polícia! Será que vai me parar?”

Aos poucos a euforia foi passando e tudo foi se tornando mais comum. O Uruguai é um país muito acolhedor e muito semelhante ao Brasil. É um bom destino para iniciar as viagens internacionais. Na Argentina, abrimos mão do acordo realizado entre eu e Marco, meu marido, de só ficar em cidades médias e pequenas para turistar em Buenos Aires e apreciar um belo show do tango! Valeu super a pena!

Foi após Mendoza, quando entramos na Ruta 7, com o cenário impactante das Cordilheiras, das montanhas de terras secas, de muitas pedras soltas nas encostas e das marcas da potência do degelo sobre o local que, por vezes, tirava o nosso olhar da estrada e insistia em ficar paralisado naquela paisagem, que realmente sentimos que estávamos em outro país.

Cordilera de la Sal, em San Pedro do Atacama (Foto: Acervo pessoal)

O Chile se aproximava e, com ele, um destino que seria um divisor de águas para minha viagem. A subida na estrada que nos levaria ao Cristo de Los Andes foi extremamente desafiadora, me trazendo uma explosão de sentimentos, mas, também, uma força impulsionadora para enfrentar os 280km de off-road na Ruta 40 que eu só conheceria mais a frente. Após esse grande desafio, os Caracoles chegaram para trazer a tranquilidade de um doce bailar.

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Subimos o Chile, apreciando a beleza do Oceano Pacífico até chegar ao Deserto do Atacama e a famosa Mano Del Desierto. Fomos à San Pedro do Atacama, onde encontramos dezenas de motociclistas brasileiros, o local se tornou um parque de diversões! Fizemos amizades, escutamos histórias, contamos também, foi especial! Após, entramos para a Bolívia por Ollague, um destino muito esperado por mim, fomos jurados por uma tormenta que rodeou, rodeou e se foi! Chegar ao Salar do Uyuni com a minha moto foi incrível! Ainda estou em êxtase de poder andar sobre o sal, ora seco como barro, ora solto como areia, ora molhado como uma laminha.

Coluna da Ju Corguinha: viagem para começar 2024 e partilhar histórias!
Nosso casal aventureiro curte a bela paisagem do Salar do Uyuni (Foto: Acervo pessoal)

Já era hora de começar a voltar, descemos pelo Norte da Argentina, pelas cidades apaixonantes daquelas que dá vontade de morar. E por lá, o grande desafio, andar 280km de off-road na Ruta 40. Passamos por trechos sem estrada, de rípio, de pedra, de areia, atravessamos muitos rios. Esse foi um momento que me fez sentir orgulho da pilota que construo a cada dia e me deu a certeza do quanto o off-road me realiza.

Coluna da Ju Corguinha: viagem para começar 2024 e partilhar histórias!
Abra del Acay, o ponto mais alta da Ruta 40 (Foto: Acervo pessoal)

Essa foi uma viagem idealizada por muitos anos, talvez, mais idealizada do que planejada, e que soma de uma forma inexplicável na minha vida. Conhecer novas culturas, novas histórias, novas pessoas, criaram em mim uma enorme e linda bagagem. Adquiri um novo olhar sobre o mundo, sobre o que quero, sobre a significância da vida. Não sou mais a mesma e essa transformação é magnífica.

Nesta viagem que acabei de contar, tive duas gratas surpresas, duas pilotas que somaram a este meu momento. Vamos conhecê-las!

Conheci a Lu (@Motocando.ES) quando ela estava retornando da sua viagem pela América do Sul. Saber que ela passaria por Niterói e teríamos chance de conversar, foi uma agradável oportunidade para trocar experiências. Nessa conversa, Luciana me inspirou com a sua história de vida, ela é uma mulher determinada, forte, alto astral, de muita fé e, a certeza de que é capaz, traz motivação para outras mulheres.

Luciana Patez tem 49 anos, é casada e tem 2 filhas. Tirou sua habilitação a 4 anos e é viajante a 2. Sua história começa com um sonho, não aquele sonho de sonhar acordado, mas com um sonho quando estava dormindo, quase que uma mensagem. Ela sonhou que estava viajando e pilotando sua moto! Nessa época, ela estava passando por um processo de recuperação de 3 cirurgias devido a um câncer no pé. Ao acordar do sonho, ela toma a decisão de comprar uma moto e tirar a habilitação logo que houvesse o diagnóstico de sua recuperação. Após 7 meses, o sonho se concretizou, então deu entrada na habilitação e comprou um scooter Honda Lead 110 ano 2008.

Luciana Patez no Chile (Foto: Acervo pessoal)

Ela começou a utilizar a moto para o trabalho, foi se apaixonando e logo já comprou um scooter mais nova. A independência e liberdade que a moto estava proporcionando, incentivava-a a querer mais. Viajou pelo seu Estado, conhecendo todos os municípios do Espírito Santo. Os projetos foram se ampliando, estava cada vez mais apaixonada por viajar de moto. Luciana iniciou as expedições para conhecer as capitais dos Estados, o Nordeste foi a primeira com as 9 capitais, veio o Sudeste e o Centro Oeste. Até que surgiu o desejo de fazer uma viagem internacional. A princípio, visualizou Argentina e Uruguai, mas, como disse em suas palavras: “Destemida e corajosa que sou, pensei: Se posso ir até esses lugares, também posso ir além!” Foi quando surgiu a Expedição 5 fronteiras!

De Kawasaki Versys 300, Luciana posa em La Mano, no Atacama (Foto: Acervo pessoal)

Com incentivo da família, Luciana entra para mais essa aventura, visitando 5 países e, na volta ao Brasil, concluindo o percurso por toda a BR 101, em 42 dias de estrada.

“Eu, a moto e a estrada, combinação perfeita! Não há melhor sensação do que fazer viagens solo. Todo o planejamento é feito por mim, são noites e madrugadas fazendo os roteiros, programando cada parada, cada trecho. Eu planejo desde a roupa, a luva, a bota, o perfume, a cor do esmalte e do batom até a manutenção da moto, a troca do pneu e a troca de óleo! Tudo é pensado e faz parte da organização da viagem! Isso faz sentido para mim e é o meu momento de cuidar de cada detalhe. Durante a viagem, depois de muitos kms, ter tudo como eu planejei, me faz um bem tão grande que a viagem flui em uma energia surreal, me reconectando com meu eu interior e me fazendo prosseguir a viagem com esses sentimentos bem palpáveis e afetivos. Assim sigo realizando meus sonhos!”, comenta Luciana, com os olhos brilhando.

Coluna da Ju Corguinha: viagem para começar 2024 e partilhar histórias!
A viajante Luciana Patez (Foto: Acervo pessoal)

Eu e Iris nos conhecemos na rede social, fazendo um planejamento de viagem muito parecido. Fomos acompanhando uma a viagem da outra, até que, sem combinar nada, nos encontramos no mesmo hotel em Antofagasta no Chile. Iris viajou com um casal de amigos. No roteiro, Argentina e Chile com seus destinos desejados por todo motociclista e, retornando ao Brasil, pela icônica Serra do Rio do Rastro. Vamos conhecer essa viagem emocionante que traz à tona uma mulher resiliente e uma pilota cheia de fibra, Íris Sanches.

“A subida para o Atacama foi um espetáculo à parte. De Salta, passamos por Pastos Chicos e Susques, cruzando o Passo de Jama. A cada quilômetro, a beleza e a magnitude da Cordilheira dos Andes se revelavam mais intensamente. No Atacama, exploramos pontos icônicos como o Gêiser, o Deserto de Sal e o Vale de la Luna. O retorno passamos por La Serena, onde tivemos um dia de descanso merecido. A viagem prosseguiu para Santiago, Mendoza – atravessando a impressionante rota dos Caracoles. O percurso final incluiu uma passagem pela espetacular Serra do Rio do Rastro”, conta Iris sobre o roteiro.

Coluna da Ju Corguinha: viagem para começar 2024 e partilhar histórias!
Íris Sanches e seus companheiros de viagem em La Mano (Foto: Acervo pessoal)

A viagem de Íris foi marcada por um conjunto de desafios que testaram a sua resiliência. A variação extrema de temperatura, que ia de frescos 12°C nas altitudes mais elevadas até um escaldante 46°C no coração do deserto e exigia roupas e acessórios adequados. Segundo ela, em alguns trechos, a chuva se apresentou como um obstáculo adicional, transformando a sua condução numa tarefa ainda mais desafiadora. O perigo mais inesperado, porém, eram os animais errantes nas estradas. Em vários momentos, conta que a pilotagem se tornou mais desafiadora quando tinha que reduzir drasticamente a velocidade para evitar colisões com a fauna local, o que tornava a viagem mais lenta, mas também permitia uma apreciação mais profunda da paisagem ao redor.

Coluna da Ju Corguinha: viagem para começar 2024 e partilhar histórias!
Íris Sanches em Caracoles, Chile (Foto: Acervo pessoal)

Íris traz dicas para quem deseja viajar: “Planejar embarcar em uma aventura, algumas dicas são fundamentais. Primeiramente, a manutenção da moto é crucial; uma revisão detalhada antes de partir pode prevenir muitos problemas na estrada. Além disso, é essencial verificar o tipo de estrada pela qual irá viajar. Saber se o caminho é predominantemente de asfalto ou terra é vital, pois dependendo das características da moto, algumas rotas podem ser inviáveis ou extremamente desafiadoras. A organização da bagagem é outro ponto crítico. Utilizar organizadores na mochila facilita o acesso aos itens necessários e otimiza o espaço. É também importante planejar paradas estratégicas em cidades turísticas com boa infraestrutura, permitindo descansar adequadamente e cuidar de necessidades práticas, como lavanderia. Outro aspecto crucial é o planejamento do abastecimento. É vital calcular antecipadamente os pontos onde você irá parar para abastecer, especialmente considerando o tamanho do tanque da moto. Uma pane seca em condições de temperaturas extremas e longas distâncias entre postos de combustível pode se tornar um problema sério. Por fim, estar sempre atento à previsão do tempo é vital para se preparar adequadamente para o frio ou calor extremo. Essas medidas, somadas a um planejamento cuidadoso, garantirão uma viagem mais segura e agradável.”

Segundo ela, a viagem foi uma jornada de autodescoberta e superação. Cada quilômetro percorrido ensinou-lhe algo novo sobre si mesma e sobre o mundo ao seu redor. Enquanto a exigência de concentração na estrada era constante, o tempo prolongado em cima da moto também se tornou uma oportunidade única para reflexão. A paisagem, em constante mudança, proporcionava o cenário perfeito para organizar meus pensamentos e contemplar sobre a vida. Foi uma experiência que transcendeu a mera aventura, tornando-se uma poderosa reflexão sobre a sua vida, a natureza e a interconexão entre nós e o mundo. As paisagens que ela testemunhou, os desafios que enfrentou e as pessoas que conheceu ao longo do caminho enriqueceram sua vida de maneira que nunca poderia ter imaginado. Esta viagem não foi apenas sobre cobrir distâncias, mas sobre percorrer caminhos interiores, trazendo lições e memórias que vou valorizar para sempre.

E, claro, ela quer deixar um agradecimento especial aos parceiros de estrada Marcos Araújo e Lourdinha Araújo: “Marcos foi o idealizador do roteiro, e a Lourdinha foi nossa garupa e fotógrafa oficial. Tantos dias juntos ajudaram a fortalecer nossos laços e aproximar nossos corações!”

Coluna da Ju Corguinha: viagem para começar 2024 e partilhar histórias!
Íris Sanches em Cuesta del Lipan (Foto: Acervo pessoal)

Diferentes formas de sonhar, de idealizar, de planejar, de realizar viagens! Todas as formas são válidas se estão de acordo com o que você deseja, que você acredita e que te faz feliz. Cada viagem sempre será única!

Motociclista desde novinha, Ju Corguinha é uma apaixonada pelo mundo do motociclismo, do motoclubismo e do mototurismo. Integrante do motoclube Guardiões do Raul MC desde 2007, ocupando atualmente a vice-presidência do clube, primeira mulher a ocupar uma função na diretoria e compõe a liderança do Motogirls, movimento motociclista feminino, desde 2016.

**A opinião dos colunistas não reflete necessariamente a opinião da revista.

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