Originalmente faríamos Chapada dos Veadeiros, Jalapão e Pantanal. Mas partiríamos mesmo sem hospedagem ou vaga nos passeios. Pra ajudar o disco de freio torto fez com que a viagem atrasasse mais dois dias. Ao contrário do que preconizamos em relação a planejamento, nossa viagem já começou errada. Correria de fim de ano, nada foi planejado, nem reservas, mas a expectativa sempre é grande.
Decidimos partir para a Chapada dos Veadeiros e fazer uma viagem literalmente de Destino Incerto. Para garantir o sono, o kit de camping foi no saco estanque. O primeiro desafio era tentar cruzar os 1.280 quilômetros que separam a chapada de São Paulo em apenas um dia. Para isso, resolvemos fazer direito dessa vez!
Texto e fotos: Tom Pederneiras
Edição: Alexandre Nogueira
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Tudo empacotado no dia anterior, moto abastecida, pneus calibrados, corrente lubrificada, café da manhã as 5 da matina e pé na estrada! Nela fomos disciplinados também com paradas a cada 200-250 quilômetros, uma parada rápida, só abastecimento e a outra mais longa, sem refeição, só lanches para não dar sono, velocidade moderada e constante para que o tanque rendesse mais sem ter que parar! E, o mais importante de tudo, bom humor sempre!
Foi um dia longo e direto, passou sem que percebêssemos. Cruzamos 4 fronteiras de estado em que paramos para fotos! Quando o sol encerrou sua jornada já estávamos próximos do destino e resolvemos registrá-lo também. A noite caiu rápida e o trechinho noturno foi agradável. Chegamos por volta de 20:00hs em Alto Paraíso de Goiás onde paramos no centrinho agitado para celebrar.
A beleza das cachoeiras da região
Nos hospedamos na Aldeia da Lua que fica afastada da cidade, quase na Vila de São Jorge. O trecho de terra cruzado para chegar à pousada ficou familiar e a parada à noite na lagoa para ouvir os sapos sob as estrelas se repetiu muitas vezes.
Quando o primeiro dia amanheceu percebemos onde estávamos: no meio da mata da chapada de onde brotavam chalés redondos cobertos por sapê, a piscina no meio parecia obra da natureza.
Empolgados, nos informamos rapidamente dos atrativos e seguimos para o parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Boa infra-estrutura, palestra educativa e logo estávamos na trilha para o roteiro dos saltos, oito quilômetros ao todo. O dia todo caminhando no meio da natureza com diversos atrativos. Primeiramente o mirante da incrível cachoeira Salto 120, depois o primeiro banho com direito a mordidas de peixes na Salto 80, a seguir, as corredeiras mostraram o poder das águas em uma formação espetacular no mirante do Carrossel, finalizamos com banho nas corredeiras com direito a jacuzzi e hidromassagem natural! No dia seguinte visitamos o Vale da Lua, ao lado da pousada. O cenário é único, lunar mesmo.
A água “criativa” esculpe as rochas de areia e desce criando caminhos incríveis. De tarde saímos sem rumo dispostos a seguir a primeira placa turística. Assim chegamos ao Poço das Esmeraldas. Lá depois de caminhar pelo descampado da chapada chegamos ao lugar que faz jus ao nome. Os tons de verdes e azuis da água são impressionantes e o banho irresistível. A noite curtimos um pouco mais da cidade Alto Paraíso. Mais um dia e resolvemos diminuir o ritmo da andança. Tomamos um café da manhã vegano na pousada Shantee, onde nos hospedamos em São Jorge e fizemos uma terapia com sopro de didjeridu, envoltos por cristais da chapada como exotérico Vinicius. Uma experiência singular e marcante, curtimos o trabalho dos cristais,como dizem por lá.
O dia em São Jorge é ímpar, a cidade respira o misticismo sincrético da chapada! Cristais de todos as cores e para todos os fins, incensos, extraterrestres, ervas medicinais indígenas, pinturas surrealistas e São Jorge sempre empinando seu cavalo, nos mantêm na mesma vibe.
Virada no quilombo Kalunga Dia novo e destino diferente! Resolvemos virar o ano no lugar mais improvável possível: o quilombo Kalunga, então seguimos para Cavalcante no norte do parque. A Triumph Tiger mesmo carregada com garupa e baús laterais se comportou bem no longo deslocamento de terra. O tempo não ajudou. Assim que a estrada começava a melhorar a chuva insistia em voltar e deixar a aventura mais divertida e melada. Os pneus Metzeler Karoo Street, montado na Varella Motos, fizeram a diferença. Na estrada não limitaram a tocada e na terra garantiram segurança. No quilombo o clima era bem diferente, calmo, rústico e simples, tudo que procurávamos. Virada de ano sem festa mas com céu estrelado sobre as ruas de terra.
No dia seguinte quebrei um tabu de quatro anos, visitei a cachoeira Santa Barbara que vale a fama que tem. O poço de águas azuis é impressionante, aproveitamos para um mergulho e filmagens em baixo d’água. Na volta a chuva nos abençoou com tudo e trouxe o frio, que só pôde ser esquecido com a comida do fogão a lenha do quilombo. A refeição saciou a fome e esquentou corpo e alma.
Despedimo-nos do quilombo e traçamos nosso roteiro com ajuda de um mapa para evitar as armadilhas dos caminhos da região. Decidimos passar por Brasília e visitar outra cidade que a tempo estava na lista. Goiás Velho, uma espécie de Tiradentes do Centro-Oeste, calçamento de pedras, casarões, muito artesanato e bares.
Entre peixes e macacos De lá seguimos para a Chapada dos Guimarães no Mato Grosso. E lá outra série de atrações: os belíssimos Mirante do Alto do Céu e Morro dos Ventos, as cachoeiras do parque, com destaque para o véu da noiva, além da flutuação com os peixes e a vista alucinante do alto da Cidade das Pedras. Foram dias ótimos hospedados na Pousada da Quinaria passeando com a guia Marina da equipe do Villa Guimarães.
Parecia que já tínhamos rodado o Brasil todo, mas seguimos para mais longe para conhecer Nobres. Lá encontramos com o Toninho que nos apresentou o Aquário Encantado, uma flutuação incrível em águas azuis. Além disso visitamos também o Reino Encantado e o Balneário onde presenciamos uma invasão de macacos. Entre rios e conversas nasceu um roteiro para outro tour envolvendo as chapadas e o Pantanal.
Estávamos bem longe de casa por isso dividimos a volta em partes. Passamos por Cuiabá e seguimos por ótimas estradas até onde o traseiro aguentou. Dormimos em Ribas do Rio Pardo, próximo a Campo Grande, foram quase 1.000 quilômetros. Então, de volta ao estado de São Paulo paramos em Pederneiras e por fim São Paulo.
As belezas naturais dessa viagem são incríveis, acredito que o mais especial tenha sido a realização de um tour de 5.000 quilômetros sem destino pelo Brasil. Uma viagem de aventura com muito off-road e acampamentos, conhecendo tribos diferentes que valorizam seu passado e vivem mais do que suas posses sugerem, basta a natureza e os famosos cristais. Um estilo de turismo encarado por poucos que realizamos em casal, curtimos cada quilômetro com curiosidade e alegria e os perrengues foram vivenciados como novos aprendizados.