Desde que foi mostrada no salão de Milão em 2018, a Yamaha Ténéré 700 estava em nossa mira para ser testada. Finalmente pudemos andar em seu lançamento na Espanha.
A nova Yamaha Ténéré 700 mais do que respondeu à grande expectativa que gerou nos últimos meses e deixou claro que a marca dos diapasões fez um ótimo trabalho. Empurrado pelo musculoso bicilíndrico da saga MT-07, tem uma estética muito autêntica que lembra as motos de rali. E seu preço justo para o que oferece é outra das suas grandes atrações. O cenário escolhido foi perfeito; durante dois dias completei quase 500 km no comando da nova off-road de média cilindrada da Yamaha, dos quais mais da metade no fora de estrada, mas todo o itinerário foi variado e se adaptou perfeitamente às características da moto.
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Além de bonita e do cuidado nos detalhes, a Ténéré surpreende pelo bom comportamento tanto em estrada como no campo. Ela é uma “trilheira”, recupera esse espírito de eras passadas, porém adaptada aos tempos modernos, com a eletrônica limitada ao ABS (obrigatório) que pode ser desligado.
A saga Ténéré começou em 1983 quando a Yamaha montou uma réplica da moto que competiu no Paris-Dakar. O nome foi escolhido por se tratar de um dos maiores desertos do mundo por onde o rali passava. Na configuração inicial foi monocilíndrica, passou a ter motor de dois cilindros paralelos (na XTZ750 Super Ténéré) e mais recentemente voltou ao monocilindro de 660 cc, até ser descontinuado. O nome também foi incorporado pela irmã maior XT1200Z Super Ténéré; são 35 anos de chancela que podem se multiplicar com este lançamento.
Como ela é
Embora elementos como o motor e outros componentes sejam “fabricados no Japão”, a nova Ténéré 700 é produzida na planta da marca em San Quintín, França. Os cilindros paralelos de 687 cc são os mesmos da MT-07, mas, com modificações nos sistemas de injeção e refrigeração, a caixa de ar é totalmente nova. O sistema de escape também é próprio e a relação final tem pinhão com um dente a menos (15). A fábrica declara 74 cv a 9.000 rpm e 6,9 kgf.m a 6.500 rpm; quase não há diferença com a MT-07. Com isso, ela é capaz de atingir 185 km/h. O chassi de berço duplo em aço também é diferente na Ténéré 700; os engenheiros procuraram a leveza, é compacto, estreito, robusto e, segundo a fábrica, oferece flexibilidade homogênea, pesando apenas 17,8 kg. O subchassi é soldado e está pronto para receber garupa e bagagem. A balança traseira é feia em alumínio reforçado. As suspensões são KYB, as bengalas invertidas têm barras de 43 mm e 210 mm de curso, tem os dois ajustes hidráulicos e inclui uma válvula para purgar o ar. O amortecedor de 200 mm de curso tem sistema progressivo e ajuste nas três vias, com um manípulo para regular a pré-carga da mola.
Os freios têm componentes Brembo: dois discos de 282 mm e pinças de dois pistões paralelos na dianteira. As rodas raiadas montam pneus com câmera nas medidas 90/90-21” e 150/70-18”, apropriados para encarar o fora de estrada mais intenso. Outros aspectos dignos de menção são o grande painel digital, estilo roadbook, o para-brisa e seus defletores laterais e o bloco óptico com quatro grandes LEDs. O tanque com capacidade para 16 litros pode render 300 km de autonomia com tocada de alto grau de adrenalina. Interessantes são os quatro ganchos para fixar bagagem na área do assento de passageiro, o protetor do cárter de alumínio e os estribos com borrachas facilmente removíveis. Outro detalhe digno de nota é a possibilidade de variar ligeiramente a altura do para-lama dianteiro para evitar problemas com a lama.
Acessível e agradável
Ao se aproximar dela, a altura impressiona, mas quando passamos a perna sobre ela e nos sentamos percebe-se que o conjunto estreito possibilita encostar as duas solas no chão se você medir cerca de 1,80 m. O motor dificilmente transmite vibrações e o som rouco que emana da ponteira de escape é lindo e empolgante. O funcionamento do câmbio de seis velocidades é outro ponto forte; a embreagem suave não me deixou sentir fadiga no antebraço.
O motor CP2 da Yamaha com defasagem de 270° é um propulsor exemplar, responde limpo em baixas rotações e empurra forte em giros médios, mas também é confortável quando estica até a faixa de corte perto das 10.500 rpm. O motor se adapta muito bem às características e aspirações da nova Ténéré 700.
Ténéré 700 para tudo
A ergonomia foi muito bem projetada tanto para rodar confortavelmente sentado por muitos quilômetros quanto para jornadas mais intensas em trilhas. Em movimento e com a ajuda do motor, outra virtude é a facilidade de manter o equilíbrio a baixa velocidade com os pés nas pedaleiras. O guidão largo e o espaço no banco nos deixa à vontade para pilotar sentado ou de pé. A boa proteção aerodinâmica protege cabeça, corpo, joelhos e mãos com eficiência, independentemente do ritmo da tocada.
O Pirelli Scorpion Rally STR nos faz duvidar de sua capacidade no asfalto, mas a desconfiança se dilui ao sentir a surpreendente aderência nas curvas, permitindo apoiar com segurança a moto nos trecho sinuosos e mudanças de direção agressivas sem problemas. A suspensão dianteira parece mole no início de curso, mas uma vez acostumado é possível manter ótimo ritmo, e a excelente capacidade de absorção permite ignorar qualquer obstáculo. A frenagem tem tato inicial carente de potência, reação premeditada para poder rodar no off-road, desconectar o ABS e evitar travamentos indesejados As mesmas boas maneiras com as quais ela nos brinda no asfalto também as oferece nas trilhas. Além disso, a Yamaha conseguiu que a mesma configuração seja boa em ambas as situações, podendo deixar uma e entrar na outra sem ter que mexer em nada. É verdade que os 204 kg são notados em estradas muito técnicas, e você também pode perder alguns pneus com tacos mais marcados, no entanto é uma moto muito bem preparada para qualquer ambiente.
Fácil conclusão
A Ténéré 700 deixou claro para mim que a espera valeu a pena. Além de ter alcançado elevado aspecto estético, tem conjunto completo e equilibrado. O motor tem pouca vibração mesmo em exigência máxima e responde limpo, sempre cheio em médias rotações. É muito confortável, com boa proteção aerodinâmica e facilidade na pilotagem, apesar dos 200 kg. As suspensões tem qualidade e funcionam bem, algo muito importante numa motocicleta de aspirações aventureiras. Some o preço atraente, fixado em 9.499 euros (cerca de R$ 47.000), não há do que reclamar desta moto.
Dados de fábrica
Motor bicilíndrico em linha | DOHC | 8 válvulas | câmbio de 6 velocidades
Cilindrada | 649 cm³ |
Potência máxima | 73,4 cv a 9.000 rpm |
Torque máximo | 6,9 kgf.m a 6.500 rpm |
Diametro x curso do pistão | 80 mm x 68,6 mm |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Quadro | Tipo Diamond em aço |
Cáster | n.d |
Trail | n.d |
Suspensão dianteira | Garfo telescópico invertido de 43 mm com 210 mm de curso, totalmente ajustável |
Suspensão traseira | Monoamortecedor a gás com curso de 200 mm, totalmente ajustável |
Freio dianteiro | 2 discos de 282 mm, pinça de 2 pistões (ABS) |
Freio traseiro | Disco de 245 mm, pinça de 1 pistão (ABS) |
Modelo do pneu | Pirelli Scorpion Rally STR |
Roda dianteira | 90/90 R 21 M/C (54V) |
Roda traseira | 150/70 R 18 M/C (70V) |
MEDIDAS
Comprimento • 2.365 mm
Largura • 915 mm
Altura do assento • 880 mm
Entre-eixos • 1.590 mm
Tanque • 16 litros
Peso • 187 kg
Preço: 9.499 euros
Texto: Victor Gancedo
Fotos: Yamaha