Apesar das críticas que recebeu por colocar um chassi de alumínio no lugar da tradicional estrutura de treliça, a Ducati manteve a filosofia original da Monster, só que agora o passeio é mais fluido e prático para o dia a dia
Texto: Claudio Corsetti
Edição: Alexandre Nogueira e Willian Teixeira
Fotos: Ducati
É preciso coragem para mudar um ícone, ainda mais se você se chama Ducati e quer revolucionar a motocicleta mais vendida na sua história, a Monster. Isso depois de ter eliminado o Motor V2 da Panigale e da nova Multistrada, além de mudar o chassi da Monster, o que colocou os fãs em fúria.
No entanto, a Ducati teve uma visão muito clara de seus modelos superesportivos de alto desempenho, que são e permanecem ícones para todos os fãs da “Ferrari de duas rodas”, oferecendo novas motocicletas que são cada vez mais fáceis de usar, utilizáveis e atraentes para a maioria dos fãs silenciosos, incluindo aqueles que nunca pilotaram ou ousaram pensar em uma Ducati como sua motocicleta de cada dia.
O segmento das naked é o mercado da maior importância, mas, que nos últimos anos, foi um tanto negligenciado pela Ducati. Muitos dos fãs hoje, iniciantes nas duas rodas, não conhecem a história da Monster. Eles não cresceram sob a influência dogmática da Ducati. Talvez em 1992, quando a primeira M900 foi lançada, muitos deles nem tinham nascido. Pode ser que, para eles, multitubular seja simplesmente um substantivo masculino, não uma religião. E se eles chegarem perto de uma Ducati hoje, terão direito à alma latejante que toda Ducati deveria ter, e encontrarão uma motocicleta moderna e eficiente, utilizável e confiável. Aqueles que criticam a nova Monster por ela ter tido o seu chassi multitubular de aço removido devem refletir por um momento e lembrar que a M900 de 1992 nasceu com a ideia de ser uma motocicleta nua para a rua que tivesse apenas o essencial, um motor e chassis derivados de corrida.
Evolução e revolução
Isso é exatamente o que encontramos hoje na nova Monster. Este modelo de 2021 tem um chassi frontal de alumínio fundido, exatamente como o da Panigale, e o motor “Desmo” Testastretta 11º. Em suma, o melhor da alma das corridas atuais da Ducati. Se adicionarmos a isso o aumento da capacidade do motor para 937 cm³, que o peso é de apenas 166 quilos a seco, e que tem sistema eletrônico semelhante ao de uma superbike, incluindo uma IMU de seis eixos, ABS de curva, controle de tração, modos de pilotagem e até mesmo controle de largada, vamos perceber que a nova Monster está muito mais perto da filosofia original da M900 de 1992 do que as três gerações anteriores. Multitubular ou não, esse não é o ponto. “Sim, mas parece uma motocicleta japonesa, não é uma Ducati”, argumentam os fãs mais apaixonados. Para alguns, mesmo assim, terá o defeito de ser uma Ducati moderna, melhor, e orientada para o futuro.
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Então tudo é novo, porque a Ducati queria o sinal de revolução forte e tangível. A nova Monster pesa 18 quilos a menos que a 821, dos quais 4,5 são devidos ao chassi frontal, 60% menos peso em relação ao de treliça. Também as novas rodas emagreceram 1,7 quilos, o braço oscilante diminuiu 1,6, e o subchassi traseiro também diminuiu 1,9 quilos, agora ele é fabricado com a nova tecnologia GFRP (polímero reforçado com fibra de vidro), um plástico reforçado, que, além do peso, economiza muito espaço, ajudando na ergonomia do assento do piloto.
O motor também emagreceu 2,4 quilos e, nesta nova edição, mantém os três modos de condução: Sport, Urban e Touring, que podem ser alterados através do painel TFT de 4,3 polegadas que tem o mesmo design do da Panigale. Sua potência aumentou alguns cavalos até alcançar 111 cv a 9.250 rpm, com um torque máximo mais generoso de 9,4 kgf.m em vez de 8,7 kgf.m, a apenas 6.500 rpm das 7.250 rpm anteriores. Respostas mais brilhantes com muito menos peso para levar. O que você acha que vai acontecer?
Um passo adiante
A primeira coisa que você nota quando monta na Ducati Monster 2021 é que, apesar de ser claramente mais compacta, também é capaz de ser muito mais confortável e hospitaleira. As pernas estão apertadas na cintura como nunca antes numa Monster, e não há mais canos de escapamento dispostos a queimar sua perna direita. Além disso, o guidão fica numa posição muito mais natural, 70 mm mais perto do assento. Você monta em um assento cuja altura você pode escolher entre 800 mm e 820 mm, e em apenas alguns metros você já tem uma ideia clara das diferenças substanciais de manuseio em comparação com a 821.
Na nova Ducati Monster, você fica muito mais focado na motocicleta, e você percebe imediatamente uma clara diferença de equilíbrio, um chassi mais dinâmico. Ela é muito mais reativa, mas também mais estável em alta velocidade, com uma frente que permite gerenciar seus movimentos de maneira mais intuitiva. Você sente que a roda dianteira é apoiada de forma mais consistente e segura quando vai contornando a curva, algo que se complementa com a sensação de apoio e empurrão da roda traseira nas saídas de curvas.
A entrega de torque é muito regular, o motor V2 da Ducati regula sua operação pouco antes de chegar a 3.000 rpm, e tem um primeiro curso de torque em torno de 4.000 rpm, depois cresce e muda o som entre 5.000 e 6.000 rpm, que é a zona em que o pico máximo de torque surge, e a partir daí acelera muito progressivamente até o limitador de corte, pouco antes das 10.000 rpm. Mas o bom é que, apesar de ser mais responsiva, precisa e fácil de levar ao limite, a Monster 2021 é muito mais adaptada para o uso diário, pois também deu um passo importante à frente no que sempre foi o calcanhar de aquiles da Ducati, o funcionamento do motor em baixa velocidade. Isso não significa que alcance a fluidez de ação de um motor japonês, mas está muito mais perto do que nunca esteve.
Só para dar um exemplo de melhoria do comportamento na cidade, o novo design do tanque de combustível permitiu o aumento de 7° no ângulo de direção em relação a 821 e você percebe quando tem que manobrá-la em espaços apertados ou fazendo retornos. Chega de empurrar para frente e para trás para manobrar, e, sim, é uma Ducati!
Mais pelo mesmo
Outra alegria vem quando você pergunta o preço, porque a Ducati Monster 2021 tem a agradável surpresa de ter o mesmo preço da anterior na Europa! Isso é 11.590 euros para a versão básica, 11.990 euros para a versão Plus, esta do teste. E ela difere porque tem uma pequena carenagem sobre o farol e a tampa de plástico que cobre o assento do passageiro para um estilo monoposto. Serão três cores disponíveis, a vermelha clássica da Ducati e a preta Dark Stealth, ambas com aros pretos, e a cinza aviador, com rodas vermelhas, que tem um acréscimo de 200 euros. E, como sempre, a lista de acessórios Ducati Performance é grande, inclui um silenciador duplo Termignoni com tampas de carbono, vários kits de adesivos para o corpo, e até um kit de suspensão que reduz a altura do assento para 775 mm.
INOVAÇÃO: O subchassi agora é feito pelo sistema GFRP (polímero reforçado com fibra de vidro) que, além de mais leve, permite moldagem complexa, isso possibilitou melhorar a ergonomia.
LEVEZA: A redução de peso foi substancial, as novas rodas emagreceram 1,7 quilos, assim como a balança entre outros de seus componentes, no total são 18 quilos a menos na Monster 2021.
CHASSI: Agora é do tipo dupla viga em alumínio, é mais leve, e sua concepção permitiu aumentar o ângulo de giro do guidão em 7°, melhorando as manobras em espaços reduzidos.
MAIS POTÊNCIA: O motor ganhou capacidade volumétrica, potência e eletrônica mais avançada, além de inúmeros detalhes para enquadrar-se nas normas Euro5, inclusive com novo percurso do sistema de escapamento.
Conclusão
A Ducati finalmente trouxe sua revolução particular para um de seus modelos mais populares e carismáticos. A Monster, o ícone da nudez e o espírito clássico da marca, com seu chassi multitubular como assinatura. A bandeira caiu, mas foi substituída por uma que é melhor, mais leve para pilotar, mais ágil e precisa. A nova Monster é uma motocicleta melhor e mais utilizável, que, com outros componentes, mantém sua própria identidade.