Disputa pelo trono que já foi britânico: as inglesas Triumph e Royal Enfield (hoje indiana) já brigaram nos anos 1950 para conquistar clientes e agora voltam a competir com modelos atualizados de desempenho digno dos novos tempos!
Texto: Alexandre Nogueira
Edição: Willian Teixeira
Fotos: Renato Durães
Triumph e a Royal Enfield fazem parte da categoria de motos clássicas modernas, com linhas e filosofia que evocam os tempos áureos do motociclismo britânico da década de 1960. Ao primeiro olhar elas são muito semelhantes e podem facilmente ser confundidas.
Tanto a Triumph Bonneville T100 como a Royal Enfield Interceptor 650 são dois exemplares que ilustram bem uma era do motociclismo nostálgica que agora vem sendo cultuada e é fonte de inspiração para customizadores e também um lifestyle. Pilotos atrevidos com seus penteados feitos com brilhantina enfeitavam o cenário onde as motos com motores de dois cilindros paralelos eram as rainhas dos cafés com quem os rockers praticavam o Ton-Up, a arte de preparar suas máquinas para ultrapassar a barreira das 100 milhas por hora, conhecida como Ton. Essa prática originou modelos híbridos curiosos como as Triton, de quadro Norton com motores Triumph, as Tribsa, de motores Triumph e chassi BSA, as Norbsa, com quadro Norton e motor BSA ou as Norvin, com chassi Norton e motor Vincent, numa busca desenfreada por mais desempenho e equilíbrio perfeito.
Tendo em conta as diferentes filosofias dos seus fabricantes e a grande discrepância do seu preço de venda, com a Interceptor 650 a custar R$ 20.000 a menos que a T100 (o modelo da Royal Enfield começa em R$ 24.990, enquanto a da Triumph parte de R$ 44.790), é de esperar diferenças substanciais entre elas.
Triumph Bonneville T100
Reeditada em 2002, a Triumph Bonneville T100 é um dos modelos mais bem aceitos por aqui, remonta à Tiger 100, um modelo de 1939, desenhado pelo mítico Edward Turner, e que mais tarde, em 1959, deu origem à primeira T100, modelo que, com algumas variações, se manteve em produção até 1973. Mas as semelhanças ficam no design da época, pois a quantidade de tecnologia embarcada está prodigiosamente camuflada sob as nostálgicas linhas de design e o excelente cuidado, nos mínimos detalhes, dos acabamentos.
A Triumph T100 proporciona um grande prazer ao pilotar, revelando-se extremamente fácil de conduzir e manobrar. O seu motor mostra uma grande regularidade de funcionamento, com entrega de potência surpreendente, mas perfeitamente gerenciável, e marcas de consumo bem contida na casa dos 20 km/l. Conta com controle de tração, sistema ABS nos freios, três modos de condução e um painel de instrumentos analógico com visor LCD completo.
Galeria: detalhes da Triumph T100 Black
O câmbio de cinco marchas é muito preciso e de engates suaves, ajudado por uma embreagem assistida que torna a manete muito leve. O sistema de freios é dos mais simples, com disco único na dianteira e na traseira, de funcionamento bem competente, permitindo uma boa dosagem do manete e do pedal. A suspensão enfrenta com maestria os pisos mais degradados, mantendo-se bem comportada também em curvas e frenagens mais fortes.
A ergonomia é perfeita para enfrentar a cidade ou as estradas com o vento a bater no peito, bem à moda de quem gosta de desfrutar de passeios relaxados. O conforto é reforçado por uma suspensão bem equilibrada e pelas já referidas ajudas eletrônicas à condução. Como bônus ainda oferece um ronco muito interessante a partir das carismáticas ponteiras de escape pea shooter, uma imagem típica do modelo.
Royal Enfield Interceptor 650
A Royal Enfield Interceptor 650 descende de uma linhagem igualmente nobre, já que a primeira versão deste modelo remonta à década de 1960, mantida em linha ao longo de dez anos. Claro que as semelhanças deste novo modelo com o seu antecessor, em termos de desempenho, são praticamente inexistentes, e apesar de a marca ter apostado na simplicidade como forma de conter os custos, nem o prazer de condução, nem a segurança foram minimamente sacrificados, e a Interceptor 650 revela-se extremamente dinâmica, fácil e muito prazerosa de conduzir.
O acabamento é honesto e não desilude, resumindo na perfeição o princípio de “a função define a forma”, sem dar preferência a tendências estéticas ou a detalhes de demasiado cuidado. Ela carrega apenas o essencial. O mesmo acontece em termos de equipamento, estando despojada de qualquer ajuda eletrônica para o condutor, com exceção do sistema ABS dos freios, fato que se reflete no painel de instrumentos que apenas oferece as informações básicas como velocidade, hodômetros total e parciais e nível de combustível.
Galeria: detalhes da Royal Enfield Interceptor 650
O motor refrigerado a ar entrega menos potência que o da Triumph, afinal tem menor cilindrada, mas em andamento disfarça bem a diferença com a ajuda do peso mais baixo e do câmbio de seis marchas que proporciona um melhor escalonamento que o da Triumph T100, que conta com cinco marchas bem longas.
O seu funcionamento é regular, e a entrega de potência é igualmente linear e suave, apesar da resposta imediata e sem hesitações ao acelerador, graças a um sistema de injeção e ignição assinados pela Bosch. A ciclística é suportada por um quadro desenvolvido pelos especialistas da Harris Performance que, a par com a suspensão dianteira convencional, mas bastante eficaz, promove uma condução bastante divertida e confortável.
Quanto aos freios, a Royal Enfield Interceptor 650 está também servida por um sistema assinado pela Brembo, ainda que na sua forma mais modesta, sob a sigla Bybre, de by Brembo, com disco único na dianteira e na traseira e cujo desempenho está perfeitamente ao nível do conjunto.
Condução confortável
A ergonomia é típica do gênero e prioriza o conforto, prejudicado apenas em altas velocidades pela falta de proteção aerodinâmica. No entanto, os comandos são leves e precisos. Por isso a Interceptor 650 presta-se mais a ritmos descontraídos. A sonoridade do motor, típica de uma ignição a 270 graus, tal como na Triumph, contribui para uma experiência de condução bastante agradável.
Podemos dizer que entre estes dois modelos há mais pontos em comum do que pontos diferentes. O conceito, a estética e a experiência de condução são muito semelhantes, e apenas em termos de equipamento e qualidade de construção, sobretudo ao nível dos pormenores, é que existem diferenças mais evidentes e que consistem, principalmente, no maior refinamento da Triumph. A maior potência do motor permite retomadas mais vigorosas e velocidades de ponta mais elevadas na T100, mas numa moto desse tipo, esses fatores podem não ser imprescindíveis.
A simplicidade e o menor preço da Royal Enfield Interceptor 650 pode ser bastante atrativa para os iniciantes ou para quem procura uma motocicleta estilosa como meio de locomoção. Ambas são excelentes opções para uma utilização diária, em ambiente urbano ou para ir espalhar charme em pequenos passeios pela cidade ou no fim de semana, e quem realmente gosta do estilo retrô ficará bem servido com qualquer uma delas.
PONTOS POSITIVOS
ROYAL ENFIELD INTERCEPTOR
• Pegada do motor
• Praticidade
• Leveza
TRIUMPH T100
• Ergonomia
• Design
• Eletrônica
PONTOS NEGATIVOS
ROYAL ENFIELD INTERCEPTOR
• Painel
• Rede de concessionárias
TRIUMPH T100
• Consumo em alta rotação
• Esterço do guidão
É fato que motores cheios de potência e torque agradam a todos, mas quando o assunto é pura e simplesmente mobilidade urbana, quesitos como facilidade de condução e economia de combustível são fatores preponderantes. A família Bonneville da Triumph é sensacional, tem torque de sobra, é bonita de se ver, mas é uma motocicleta de alta cilindrada e requer cuidados e atenção condizentes, tudo tem um preço. A Royal Enfield Interceptor entrega o que promete com maestria e não deixa nada a desejar quando se pensa em mobilidade com estilo, afinal é uma 650.
CONCLUSÃO – por Alexandre Nogueira
2º Triumph Boneville T100
1º Royal Enfield Interceptor 650
As clássicas modernas são sensação e têm arrebanhado uma enorme legião de fãs, não só pelo visual simples, elegante e divertido, mas também pelo ótimo desempenho que os motores bicilíndricos proporcionam. A Triumph Bonneville é a precursora das clássicas modernas e tem uma construção mais refinada, mais eletrônica embarcada e motor com alto torque, mas também é mais pesada e um pouco mais difícil de pilotar. A Interceptor chega com uma proposta de fácil acesso, de aquisição e de condução, pois o menor peso torna a vida mais fácil para iniciantes, mas também é muito prazerosa para os mais experientes.
A intenção de ambas é agilizar o dia a dia com classe e personalidade. Como elas são muito parecidas no visual, eu escolheria a Interceptor (apesar da nota final menor) simplesmente por ser mais em conta (questão de bolso) e também por agradar ao girar o acelerador. Com ela me senti mais à vontade serpenteando no trânsito, com a diferença do dinheiro, pensaria em instalar acessórios para deixá-la com a minha cara, a Triumph dispensa acessórios pelo nível de acabamento.