No mundo das motocicletas artesanais, poucas máquinas conseguem ser tão intimidantes e fascinantes quanto a FGR 2500 V6 Midalu. Fruto do sonho do engenheiro tcheco Miroslav Felgr, esta naked monstruosa não busca a eficiência das pistas ou a praticidade urbana; seu objetivo é o excesso. Exibida pela primeira vez no Salão Intermot em 2016, a Midalu é uma declaração de força bruta e engenharia personalizada que parece ter saído de um filme de ficção científica.

O elemento que paralisa qualquer observador é o seu motor. Trata-se de um exótico V6 de 90° transversal com 2.442 cm³. Com refrigeração líquida e 24 válvulas, este bloco colossal entrega o que os criadores chamam de “uma das maiores potências do mundo”, e embora os números exatos de cavalaria sejam mantidos sob um véu de mistério, a presença de dois silenciadores gigantes com seis saídas de escape deixa claro que não estamos falando de uma moto comum.

Ciclística de luxo: entre o alumínio e o carbono
Para sustentar tamanha mecânica, a FGR buscou inspiração em outra excentricidade europeia: a Ariel Ace. A Midalu utiliza um chassi multitubular do tipo Trellis, reforçado no topo por um tanque de combustível de 18 litros feito de materiais compostos. O braço oscilante é uma verdadeira obra de arte da usinagem, fabricado a partir de um bloco sólido de alumínio, garantindo rigidez para suportar o torque brutal do V6.
A atenção aos detalhes é obsessiva. A moto conta com 29 componentes em fibra de carbono, incluindo partes da carenagem e da estrutura traseira. No entanto, o motor V6 cobra seu preço na balança: a moto declara 262 kg e uma distância entre eixos de 1.545 mm, o que a coloca longe de ser uma máquina ágil ou manejável para iniciantes. É uma moto de “músculos”, feita para retas infinitas e uma presença de palco inigualável.
Componentes de grife e customização total
A FGR não economizou na “armadura” da Midalu. Para garantir que essa fera pudesse parar e curvar, a marca recorreu aos melhores fornecedores do mercado:
- Suspensão: Garfo invertido e monoamortecedor Öhlins totalmente ajustáveis.
- Freios: Pinças radiais Brembo de quatro pistões mordendo discos duplos de 320 mm na dianteira.
Um detalhe curioso e quase irônico é o seu farol. Apesar de toda a sofisticação e fibra de carbono, a Midalu utiliza o conjunto óptico convencional de uma Yamaha MT-03 de 2015, um toque de simplicidade em uma moto que custa pequenas fortunas.
O projeto da FGR 2500 V6 Midalu foi concebido como um traje sob medida. Cada unidade era fabricada artesanalmente levando em conta as medidas antropométricas do proprietário e suas preferências de ajuste de suspensão. Mais do que uma moto, a Midalu é um monumento à engenharia mecânica tcheca e um lembrete de que, para alguns, 2.500 cm³ e seis cilindros são apenas o começo da diversão.
O submundo das artesanais: Boss Hoss e Arch Motorcycle
Para elevar o nível de “insanidade”, precisamos olhar para a Boss Hoss, que usa motores V8 da Chevrolet (LS3) de até 6.200 cm³. Comparada à Boss Hoss, a Midalu parece uma bicicleta. Por outro lado, se olharmos para a Arch Motorcycle (de Keanu Reeves), vemos uma abordagem parecida com a da FGR: componentes de grife (Ohlins, BST) e construção artesanal, mas com motores V2 enormes da S&S.
A FGR 2500 V6 Midalu é o que chamamos de “unicórnio mecânico”. Ela não vence a KTM 1390 em uma estrada de montanha, nem supera a Rocket 3 em valor de revenda ou rede de assistência. Ela também não tem a “mística de Hollywood” de uma Arch.
A Midalu é para o colecionador que já tem tudo. Ela vence no quesito audácia técnica. Ter um V6 transversal entre as pernas é uma experiência sensorial que nenhuma outra moto desta lista consegue replicar. É uma obra de arte tcheca que prioriza o “eu tenho o que ninguém conhece” acima de qualquer cronômetro ou ângulo de inclinação. É a moto para quem não quer apenas chegar, mas quer que o mundo pare para ouvir o rugido de seis cilindros.