<p>O que começou como uma brincadeira vagarosamente tomou vulto de insanidade sem precedentes. Prepare-se caro leitor para conhecer um relato comportamental de puro terror… Com o dedão direito empurro o botão do pisca para a esquerda e ele começa… um… dois… três… faço a curva… continuo olhando a luzinha piscante com minha visão periférica… quatro… cinco… desligo. Inferno! Pisco um número ímpar de vezes. Empurro o maldito botão de novo e espero um único relampejo do pisca. Pronto, agora está tudo em ordem. No começo era apenas uma simpatia, uma brincadeirinha, hoje é quase uma necessidade. Há dias piores que outros, mas pelo menos uma vez por dia ocorre. É fatal! Não falha. Quase patológico.</p>
<p>Voltando à superstição: e quando o pisca não completa a piscada inteira? Eu desligo o instrumento no meio da piscada e interrompo a luz acesa: “Pisca…Pisca…Pis.” Este é o caso mais complexo e aterrorizante, pois tenho que produzir outra interrupção quando a luz estiver acesa para conseguir o desejado “…ca” e tudo voltar a ficar bem. Ainda bem que nenhum guarda de trânsito sabe que me ocupo com esse exercício infernal. Relampejo de farol alto também deve seguir o mesmo princípio de paridade e mesma intensidade. Aí posso seguir em frente tranquilo.</p>
<p><img alt="" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/textomoto6_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Esse fenômeno visual acontece nas vias sonoras com a buzina. Se no cruzamento pressiono o botãozinho a produzir um “biiii… bii”, as coisas voltam a ficar desbalanceadas… preciso de outro “bii” que, associado com o segundo “bii”, pareia com o primeiro “biiii”. Entenderam a matemática perversa da coisa?<br />
Na mecânica essa “brincadeira” séria se manifesta ardilosamente nos riscos brancos de ultrapassagem que desenham as faixas das ruas. Se passar por cima de um tenho necessariamente que caçar o próximo e passar por sobre este com a mesma intensidade com que passei pelo primeiro. No farol às vezes apoio com o pé direito e o pé esquerdo ao mesmo tempo, aí, tudo bem, mas se ficar alternando entre direito e esquerdo, tenho que contar quantas vezes cada um encostou no chão. Regular isso pode causar protestos dos motoristas atrás de você, mas calma… eles não entendem nada sobre mecânica quântica, sincronicidade nem de programação neurolinguística.</p>
<p>Minha terapeuta diz que isso se agrava nos meses que precedem a renovação da minha carteira de motorista (mês que vem). Sabedor disso, ganho uma boa justificativa para não repreender os insanos comportamentos. <span style="line-height: 1.6em;">Portanto, amigón, se você vir uma moto com o pisca-pisca ligando intermitentemente, buzinando como louco e zanzando de um lado para outro sobre as faixas da rua, saiba que sou eu, fazendo com que minha mente e o Universo fiquem em equilíbrio pelas ruas da cidade. Deus me ajude no teste psicotécnico.</span></p>
<p>Keep riding!</p>