<p>Em 2014, a Circuit Equipamentos, empresa brasileira de maior sucesso no mundo do motociclismo, comemorou 30 anos de existência. Conversamos com Renato Edmundo Breda, o fundador da marca, sobre o começo dessa história, o futuro, o atual momento do mercado e as diferenças entre a cultura motociclística de europeus e brasileiros. Confira!</p>
<p><strong>Motociclismo – Em 2014 a Circuit comemorou 30 anos. Como isso começou? Paixão por motos ou mero acaso?</strong><br />
Renato Breda • Ainda moleque eu já era absolutamente pirado por motos! Ia às lojas e enlouquecia com as Garelli, assistia a algumas corridas e ficava louco. Sempre tive paixão, mas a condição financeira não me permitia ter nada! Com a primeira grana que tive comprei uma moto, na verdade, uma encrenca (Lambretta 1976), mas fui evoluindo. Vendia xícaras de porta em porta, mas sempre com paixão por motos. Um dia fui pedir emprego na WT (antiga marca de equipamentos off-road). Virei vendedor no interior de SP e comecei a fazer meu itinerário de acordo com o calendário do Paulista de Motocross. Foram dois anos vendendo WT e xícaras, até que comecei a fabricar meu primeiro produto, um number plate. A inspiração veio da galera que corria com as DT e usava uma tampa de Tupperware para colocar o número da moto. Vi uma oportunidade, e como tinha experiência com plástico, a coisa começou. No início não pensava em fazer uma empresa, e sim apenas uma graninha extra, mas começaram a me pedir nota fiscal, para isso precisava de uma empresa, de uma marca, ao mesmo tempo desenvolvi uma manopla, e assim nasceu a Circuit, com “fábrica” e escritório na sala de casa.</p>
<p><img alt="Renato Edmundo Breda, sócio da Circuit Equipamentos" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/texto1_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p><strong>E da pequena sala, hoje, 30 anos depois, há uma fábrica em Pindamonhangaba, uma na Itália e uma nos Estados Unidos, é isso?</strong><br />
Felizmente. Hoje estamos em 40 países atendidos diretamente pela Circuit, fora os importadores. A unidade de San Diego, nos EUA, abriu agora em um pequeno galpão. Lá, vamos trabalhar com uma marca nova, a C84, até para evitar problemas com a Pro Circuit, uma marca que não tem nada a ver conosco. Não seria legal, muito menos simpático.<span style="line-height: 1.6em;"> </span></p>
<p><strong>Essa marca será usada só nos EUA?</strong><br />
Como a marca nasceu e todo o desenvolvimento está sendo lá na Califórnia, pretendo vender no mundo inteiro, inclusive no Brasil, mas como uma marca californiana. Vamos usar todo o know-how da Circuit na C84, mas fizemos novos moldes e saímos com uma linha menor, justamente para não dar um passo muito grande.</p>
<p><strong>A Circuit é a única empresa latino-americana patrocinando categorias e pilotos em nível mundial. O apoio às competições traz algum retorno no aprimoramento de produtos ou é mais pela vontade de incentivar o esporte?</strong><br />
Além de algumas equipes e pilotos em diversas categorias do off-road, patrocinamos todo o Mundial de MX nos últimos três anos e acabamos de renovar por mais três. Patrocinamos o Six Days do ano passado e também o Thomas Chareyre, atual campeão mundial de Supermoto. Tudo isso é pela paixão, é pela vontade de participar. É muito legal ver nossa marca na moto campeã mundial. Neste ano, além da SM, também tivemos dois títulos no enduro, com a equipe Beta. Não é só dinheiro, mas muito também de relacionamento. Desde 1987, estamos construindo, tijolo sobre tijolo para não fazer bobagem, e o muro cair. Patrocinando os pilotos, você começa a ir às provas. Indo às provas, os caras começam a lhe fazer comentários sobre o produto: “e bom, mas é muito grande, é bom mas podia ser redondo etc.”. Sempre filtrando o que é só gosto pessoal do cara e o que pode servir para o mercado. Nesses 30 anos não lembro de ter feito algum produto que eu não goste, do tipo “faço porque vende”. Cansei de recusar ofertas de fazer coisas ridículas porque os caras queriam usar a marca Circuit em produtos que não tinham o DNA Circuit. Não tenho como filosofia emprestar a marca. Talvez eu mude de ideia algum dia, mas enquanto eu puder levar desse jeito, assim será.</p>
<p><img alt="" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/texto_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p><strong>E como toda essa visibilidade nas pistas se reflete nos negócios? </strong><br />
Este foi um ano de muito investimento em marketing, mas a Circuit dobrou o faturamento em 2014. Especialmente na Europa, o negócio começa a ser reconhecido. O europeu dá um tremendo reconhecimento a quem está envolvido nas competições. Sabem diferenciar os oportunistas de quem realmente ajuda o esporte. Além disso, se você está fazendo alguma coisa diferenciada e as pessoas estão gostando, é natural se tornar uma referência, ainda mais se o produto tem qualidade e entrega melhor desempenho. </p>
<p><strong>Podemos dizer que essa é uma das grandes diferenças entre a cultura motociclística dos europeus e dos brasileiros?</strong><br />
Sim, nesse sentido a diferença é absurda entre Brasil e Europa. É cultural. Na Europa os fãs são mais numerosos e apaixonados. Aqui (na Itália) o cliente chega pedindo um produto porque viu o piloto usar, enquanto, no Brasil, por mais ídolo que o cara seja, tirando a marca da moto, ninguém sabe o que aquele piloto utiliza de equipamento. Para nós é um orgulho ver que um acessório com design brasileiro é considerado melhor que o original italiano, alemão ou norte-americano. Aliás, todo mundo acha que a Circuit é italiana! Estou certo de que o futuro do mercado, os grandes volumes e a distribuição estão no Brasil, mas o reconhecimento é na Europa.</p>
<p><strong>O bom momento da Circuit se deve apenas a essa diferenciação na qualidade ou também pelo fato de que o segmento off-road vive um bom momento? </strong><br />
O que se diz na Europa é que o segmento off-road é o que sustenta o mercado, há um certo exagero nisso, é claro, mas é fato que o segmento off está “menos pior!”. Por estarmos no Brasil e na América do Sul, onde esse mercado está muito bom, podemos desenvolver mais produtos, fechar patrocínios, estar mais presentes. Estou entusiasmado, inspirado!</p>