<p>Nobres cavaleiros contemporâneos, todos conhecemos bem os prazeres de conduzir nossas montarias pelas acinzentadas vias urbanas, e através dos feudos delimitados pelo concreto. Porém, hei de admitir que, por vezes, me vejo na Idade Média, na era das trevas, quando observo transeuntes e condutores de quadrúpedes carruagens de metal simplesmente desconsiderando ou desrespeitando a nossa presença. Permitam-me portanto destilar pequenas indignações em curtos parágrafos numa cruzada contra a má educação e maus costumes. Apresento portanto a vocês um pequeno compêndio de cousinhas irritantes da era cinzenta dos nossos dias.</p>
<p>Começarei com aqueles motoristas que insistem em oferecer-nos a última tragada de seus bastões incandescentes pelas ruas e avenidas. Jogam despudoradamente o resto de seus vícios pela janela ou defenestram as cinzas da sua esfumaçante adição em cima dos incautos cavaleiros. Irritante nível 7. O nível sobe para 9 se o vivente estiver mal das tripas e resolver expectorar sua mucosa arremessando seu ectoplasma infestado de vírus ou bactérias sobre nós. É de impressionar o estômago e as entranhas, mas acontece.Alguns acionam por vezes seus chafarizes particulares e desrregulados, cuja água, além de não alcançar os para-brisas de suas carruagens, eventualmente acabam por atingir os motociclistas que por seu lado passam. Diferentemente dos costumes da idade das trevas, hoje gostamos de nos lavar com certa regularidade, mas a decisão de quando e onde compete a nós. Irritante nível 4. Considerando um certo nível de insegurança que esta ação pode causar, eleva o nível para 6.</p>
<p>Principalmente durante as campanhas eleitorais do reinado, há carruagens de som que publicam as promessas de seus candidatos literalmente aos quatro ventos. Para quem vive ao vento como nós, o barulho chega a atingir níveis insuportáveis, principalmente quando estamos parados nos cruzamentos ao lado de uma besta dessa. Sem falar que estas carruagens, frequentemente datadas de décadas e décadas atrás, produzem extrema poluição facilmente respirável por nós. Mas este é tema de outra “cousinha irritante” a ser explorada no futuro.</p>
<p>Para fechar, não poderia deixar de mencionar os condutores de cabritas munidas de pedal que insistem em trafegar irregularmente pelos estreitos caminhos reservados para montarias motorizadas. Além de ser um ato irritantemente perigoso e destes senhores, senhoras e crianças (!!!) não possuírem nenhum documento que comprove minimamente sua suposta habilidade em conduzir o veículo, estes “pedaladores” insistem em não usar equipamento de segurança. Nem capacete, nem armadura e, às vezes, estão até descalços. Irritante nível 6, porém considerando o impacto de um possível acidente, leva a consequências intangíveis e inclassificáveis.</p>
<p><img alt="" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/textomoto5_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Vamos agora abordar as ocorrências molhadas, sejam elas pela chuva ou pelas nossas maravilhosas invenções da engenharia moderna. Banhos involuntários I: também conhecidos como o fator “chuva na ida”, esta talvez seja uma das mais inoportunas ocorrências com que nos deparamos, por um simples motivo: não há com quem reclamar, São Pedro mora longe, e ficamos solitários e sem ajuda, bradando impropérios dentro de nossos capacetes quando uma chuva nos alcança ao pilotarmos para um evento importante. Irritante em nível 7. Se houver garupa que reclama por causa da chuva, como se somente ela estivesse se molhando, a intensidade de irritação é elevada ao quadrado. Agora, se for na volta ao “castelo”, dependendo do contexto, a ducha do “Pedrão” é até bem-vinda.</p>
<p>Banhos involuntários II: quem nunca passou com a montaria perto do meio-fio, na maioria dos casos em baixa velocidade, quando algum ser munido de um esguicho estava a lavar a frente da casa, a calçada ou o carro estacionado, e recebemos aquela rajada de água nas botas, na roupa ou uma nuvem de gotículas na viseira? Irritante no nível 6. Fica a mensagem: economize água! Não lave a calçada nem os motociclistas.</p>
<p>Banhos involuntários III: por vezes, parado ou pilotando ao lado das carruagens no trânsito, recebemos uma efêmera esguichada… E nem sinal de chuva… Vem daquela pecinha instalada na frente dos para-brisas, bem no meio do capô dos veículos quadrúpedes? Boa parte está desrregulada e tem sua mira bem na fuça dos motociclistas, ciclistas e outros desafortunados que passarem ao lado. O agravante é que, muitas vezes, não é apenas água: vem com sabão, detergente e sabe lá o que colocam dentro dos reservatórios. Irritante no nível 5 quando é somente água, e 7 para qualquer outra coisa.</p>
<p>Mais chuva: caso fossem possíveis, as reclamações com o “Pedrão” não se resumiriam às chuvas inesperadas. Quem nunca deixou sua moto estacionada em uma região de enxurradas e ao voltar, depois de um temporal, encontrou a roda, principalmente as raiadas, como uma árvore de Natal macabra. Folhas, galhos, embalagens, sacos de lixo, rato morto, tudo isso ornando seu belo motociclo. Aí você olha, suspira e começa o quebra-cabeças de tirar os dejetos um a um. Delícia! Irritante no nível 8. Se ainda estiver chovendo, é um processo sem fim, você vai tirando e mais “presentes” vão chegando. Irritante em nível 9.</p>
<p>A água, seja vinda do céu ou das invenções humanas, é essencial, mas há situações em que ela se torna um tormento para nós, seres urbanos que vivemos sobre duas rodas.</p>
<p>Keep riding!</p>