A bordo de uma BMW F700 GS, nessa viagem de moto pilotamos pelas belezas da Croácia. Acompanhe os detalhes desta aventura!
Texto e Fotos: Fábio Soares
Viajei bastante pela Europa ocidental, principalmente para Portugal, Espanha e França. Nunca tinha rodado pelo “lado da lá”, o leste europeu, que, para mim, era conhecido somente através de fotos e vídeos. Estava na hora de explorar aquela região, por vezes tão conturbada. Seria uma trip diferente e, com certeza, muito massa!
O primeiro passo da programação era escolher o destino, uma tarefa difícil, pois há muitos países maravilhosos. Estônia, no Báltico, ou Polônia? Romênia ou Croácia nos Balcãs? Depois de muita pesquisa, decidi pela Croácia.
A distância de ida seria por volta de 3 mil quilômetros. Nada demais, principalmente porque na Europa não precisamos nos preocupar com regiões que eventualmente não tenham postos. As cidades são muitos próximas umas das outras.
Nas estradas dos países da União Europeia temos sempre duas opções: autoestradas, com velocidades mais altas, pedágios e, praticamente, tudo reto, ou as chamadas pelos portugueses de “estradas nacionais”, sem pedágios, pistas simples, cheias de curvas cortando pequenas cidades e lindas paisagens. Óbvio que optei pelas últimas. Demora muito mais, apesar da distância ser, geralmente, menor.
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Pegando a estrada
Era alto verão, calor insuportável na Europa, o equipamento tinha que ser adequado, pois rodar horas a fio debaixo de um sol de 40°C não é fácil e não adianta só abrir a viseira, que na verdade fica até pior.
Levei dois capacetes, um fechado para pegar estrada pelas manhãs, relativamente frias, e um aberto, para rodar no calor e passear pelas cidades. Jaqueta de verão, luvas idem, objetos pessoais, kit de reparo de pneus, algumas ferramentas e… bora lá!!
Acordei por volta das 7h, configurei o GPS para “evitar pedágios e autoestradas” e peguei a estrada. O percurso até a Croácia, por si só, já seria uma baita viagem, e foi mesmo, mas estes detalhes deixo para outro bate-papo.
Saí de Coimbra, em Portugal, cruzei a Espanha, costeando, em parte, o Mar Mediterrâneo, passei por toda França, de oeste a leste, além de Mônaco, e cheguei na Itália, em Gênova.
A partir dali, poderia continuar para o leste através da região de Vêneto, cruzar parte da Eslovênia e chegar ao norte da Croácia, ou descer a Itália costeando o Mar Tirreno, cruzar o Mar Adriático e aportar em Dubrovinik, no sul. Minha escolha foi esta.
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Viagem de Moto: Desbravando este mundão
A travessia do mar Adriático se dá por “ferry” e leva cerca de 10 horas. O porto de embarque fica na cidade de Bari, região da Apúlia/Itália. Encostei a moto, fui até o guichê e pedi um bilhete.
A atendente perguntou se eu queria uma cabine. Pensei: 10 horas de voo sentado numa poltrona de avião é desconfortável, mas estou acostumado. É igual. Respondi que não queria.
O embarque de motocicleta é muito mais rápido do que outros veículos. Há uma fila especial para as duas rodas. Fui o primeiro a entrar no compartimento de veículos do “ferry”. Encostei onde me indicaram e acompanhei a amarração para ter certeza que estaria firme (os caras fazem isso todo dia e eu achando que precisava conferir se faziam bem feito. Nada a ver).
Subi para o convés de passageiros, onde fui recebido por um tripulante. “Tem cabine, senhor?” Não, respondi. Onde ficam os assentos? Perguntei. Depois de uns segundos em silêncio, o tripulante respondeu que havia muitas poltronas no restaurante e eu poderia usá-las à vontade.
Nesse momento me dei conta de que o sistema naquele “ferry” não era igual aos aviões ou outros “ferries”, em que você compra um bilhete com uma poltrona já automaticamente vinculada a ele.
Passei a noite revezando entre as tais poltronas do restaurante e o chão. O que me consolou foi que diversos outros irmãos de duas rodas também dormiam daquela forma, mas, já acostumados, levavam sacos de dormir. Conversando, descobri que optavam em não comprar uma cabine para se manterem no estilo da viagem. Trip raiz mesmo!
Seguimos na viagem de moto…
O dia amanhecia, saí para o convés externo e pude acompanhar um nascer do sol esplêndido. Alguns minutos, chegamos em Dubrovinik, na “Republika Hrvatska”.
Apesar de fazer parte da União Europeia, a Croácia não aderiu ao Espaço Schengen, ou seja, suas fronteiras não são de livre-trânsito com outros países, portanto, é necessário fazer os trâmites de imigração.
Schengen é um tratado entre países da UE que aboliu as fronteiras internas. Depois de fazer a imigração de chegada externa em um dos países signatários, não há barreiras migratórias internas entre eles.
A imigração no porto de Dubrovinik foi um pouco demorada. Assim que me liberaram fui para o hostel, troquei de roupa e saí para rodar pela cidade. Era cedo ainda, a temperatura estava agradável.
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A linda Dubrovink
Dubrovink é uma pintura. Praias majestosas, algumas delas de cascalho ao invés de areia, outras de areia fina e branca, água morna azul-turquesa com uma transparência surreal. Preciso mergulhar nesse mar! Encontrei uma operadora de mergulho, mas não havia mais vagas disponíveis.
As muralhas da parte antiga, construídas entre os séculos XIII e XVI, têm cerca de 1940m de extensão e 6m de espessura. Houve povoações naquele local desde o século I. Imperdível!
Dubrovink é muito concorrida entre turistas do mundo todo. Era alto verão, o lugar estava simplesmente abarrotado de gente. Para se ter uma ideia, a entrada de pedestres para a cidade amuralhada tinha duas mãos de direção determinadas por uma fita e havia uma grande fila em ambos os lados para podermos entrar e sair da cidadela.
Depois de dois dias, suficientes para conhecer os pontos mais interessantes da cidade, resolvi tocar em frente. Inicialmente pensei em ir para Split, que fica a alguns quilômetros ao norte, costeando o Adriático, mas pela quantidade de gente em Dubrovink decidi sair do litoral. Zagreb seria o destino.
Viagem de moto: Zagreb vem aí
Segui pelas pequenas estradas e, como sempre acontece em viagens de moto, uma surpresa. Me deparei como uma aduana. Fiquei meio sem saber se estava indo pelo caminho certo, só depois descobri o quanto estava sendo ignorante.
O território da Croácia é dividido em duas partes por uma faixa de 9km pertencente a Bósnia-Herzegovina. Que beleza, mais um país na minha lista, apesar de só ter tomado um espresso nele e rodado não mais que 9km. Está valendo!
Seguindo viagem, fui rodando pelas belas estradas croatas. Encontrei um local que parecia um grande estacionamento com muitos carros, motorhomes e motocicletas. Parei para conferir. Era a entrada do Parque Nacional dos Lagos Plitvice. Não sabia o que era, quando descobri fiquei de boca aberta.
Trata-se de um conjunto de cachoeiras que desaguam em vários lagos, todos naturais, mas não são cachoeiras comuns. Elas “brotam” por entre a vegetação, formando uma paisagem que nem dá para descrever de tão linda. Nunca tinha visto nada igual, e olha que já vi muitas cachoeiras.
Quem quiser conhecer tudo, acompanhar todo o percurso, tem que encarar uma caminhada de uns 4 km (não me recordo ao certo), mas valeu a pena cada metro, mesmo com aquele calor de mais de 30°C.
Passei a tarde toda naquele paraíso diferente. Saindo de lá, encontrei um hostel maravilhoso no meio de uma floresta de pinheiros próximo ao parque e lá passei a noite. Dia seguinte acordei cedo e… rumo a Zagreb.
Uma viagem de moto inesquecível
A Europa foi forjada, em seus vários séculos, na base do fio do aço. Os diversos reinos resolviam suas disputas com o brandir das espadas. Assim sempre foi até a segunda grande guerra, quando o mundo se apercebeu que carnificinas como aquela não poderiam mais acontecer.
Infelizmente as guerras na Europa não pararam por completo, como vemos ainda hoje. A região dos Balcãs¸ nos anos 1990, foi palco de outro conflito sangrento.
Continuando em direção a Zagreb, em certo momento parei para almoçar numa pequena cidade chamada Knin. Leitão assado na brasa, muito popular e saboroso. Enquanto esperava o prato, dei uma olhada na história da cidade. Lá havia sido palco de uma sangrenta e famosa batalha entre o exército iugoslavo e croatas em 1991.
O interior da Croácia me chamou atenção pela beleza daquele país, mas não só isso. A quantidade enorme de cemitérios é inacreditável. Muitas das pequenas cidades tinham três, quatro cemitérios.
Muitos memoriais de soldados caídos em combate também se vê. Encontrei na beira da estrada, na cidade de Karlovac, um museu a céu aberto onde estão expostos peças de artilharia, veículos de combate improvisados perfurados de bala e parte de um MIG sérvio que fora abatido pelos croatas.
Karlovac se transformou no símbolo da resistência croata contra o avanço sérvio. A memória de um país é o alicerce de seu futuro.
Fechando os trabalhos
A capital da “Republika Hrvatska” remonta ao ano 1094, quando o rei húngaro Ladislau I fundou uma diocese no monte Kaptol. Uma cidade jovem, alegre com pessoas amáveis e extrovertidas.
Muito organizada e limpa, Zagreb tem muitos atrativos, sua arquitetura, bons restaurantes e diversos parques. Uma curiosidade: um dos pontos turísticos é o grande Cemitério Mitogoj.
Com arquitetura singular, este cemitério guarda os restos mortais de Franjo Tujman, falecido em 1999, considerado o fundador da Croácia, que liderou a independência em face da antiga Iugoslávia.
Como toda viagem, esta estava chegando ao fim. Mais uma aula de história vivida nos locais dos acontecimentos. O retorno seria longo. Na volta cruzei toda Eslovênia, segui pela região da Lombardia, na Itália, França, norte da Espanha e, finalmente, Coimbra.
O mundo é nossa casa, temos que conhecê-lo, seja viajando “in loco” ou por livros, fotos ou vídeos. O importante é manter a incessante vontade de vagar pelo mundo.
Wanderlust!
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