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Velocidade – o abuso, o prazer e a responsabilidade | Sim à Motocicleta

  • Publicado: 17/11/2025
  • 12 Minutos de leitura

Vamos falar de velocidade? Em geral, todos nós reclamamos bastante dos outros, mas será que somos diferentes?

A Abraciclo e a revista MOTOCICLISMO, preocupadas com os números alarmantes de acidentes envolvendo motocicletas no país, organizou um debate com autoridades para falar do assunto. A mediação ficou a cargo de Celso Miranda, jornalista especializado em esportes a motor e também motociclista, e, como convidados estavam:

  • Alexandre Barros: ex-piloto da MotoGP;
  • Roberta Mantovani: diretora de Segurança Viária do Detran SP;
  • Dawton Roberto Gaia: superintendente de Planejamento e Projetos da CET;
  • Ana Luíza Martins: neuropsicóloga;
  • Sergio Oliveira: diretor executivo da Abraciclo.

São Paulo é uma cidade com vários pontos de atenção mas, é unânime que o trânsito é talvez, o ponto mais preocupante, perigoso e desgastante a se tratar nesta que é a maior metrópole da América do Sul.

A situação em outras cidades não é diferente pois, guardadas as devidas proporções, sofrem dos mesmos
problemas.

Para tentar organizar isso, existem vários órgãos responsáveis que tentam, de diversas maneiras, melhorar o ir e vir dos cidadãos que são obrigados a rodar pela cidade.

Vamos raciocinar: as leis estão aí, os sinais, as regras de trânsito, enfim, temos as diretrizes para rodar com segurança, contudo, é o ser humano quem acelera, sobe na calçada, bebe e dirige, passa no sinal vermelho e comete outros tantos absurdos. Por sermos o único ser no planeta que é capaz de raciocinar e de ter empatia com o próximo (ser humano), deveria ser mais fácil resolver essa questão. Ou melhor, ela nem deveria existir.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET)

A CET de São Paulo é a responsável para cuidar do trânsito da cidade e, dentro da medida do possível, tentar torná-lo melhor. A velocidade dos motociclistas é um dos maiores desafios a serem enfrentados, vamos entender o porquê.

Dawton Roberto Gaia, que cuida do planejamento e dos projetos da entidade, diz que o grande desafio está no comportamento do motociclista que se reflete no desrespeito às leis de trânsito, e também, na falta de empatia para com os outros no trânsito.

O próprio motociclista, motoristas e pedestres, todos são protagonistas no tráfego e querem sair para
seus compromissos, cumpri-los e voltar em segurança para suas casas.

Gaia comenta: “ A implantação da Faixa Azul é um sucesso e conta com aproximadamente 232 quilômetros na cidade de São Paulo, o projeto contribuiu muito para a estabilização do número de acidentes, mesmo com o aumento da frota de motocicletas. Temos como objetivo até 2028 implementar mil quilômetros de Faixa Azul, por isso temos bastante trabalho pela frente.

Mas não vamos nos iludir, ao criarmos uma faixa exclusiva, muitos motociclistas estão achando que a via é uma pista de corrida segura e estão abusando da velocidade sem considerar as inúmeras possíveis variáveis do trânsito como a distração de outros motoristas com os celulares, por isso, calma lá! Já temos uma via exclusiva para as motos, não é preciso mais velocidade do que a permitida.

Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN)

O estadual tem a grande missão de reduzir a velocidade do trânsito para que a segurança prevaleça. Para isso, existem os tão odiados radares espalhados por todas as cidades e estradas. Eles estão cada vez mais tecnológicos para facilitar a identificação dos infratores, mas, não são suficientes para impedi-los, é preciso mais.

Roberta Mantovani, diretora de segurança viária, enfatiza que a proposta para todos, na construção de sistemas seguros, é o entendimento baseado em dados reais, das consequências resultantes das condições atuais na segurança viária, para embasar possíveis soluções para implementar e tentar melhorar a segurança.

Roberta explica: “para que isso aconteça, é necessário compor uma articulação de ações integrando educação, comunicação, fiscalização e engenharia de tráfego, para criar camadas protetivas para todos que circulam pelas ruas e calçadas das cidades.

O objetivo é a redução do número e gravidade dos sinistros, ou seja, ampliar a segurança de todos: pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas de todo tipo de veículo.

Mas muita gente entende as regras como mecanismo de punição, justamente por ter um comportamento “fora das regras” e não como comportamento para preservar sua vida e a do próximo.”

Deveria ser bem mais simples se fossemos uma nação educada e menos individualista. Seria simplesmente seguir as regras mostradas em placas, sinais, faixas, campanhas, enfim…o básico.

O que muita gente não entende é que as consequências dos abusos comprometem o trabalho do sistema de saúde, sobrecarregando-o com muitas ocorrências. Isso pode atrasar inclusive o atendimento de algum parente ou amigo que precisa de atendimento para algum tratamento de saúde, sem ligação ao trânsito.

A psicologia explica isso?

O poder público tenta chegar ao indivíduo para tentar mudar suas atitudes arriscadas, contudo sabemos que a velocidade dispara uma descarga de estresse no nosso corpo, que, por sua vez, libera a adrenalina e dopamina, o que é algo tão prazeroso para alguns, que, muitas vezes, supera a racionalidade que viria de nosso sistema nervoso pelo córtex frontal, a parte responsável por tirar a mão ou o pé do acelerador e diminuir a velocidade.

A neuropsicóloga Ana Luíza Martins diz que a adrenalina é uma resposta ao estresse, e que cada indivíduo reage de maneira diferente para tipos diferentes de descarga de adrenalina.

Essa descarga emocional é intensa, mas nem todos interpretam isso positivamente. Exemplificando, é o motociclista pilotando rápido numa serra cheia de curvas curtindo, enquanto a garupa está assustada beliscando o piloto para diminuir a velocidade. “Isso mostra que, mais uma vez, o indivíduo é o responsável pela existência de todos os aparatos de contenção de velocidade e organização do trânsito que ele (o acelerado) reclama tanto.

Já é natural ouvirmos reclamações de pessoas próximas por terem tomado alguma multa: “Essa porcaria do radar me pegou”, “não deveriam existir radares” ou ainda “colocaram o radar nesse lugar de propósito”. Enfim, a velocidade nos afeta tanto que nosso raciocínio trabalha contra o óbvio, muitas vezes nos fazendo passar vergonha com certos comentários.

As pessoas chegam ao extremo de montar mecanismos de esconder a placa para tentar escapar da multa, contudo, quando são paradas, podem até ser presas com penas de três a seis anos de reclusão, além de, por ser uma infração gravíssima, levar sete pontos na carteira e ainda receber a multa.

A velocidade

Falando de velocidade, o que abrange todos os veículos, não é à toa que existem os limites de velocidade diferentes para cada veículo, via ou situação. E todos sabemos que rodovias não são lugares para treinar, apostar corridas ou qualquer coisa do gênero, para isso existem locais apropriados, e quem sabe tudo a respeito é nosso maior ícone do motociclismo, Alexandre Barros.

Para Barros, a rua é uma via de transporte: “Lugar de correr é em autódromo. Desde criança eu aprendi assim. Os pilotos profissionais não assumem o risco de se machucar ou machucar terceiros em ambiente que não esteja preparado para sua segurança. A responsabilidade é de quem está fazendo uso da ‘ferramenta’ carro, moto, caminhão, etc. Até porque a moto parada sem piloto não oferece risco nenhum a ninguém. A nossa maneira de credenciar novos motoristas está ultrapassada, é da década de 1970 e tudo mudou, inclusive os meios de condução e os locais de se conduzir. Teria que ocorrer uma mudança na forma de habilitar os novos motoristas e, com o tempo, ir reciclando-os para se enquadrar no mesmo sistema. São várias situações no dia a dia que não se enquadram na mesma maneira de conduzir, que são diferentes de um local apropriado. Exemplificando, se a pessoa sai para ir ao trabalho pilotando sua moto, o piso pode estar seco em um ponto e molhado em outro, ser asfalto em um trecho e paralelepípedo em outro, ter ou não movimento, enfim, as situações variam muito. Já num lugar específico para correr, tudo foi pensado para esse fim. O piso é uniforme e com outra composição, tem áreas de escape, não tem pedestres, ciclistas, famílias passeando, enfim, é muito mais seguro para todos”, finaliza Barros.

Habilitação

O Detran está discutindo a questão da educação, para intensificar a educação no trânsito desde o ensino básico. A ideia é construir um conhecimento desde cedo para preparar melhor as pessoas para tirar sua habilitação. E não é sobre habilidade, estamos falando de respeito ao próximo, empatia, segurança, redução de riscos, entre outras coisas mais.

O processo de habilitação está em discussão para melhorias em todos os sentidos para que tanto a educação nas escolas como a melhoria na formação do condutor tragam melhores resultados e diminuição no número de ocorrências.

Como mudar a cabeça das pessoas?

A psicóloga Ana Luíza Martins acha de suma importância começar a mudança na base, e a primeira coisa foi sobre os acidentes que ocorrem entre os 19 e 29 anos, a fase que agimos por impulso ainda, sem pensar nas consequências, ou achar que nada vai acontecer. A multa atual, em vários casos, não representa uma punição, pois os valores são inexpressivos para uma grande faixa dos motoristas. A cobrança chega a ser irrisória pelo mal causado. As consequências punitivas têm que ter maior impacto para que as pessoas pensem bem antes de realizar a contravenção. Quantos exemplos tivemos recentemente de pessoas influentes de classe alta que cometeram crimes no trânsito, pagaram a fiança e respondem em liberdade? O dinheiro não pode ser a solução do infrator e “comprar” a impunidade, punindo assim a vítima.

Abraciclo

A Abraciclo, em parceria com a revista MOTOCICLISMO, vem desenvolvendo nesses últimos três anos o Sim à Motocicleta, que são campanhas de conscientização para uma condução segura. Trabalhos e mensagens sobre segurança viária estão sendo desenvolvidas com grande frequência e repassadas aos motociclistas que circulam diariamente pela cidade. São uma maneira de fazer uma pausa na correria e dar tempo para pensar. Isso tem mostrado bons resultados.

Com a marca de 50 anos de fabricação de motocicletas e da Abraciclo para serem comemorados em 2026, é quase inacreditável a evolução dos veículos que circulam pelo país e o aumento da frota nacional nesse período, o que exige pessoas casa vez mais preparadas.

A indústria vem contribuindo com a tecnologia embarcada em suas motocicletas como o ABS, CBS, controle de tração, modos de pilotagem, radar, entre outras inovações incorporadas ao veículo como evolução de segurança e tecnologia.

O diretor executivo da Abraciclo, Sérgio Oliveria, sentiu a necessidade de atuar mais intensamente com ações de segurança viária, e o resultado tem melhorado bastante com o aumento da participação do público nas ações do Pit Stop.

O motociclista é carente dessas informações devido a falta de oportunidade e falta de tempo. Em um momento breve das ações, se procura passar a importância de reduzir a velocidade, e daí vem o slogan desse ano: “Desacelere, seu bem maior é a vida”.

Em 2025 foram 15 mil motociclistas atendidos nas ações da Abraciclo e em 2026, devido a ser uma data de comemoração dos 50 anos, algumas ações estão sendo preparadas. O importante é juntarmos essas forças para um bem maior.

O Destran, a Abraciclo e a CET estão empenhados em reduzir os números de ocorrências no trânsito, pois, querendo ou não, a reação em cadeia afeta a todos nós, mesmo estando dentro de nossa casa em segurança, a vários quilômetros de distância.

Pense nisso, toda essa estrutura só existe porque nós, seres inteligentes, resolvemos avançar sobre o direito de outra pessoa com uma ultrapassagem arriscada, furando um sinal vermelho, estacionando em um lugar proibido ou excedendo a velocidade. Nós somos os causadores das punições que lamentamos, mas, se nos portarmos corretamente, a vida de todos vai melhorar.

Companhia de Engenharia de Tráfego (CET)

A CET de São Paulo é a responsável para cuidar do trânsito da cidade e, dentro da medida do possível, tentar torná-lo melhor. A velocidade dos motociclistas é um dos maiores desafios a serem enfrentados, vamos entender por quê.

Dawton Roberto Gaia, que cuida do planejamento e dos projetos da entidade, diz que o grande desafio está no comportamento do motociclista, que se reflete no desrespeito às leis de trânsito e na falta de empatia para com os outros no trânsito. O próprio motociclista, motoristas e pedestres, todos são protagonistas no tráfego e querem sair para seus compromissos, cumpri-los e voltar em segurança para suas casas.

Gaia comenta: “A implantação da Faixa Azul é um sucesso e conta com aproximadamente 232 quilômetros na cidade de São Paulo; o projeto contribuiu muito para a estabilização do número de acidentes, mesmo com o aumento da frota de motocicletas. Temos como objetivo até 2028 implementar mil quilômetros de Faixa Azul, por isso temos bastante trabalho pela frente. Mas não vamos nos iludir, ao criarmos uma faixa exclusiva, muitos motociclistas estão achando que a via é uma pista de corrida segura e estão abusando da velocidade sem considerar as inúmeras possíveis variáveis do trânsito, como a distração de outros motoristas com os celulares, por isso, calma lá! Já temos uma via exclusiva para as motos, não é preciso mais velocidade do que a permitida. 

Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN)

O estadual tem a grande missão de reduzir a velocidade do trânsito para que a segurança prevaleça. Para isso, existem os tão odiados radares espalhados por todas as cidades e estradas. Eles estão cada vez mais tecnológicos para facilitar a identificação dos infratores, mas não são suficientes para impedi-los, é preciso mais.

Roberta Mantovani, diretora de segurança viária, enfatiza que a proposta para todos, na construção de sistemas seguros, é o entendimento baseado em dados reais, das consequências resultantes das condições atuais na segurança viária, para embasar possíveis soluções para implementar e tentar melhorar a segurança.

Mantovani explica: “Para que isso aconteça, é necessário compor uma articulação de ações integrando educação, comunicação, fiscalização e engenharia de tráfego, para criar camadas protetivas para todos que circulam pelas ruas e calçadas das cidades. O objetivo é a redução do número e gravidade dos sinistros, ou seja, ampliar a segurança de todos: pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas de todo tipo de veículo. Mas muita gente entende as regras como mecanismo de punição, justamente por ter um comportamento “fora das regras”, e não como comportamento para preservar sua vida e a do próximo.”

Deveria ser bem mais simples se fôssemos uma nação educada e menos individualista. Seria simplesmente seguir as regras mostradas em placas, sinais, faixas, campanhas, enfim… o básico.

O que muita gente não entende é que as consequências dos abusos comprometem o trabalho do sistema de saúde, sobrecarregando-o com muitas ocorrências. Isso pode atrasar inclusive o atendimento de algum parente ou amigo que precisa de atendimento para algum tratamento de saúde, sem ligação ao trânsito.

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