Não importa quantas vezes você visite a região do Atacama, sempre há coisas para conhecer e surpresas no ambiente e no cartão-postal
Texto e fotos: Ton Pederneiras
O Atacama costuma ser o primeiro grande destino de todo motociclista. E quanto mais próximo ao deserto no norte do Chile, mais interessante a expedição se torna.
Partindo de São Paulo, são necessários quatro longos dias de deslocamento para chegar à região de Salta, no norte da Argentina, ponto onde a viagem começa a ganhar mais atrativos.
Salta – Cafayate: As rochas e o vinho
Antes de cruzar a cordilheira, desviamos sentido sul pela ruta 68 para Cafayate. O destaque nesse roteiro é a natureza rochosa da região formada por vários cânions e formações espetaculares como o Anfiteatro e a Garganta do Diabo, por onde caminhamos entre seus paredões imensos. No caminho há também vários locais simpáticos e coloridos para almoçar ou lanchar, onde o turista pode degustar pratos, lanches e bebidas da região.
O caminho segue sinuoso e pitoresco em um trecho sem trânsito e perfeito para pilotar, aproveitando cada curva. Cafayate é uma cidade da província de Salta, importante região produtora de vinhos na Argentina, lá a possibilidade de hospedagem dentro de vinícolas. O centrinho é cheio de opções de museus da produção de vinho a restaurantes para degustá-los e comer uma boa carne.
Cafayate – Tilcara: A floresta e a história
Depois de uma noite bem dormida entre as parreiras, voltamos pelo mesmo percurso, explorando a região. Uma opção seria subir a ruta 40 por terra, passando pela inusitada Quebrada de Las Flechas, com suas formações em diagonal e por Cachi. Passamos por Salta novamente e seguimos ao norte por uma estrada muito estreita e praticamente sem retas, chamada La Cornisa. A estrada é turística e cruza uma floresta ligando Salta a Jujuy.
De lá seguimos para Tilcara, o maior centro arqueológico do norte da Argentina. A cidade tem uma arquitetura típica do Atacama com casas de adobe e há artesanato por todos os lados. Ali são sediadas muitas festividades tradicionais, em especial o carnaval. É possível também visitar o Pukará de Tilcara, uma fortaleza pré-colombiana com pirâmides dentro de um deserto de cactos gigantes, local capaz de nos transportar no tempo.
Tilcara – São Pedro: A cordilheira e o salar
Num dia incrível do tour saímos preparados para o frio da Cordilheira dos Andes. A subida é feita por curvas fechadas, caminhões lentos e algumas falhas no pavimento que requerem atenção do piloto, mas ainda assim a diversão é garantida. Logo chegamos ao marco do ponto mais alto da travessia com 4.170 metros, logo depois cruzamos a aduana para entrar no Chile. Paramos para o almoço em Pastos Chicos, onde matamos a fome e o frio da estrada, depois seguimos para Salinas Grandes.
O salar é cênico, no alto da montanha com estátuas gigantes de sal, lá o mar branco some no horizonte e rende muitas fotos criativas. O deslocamento total nesse dia é de 450 quilômetros praticamente todos em elevada altitude e o visual é de tirar o fôlego. A cada hora tudo muda e vimos novas composições coloridas de terreno, montanhas, lagos e animais entre as moitas amarelas e espaçadas, clássicas do deserto.
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O vulcão Licancabur marca a chegada a San Pedro. Na parada para fotos todos comemoram a chegada ao destino, cujo pico nevado será visto no horizonte em toda a expedição. A cidade tem farta opção de gastronomia, de petiscos e “una cerveza” a menus elaborados.
Atacama: Lagunas e pôr do sol
San Pedro foi nossa casa durante dois dias e aproveitamos para pilotar pelas redondezas. No primeiro dia fomos no sentido sul para visitar as Lagunas Altiplânicas depois de 100 quilômetros chegamos ao primeiro trecho off-road do tour, que, apesar de curto (com 5 quilômetros), esconde alguns bancos de areia capazes de derrubar os desatentos. Tombinhos na areia que viram histórias para rir mais tarde.
Vencido o desafio o visual mais tradicional do deserto se agiganta à nossa frente, o azul do céu e o paredão de montanhas nevadas ao fundo se refletem na lagoa cristalina, é inesquecível. Mais alguns metros adiante, a Laguna Miñiques traz mais um pouco da beleza dos extremos do deserto.
Na volta, o almoço é uma típica sopa com galinha em Toconao no paradouro San Santiago antes de visitar a Laguna Cejar. A laguna salubre nos seduziu para um banho e, ao entrar na água gelada, o viajante se surpreende ao perceber que é impossível afundar devido à densidade provocada pelo sal, vale a contemplação durante o banho com os pés e braços para fora d’água. O corpo fica branco de sal, mas há duchas no local para se lavar.
A tarde avançou e seguimos para a Piedra del Coyote, onde vimos o primeiro pôr do sol no Atacama sobre o vale recortado pelas formações rochosas, lugar especial para nosso brinde.
Atacama: Os gêiseres e o deserto
Madrugamos para visitar os geisêres de El Tatio, que ficam a 80 quilômetros de San Pedro. A atividade vulcânica acontece ao amanhecer com temperaturas negativas, então, optamos por um tour de van com um guia local. O café da manhã é feito lá, no meio do nada, junto aos vapores que brotam do chão.
Na sequência, visitamos as Thermas de Puritana para um banho nas águas quentes. De lá seguimos pelo vale repleto de rebanhos de guanacos e vicunhas até o povoado de Machuca, onde vivem descendentes de povos pré-colombianos. Lá aproveitamos para comer espetinhos de carne de lhama e pastel de queijo de ovelha.
O tour continuou, todo por terra, passando por belíssimos lagos com flamingos e paisagens ímpares. Na tarde livre curtimos o centrinho de San Pedro, uma esquina do mundo onde aventureiros vem de toda parte para explorar o deserto, integrando-se ao visual aventureiro da cidade. No final da tarde, o pôr do sol é no Vale da Lua, onde as inúmeras depressões fazem parecer o terreno lunar.
De volta à cidade, jantamos e fizemos um interessantíssimo passeio para ver o céu noturno do deserto do Atacama, que, por ser o local mais árido do mundo, tem o céu muito limpo e, por isto, abriga muitos observatórios por lá.
São Pedro – Salta: Paso de Jama
Chega o dia da volta e levantamos acampamento já com saudade da cidade que nos acolheu por tantas noites. Café da manhã reforçado, segunda pele no corpo e equipamento de frio para a volta gelada pela cordilheira. Mesmo durante o verão, é comum enfrentar temperaturas negativas na montanha, e no nosso caso foram -2ºC.
O cenário surpreende sempre! É o caso da descida do Paso de Jama que, vista do alto, revela sua infinidade de curvas entre pedras e cactos gigantes. Após a descida, retornamos a Salta, onde comemoramos a viagem em uma excelente parrilla e vinhos argentinos. Mais tarde aproveitamos um pouco da animada vida noturna Saltenha.
Ton Pederneiras | 11 99512-1382
Tour Guide TRX e jornalista
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