Destino Incerto no Centro-Oeste “chapado” do Brasil! Muita aventura, terra e maravilhas naturais passando pela Chapada dos Veadeiros, Chapada dos Guimarães e Nobres.
Texto e fotos: Ton Pederneiras
Não seguimos o que preconizamos com relação a planejamento e nossa viagem já começou errada. Correria de fim de ano, nada foi planejado, nem as reservas, mas tínhamos muita expectativa. Originalmente, faríamos Chapada dos Veadeiros, Jalapão e Pantanal, mas partiríamos mesmo sem hospedagem ou vaga nos passeios. Para ajudar, o disco de freio torto fez com que a viagem atrasasse mais dois dias. Decidimos partir para a Chapada dos Veadeiros e fazer uma viagem, literalmente, de Destino Incerto.
Para garantir o sono, o kit de camping foi no saco estanque. O primeiro desafio foi cruzar os 1.280 quilômetros que separam a chapada de São Paulo em apenas um dia, topamos tentar. Para isso, resolvemos fazer direito dessa vez! Tudo empacotado no dia anterior, moto abastecida, pneus calibrados, corrente lubrificada, café da manhã às cinco da matina e pé na estrada! Nela fomos disciplinados também com paradas a cada 200 ou 250 quilômetros, uma parada rápida, só abastecimento, e a outra mais longa, sem refeição, só lanches para não dar sono, velocidade moderada e constante para que o tanque rendesse mais sem ter que parar! E, o mais importante de tudo, bom humor sempre! Foi um dia longo e direto, passou sem que percebêssemos. Cruzamos quatro fronteiras de Estado, onde paramos para tirar fotos! Quando o sol encerrou sua jornada, já estávamos próximos do destino e resolvemos registrá-lo também. A noite caiu rápido, e o trechinho noturno foi agradável. Chegamos por volta de 20h em Alto Paraíso de Goiás onde paramos no centrinho agitado para celebrar.
A beleza das cachoeiras da região
Nos hospedamos na Aldeia da Lua, que fica afastada da cidade, quase na Vila de São Jorge. O trecho de terra cruzado para chegar à pousada ficou familiar, e a parada à noite na lagoa para ouvir os sapos sob as estrelas se repetiu muitas vezes.
Quando o primeiro dia amanheceu percebemos onde estávamos: no meio da mata da chapada de onde brotavam chalés redondos cobertos por sapê, a piscina no meio parecia obra da natureza. Empolgados, nos informamos rapidamente dos atrativos e seguimos para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Boa infraestrutura, palestra educativa, e logo estávamos na trilha para o roteiro dos saltos, oito quilômetros ao todo. O dia todo caminhando no meio da natureza com diversos atrativos. Primeiramente o mirante da incrível cachoeira Salto 120, depois o primeiro banho com direito a mordidas de peixes, na Salto 80, a seguir, as corredeiras mostraram o poder das águas em uma formação espetacular no mirante do Carrossel, finalizamos com banho nas corredeiras com direito a jacuzzi e hidromassagem natural!
Veja também:
De moto na Patagônia argentina e chilena
O Deserto do Atacama sempre surpreende
Ushuaia: Chegando ao fim do mundo
No dia seguinte visitamos o Vale da Lua, ao lado da pousada. O cenário é único, lunar mesmo. A água “criativa” esculpe as rochas de areia e desce criando caminhos incríveis. De tarde saímos sem rumo, dispostos a seguir a primeira placa turística. Assim chegamos ao Poço das Esmeraldas. Lá, depois de caminhar pelo descampado da chapada, chegamos ao lugar que faz jus ao nome. Os tons de verde e azul da água são impressionantes, e o banho, irresistível.
À noite curtimos um pouco mais da cidade de Alto Paraíso. Mais um dia, e resolvemos diminuir o ritmo da andança. Tomamos um café da manhã vegano na Pousada Shantee, onde nos hospedamos em São Jorge e fizemos uma terapia com sopro de didjeridu, envoltos por cristais da chapada com o exotérico Vinicius. Uma experiência singular e marcante, curtimos o trabalho dos cristais, como dizem por lá. O dia em São Jorge é ímpar, a cidade respira o misticismo sincrético da chapada! Cristais de todas as cores e para todos os fins, incensos, extraterrestres, ervas medicinais indígenas, pinturas surrealistas e São Jorge sempre empinando seu cavalo nos mantêm na mesma vibe.
Virada no quilombo Kalunga
Dia novo e destino diferente! Resolvemos virar o ano no lugar mais improvável possível: o quilombo Kalunga. Então seguimos para Cavalcante, no norte do parque. A Triumph Tiger, mesmo carregada com garupa e baús laterais, se comportou bem no longo deslocamento de terra. O tempo não ajudou. Assim que a estrada começava a melhorar, a chuva insistia em voltar e deixar a aventura mais divertida e melada. Os pneus Metzeler Karoo Street, montado na Varella Motos, fizeram a diferença.
Na estrada não limitaram a tocada, e na terra garantiram segurança. No quilombo o clima era bem diferente, calmo, rústico e simples, tudo que procurávamos. Virada de ano sem festa mas com céu estrelado sobre as ruas de terra. No dia seguinte quebrei um tabu de quatro anos, visitei a cachoeira Santa Bárbara, que vale a fama que tem. O poço de águas azuis é impressionante, aproveitamos para mergulhar fazer filmagens debaixo d’água. Na volta a chuva nos abençoou com tudo e trouxe o frio, que só pôde ser esquecido com a comida do fogão a lenha do quilombo. A refeição saciou a fome e esquentou o corpo e a alma.
Despedimo-nos do quilombo e traçamos nosso roteiro com a ajuda de um mapa, para evitar as armadilhas dos caminhos da região. Decidimos passar por Brasília e visitar outra cidade que há tempo estava na lista: Goiás Velho, uma espécie de Tiradentes do Centro-Oeste, calçamento de pedras, casarões, muito artesanato e bares. Entre peixes e macacos De lá seguimos para a Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. E lá outra série de atrações: os belíssimos Mirante do Alto do Céu e Morro dos Ventos, as cachoeiras do parque, com destaque para o Véu da Noiva, além da flutuação com os peixes e a vista alucinante do alto da Cidade das Pedras. Foram dias ótimos hospedados na Pousada da Quineira passeando com a guia Marina, da equipe do Villa Guimarães.
Parecia que já tínhamos rodado o Brasil todo, mas seguimos para mais longe para conhecer Nobres. Lá encontramos o Toninho, que nos apresentou o Aquário Encantado, uma flutuação incrível em águas azuis. Além disso, visitamos também o Reino Encantado e o Balneário, onde presenciamos uma invasão de macacos. Entre rios e conversas, nasceu um roteiro para outro tour envolvendo as chapadas e o Pantanal.
Estávamos bem longe de casa, por isso dividimos a volta em partes. Passamos por Cuiabá e seguimos por ótimas estradas até onde o traseiro aguentou. Dormimos em Ribas do Rio Pardo, próximo a Campo Grande, foram quase 1.000 quilômetros. Então, de volta ao Estado de São Paulo, paramos em Pederneiras e, por fim, São Paulo. As belezas naturais dessa viagem são incríveis, acredito que o mais especial tenha sido a realização de um tour de 5.000 quilômetros sem destino pelo Brasil. Uma viagem de aventura com muito off-road e acampamentos, conhecendo tribos diferentes que valorizam seu passado e vivem mais do que suas posses sugerem, basta a natureza e os amigos. Um estilo de turismo encarado por poucos e que realizamos em casal. Curtimos cada quilômetro com alegria, e os perrengues foram vencidos com novos aprendizados.
Agradecimentos: Bieffe Capacetes, HLX, Ideapro Malas, Varella Motos
Ton Pederneiras | 11 99512-1382
Tour Guide TRX e jornalista
www.destinoincerto.com.br