Velozes e furiosos. A família Paschoalin tem em Rafael, vencedor em Pikes Peak, a figura mais conhecida, mas o DNA de velocidade é muito, mas muito mais antigo.
Texto: Carlãozinho Coachmann
Fotos: Benite / Paschoalin / Gaeta / Motostory
Fui apresentado a Rafael Paschoalin por Sergio Quintanilha, antigo sócio desta revista e de outras, na época de Motorpress Editora. Isso foi em 1999. “Robertinho, Carlãozinho, tem um filho do meu preparador de kart que é maluco por motos… Carlãozinho deve conhecer o pai dele, o Vail Paschoalin… arruma uma coisa para o moleque fazer na redação para ele ficar perto das motos… ele se chama Rafael.”
Poucos meses depois eu assumiria o comando da equipe de redação e o Raul Fernandes Jr. veio se juntar ao time. “Sabe o Rafael… vou chamar o moleque para conversar… ele só enrola o Robertinho. Vamos ver se ele quer trabalhar ou se vai continuar tentando enganar alguém.”
Assim começou minha relação com Rafael Paschoalin, vencedor da categoria Middleweight na temida prova de subida de montanha em Pikes Peak nos Estados Unidos. Mas, como costumo dizer aqui no Motostory, esta não é a história completa. Rafa vencer Pikes Peak não é um acidente, nem uma vitória só dele. A velocidade é um assunto de família e Rafa é “apenas” mais um deles: Os Velozes e Furiosos Paschoalin.
Quem viveu os ano 1970 conheceu os Paschoalin muito antes do Rafael e agora seu filho, Enzo, existirem. Quem admirava aquela equipe brasileira, amarela, representando o Brasil nas provas de longa duração em Paul Ricard, na França, sabia da existência dos Paschoalin. Milton Benite, o Pressão, a quem tivemos o privilégio de homenagear, nos disse em uma de nossas gravações: “O Wilson Paschoalin foi meu braço direito na equipe Formula G. Era um cara espetacular… nele eu podia confiar. Ele e o Osmar Gaeta eram minha equipe técnica. Fazíamos pizza com as motos. O Arnoldo Bessa era nosso comandante e tivemos pilotos incríveis, como o Tucano (Walter Barchi), o Edmar (Ferreira), o Zezo. O Vail sempre foi um querido para mim e o Wilson era muito severo com ele. Várias vezes eu precisava proteger o menino Vail do irmão mais velho.”
Wilson continua sendo uma referência para quem o conheceu, até os dias de hoje, por sua incrível capacidade de trabalho. O Wladimir, irmão do meio, correu na Estreantes e Novatos e também de Fórmula Honda 125. Já o irmão mais novo, o Vail, era um piloto muito veloz nas pistas, tanto que foi Campeão de RX 125, mas um porra-louca, como ele mesmo se Intitulava: “Eu era muito louco, Carlãozinho… o Rafa até parece manso. Eu era muito rápido com qualquer coisa que me dessem nas mãos, mas muitas vezes quebrei ou cai porque não tinha cabeça… sempre fui rápido, mas nunca nem perto do brilhantismo do Tucano, o maior piloto que vi sobre uma moto em minha vida. Ele sim era rápido, estrategista, regular e um cérebro na condução de uma corrida, um gênio. Perdi meu pai muito cedo e fui criado pelo Wilson, meu irmão mais velho, e pela minha mãe. O Milton Pressão foi um pai para mim, pela forma que sempre me tratou. O Wilson era o braço direito dele na Fórmula G, mas a nossa afinidade era tão grande que até meu irmão tinha um certo ciúmes de mim. Pressão cuidou muito para que eu fosse quem sou hoje.”
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Quando conheci Rafael, Vail já tinha levado sua vida profissional para o kart, outra de suas paixões, mas Rafa, queria mesmo era saber de moto. “Eu queria que o Rafa corresse de kart. Ele sempre foi muito rápido e apesar da categoria ser cara para os nossos padrões, eu tenho certeza de que teria conseguido apoio para ele ir mais longe. Mas ele não queria. Queria moto.”
Com o DNA de velocidade, Rafa fez um pouco de tudo com as motos. Correu de Twister, fez milhares de quilômetros testando motos, foi trabalhar na Sundown ao lado de Milton Benite como o pai fizera décadas antes, e “inventou” participar do TT na Ilha de Man quando ainda estávamos juntos na equipe IMOCX Husqvarna, quando o contratei pela segunda vez na vida. Determinado e teimoso, enfiou na cabeça que iria para o Tourist Throphy e atropelou nossos planos no time. Precisei demiti-lo, parece até que foi o empurrão que faltava para que ele voasse ainda mais alto e mais longe.
“Vou ser o primeiro piloto brasileiro a competir e completar a prova mais mortal do planeta”. Cumpriu todas as etapas para poder se classificar para o desafio e foi, não apenas uma, mas três vezes… e sobreviveu… e trouxe a cobiçada medalha. Começou então a olhar para novos horizontes e desafios, e decidiu encarar outra pedreira. A mitológica subida de montanha Pikes Peak, nos Estados Unidos. Foi e cumpriu. Viu que era possível vencer também. Ano passado, com apoio da Yamaha do Brasil e uma moto preparada por ele mesmo, fabricada aqui, conseguiu sua primeira grande conquista internacional, a vitória na categoria.
Com ele, perto, pronto para ajudar quando chamado ou para cruzar os braços à espera do filho, nas horas de atrito que sempre acontece, estava o pai Vail. Agora, que venha o neto Enzo, filho que Rafael já colocou no mesmo caminho.
Nota da redação: o objetivo de Rafa Paschoalin para 2020 era correr novamente o TT de Man, dessa vez com apoio da Honda. Com o cancelamento da prova por causa do covid-19, o plano precisou ser adiado. Vamos aguardar o TT de 2021 e torcer pela presença de Rafa por lá!
Texto publicado na edição 262 da revista MOTOCICLISMO
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