Espírito indomável! Nenhum piloto representou os irriquietos anos 1970 tal como Carlos Alberto Pavan, ou apenas Jacaré.
Texto: Carlãozinho Coachmann
Fotos: Acervos família Pavan / Edgard Soares / Motostory
O Jacaré, segue no imaginário de quem frequentava os autódromos brasileiros ou o Parque Ibirapuera, em São Paulo, na primeira metade da década de 1970. Jovem, ousado ao extremo e talentoso como poucos. Menino simples, sem recursos, caiu nas graças dos apreciadores da velocidade da antiga “Esquina do Veneno”, no centro de São Paulo.
Primeiro foi Latorre quem viu nele um talento diferente e lhe emprestou sua sagrada Ducati para que competisse em Interlagos. Depois foi Edgard Soares quem resolveu enfrentar a esquadra Yamaha de Denísio Casarini e Walter Tucano Barchi com o novo talento, o rei do Zerinho do Ibira, como era chamado por muitos.
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Foi, viu e venceu, a ponto de despertar o interesse do Campeão Mundial Johnny Cecotto, com quem dividiu o guidão de sua Yamaha TZ para vencer a mítica 200 Milhas de Interlagos. Mas o mesmo fogo que queimava dentro de Jacaré nas pistas queimava também nas ruas… Rei do Ibirapuera, da USP ou da Rua Augusta, sua ousadia era famosa… e os acidentes também…
Candidato a campeão do mundo, dono de um coração gigante e de carisma sem igual, Jacaré encantou público e box por onde passou. Venceu a prova inaugural do Autódromo de Goiânia em 27 de julho de 1974, confirmando mais uma vez todo o seu talento, ao receber a bandeirada de Eloi Gogliano, tendo no seu encalço ninguém menos que Fifa Carmona, filho de outro mito de nossa história, Felipe Carmona… sim, ele mesmo, um dos criadores da mitológica Esquina do Veneno no centro de São Paulo, hoje mais conhecida como “A Boca”, na esquina das ruas General Osório com Barão de Limeira.
Mas, para escrever este texto sobre o inesquecível Jacaré, foi preciso ir além das pesquisas ou dos depoimentos de quem o conheceu mais de perto ou de quem o enfrentou nas pistas. Era preciso abrir a mente e o coração para entender além. É difícil avaliar sua morte em tempos de politicamente correto, de ruas repletas de radares e de vigilância, e limites de velocidade muitas vezes questionáveis. O trágico acidente na Av. Cidade Jardim, em São Paulo, na frente do já famoso restaurante Pandoro, não foi o primeiro, é verdade. As vitórias nas pistas eram sempre acompanhadas por manobras memoráveis nas ruas movimentadas da capital paulista, muitas vezes com sérias consequências.
Depois de ouvir depoimentos, ver mais de centena de fotos de sua vida pessoal e de sua carreira, de ler as reportagens feitas na época sobre sua performance nas pistas e também a respeito de seus acidentes, ver a reação das pessoas sobre o singelo post feito em nosso site com a pequena parte das imagens de sua vida tentar entender o impacto de sua morte naquela geração, fica difícil, quase impossível, avaliar o que teria sido dele se não fosse aquele racha final em 23 de agosto de 1975.
“Ele era nosso líder no Ibirapuera. Um talento para andar de moto que talvez nem os maiores daquela geração tivessem, e olha que estamos falando de Paolo Tognocchi, Denísio Casarini, Walter Tucano Barchi, Adu Celso, Paulé Salvalagio, Antonio Bernardo, Edmar Ferreira e tantos outros. Ele era um cara diferente.” Afirma Gregory Ross, ou Alemão, dono da Alemão Pneus.
Jacaré passou por esta vida como um cometa e marcou sua geração como poucos. Morreu nas ruas para se transformar em lenda. As reportagens de jornal que retratam o acidente fatal falam entre mil e duas mil motos em seu velório, algo inimaginável mesmo para os dias de hoje. Virou nome de rua em São Paulo e Ibitinga, SP, além de Jardinópolis, SC, e Londrina, PR. A “Carta Aberta aos Motoqueiros de São Paulo”, escrita por Nelita, sua mãe, poucos dias após sua morte, ou a mensagem psicografada pelo médium Chico Xavier, três anos após sua morte, são, no mínimo, tocantes e serviram para alimentar ainda mais o mito Jacaré.
Texto publicado na edição 257 da revista MOTOCICLISMO
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