<p>M., de 12 anos, mal conseguiu dormir de domingo para segunda-feira. Cochilava e acordava a cada par de horas, olhava o relógio da cabeceira e voltava ao travesseiro. O motivo de sua excitação? A aula de história que teria logo pela manhã.</p>
<p>Aliás, não era somente M. que não dormira. K. também “fritou" na cama, e vários outros da escola secundária de Milwaukee. Mal podiam esperar pela segunda-feira. Sob um calor intenso de agosto (lá), M. levantou-se e durante o café da manhã o assunto com os pais não se desviava da aula sobre a História Contemporânea Americana que teriam dali a poucas horas.</p>
<p><img alt="Museu foi inaugurado em 2008, com arquitetura limpa, ambiente bonito e funcional" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/motociclismo_museu_harley_davidson_7_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Engoliu seus cereais, pulou a soleira da porta e embarcou no ônibus escolar amarelo que lhe esperava de portas abertas. Encontrou K. e todos os outros colegas. O destino não seria a escola secundária, estavam em uma excursão. Rumavam para o museu da Harley-Davidson no coração de Milwaukee, Wisconsin, EUA!</p>
<p>Neste mesmo horário, saímos do hotel de estrada em Chicago, Illinois, pela estrada I94 e em pouco mais de uma hora estacionavamos próximo ao ônibus amarelo no estacionamento do museu em Milwaukee.</p>
<p>A construção do museu é imponente, ocupa uma área de mais de 81 000 m² e foi inaugurado em 2008 com arquitetura simples, bonita e funcional.</p>
<p><img alt="Todos os modelos, inclusive os mais antigos, estão impecáveis. O respeito pelo passado se reflete na evolução das motos" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/motociclismo_museu_harley_davidson_10_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Desde a recepção até a última sala deste enorme prédio, fiz uma excursão semelhante a de M. e sua classe. Pude ter a mesma experiência de acompanhar e aprender sobre a história americana através dos faróis de uma motocicleta. Uma Harley-Davidson.</p>
<p>Logo na entrada da primeira sala do prédio somos recebidos por uma fila enorme de modelos de motocicletas estacionadas em ordem cronológica, lado a lado, em fila tripla. Uma evolução que começa no primeiro modelo, a Serial Number One, uma monocilíndrica de 410 cm³ lançada em 1903, avançando em direção aos dias de hoje.</p>
<p><img alt="O porquê de alguns detalhes tem explicação na história. O vídro substituía o metal em tempos de guerra" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/motociclismo_museu_harley_davidson_9_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Seguindo em ordem, moto a moto, você percebe que as motocicletas Harley-Davidson se modificaram conforme os fatos e eventos históricos que a América atravessou, isso inclui duas grandes guerras mundiais, o que não é pouco.</p>
<p>Só na Segunda Grande Guerra, a marca produziu mais de 88 000 motocicletas para os Estados Unidos e seus aliados. Olhando para a turma do colégio, vejo o monitor dos pequenos alunos explicando que uma das inovações do modelo J de 1918 permitia que o proprietário pudesse fazer a lubrificação da moto sozinho, incluindo troca de óleo, pois com a recessão do pós-guerra (abordava, assim, um tema histórico), não haviam tantas concessionárias disponíveis e isso era necessário para que todos continuassem a rodar suas Harleys.</p>
<p><img alt="Réplica da emblemática escultura "The Hill Climber" em tamanho reduzido" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/motociclismo_museu_harley_davidson_11_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>A conversa passava pelo “boom” da propaganda nos anos 50 através de lindas campanhas da montadora e quando a Harley-Davidson, acompanhando a moda, se arriscou em lançar uma linha de bicicletas. Todos os pequeninos (e nós) sem piscar, olhando e aprendendo com a história bem contada e suportada pelas peças únicas que podiam ver ao vivo.</p>
<p>O modelo C (irmão do A e B) foi desenvolvido em 1929, durante uma das piores crises americanas com a quebra da bolsa de valores, visando o mercado externo que estava em melhores condições para consumir um produto de luxo. Aprendemos sobre a grande depressão na década de 1930, que se refletiu em modelos como o ‘R’, de 1935, e no ULH, de 1939, que tiveram apenas mudanças cosméticas, pois na época não havia dinheiro para grandes modificações de engenharia. Começava então a diversidade de cores nos modelos.</p>
<p>Acompanhamos em uma sala lateral a onda das corridas dos anos cinquenta, culminando com o lançamento da Sportster. Na mesma sala, foi possível ver como a sociedade americana se comportava com o pós-guerra, a rebeldia dos sobreviventes. </p>
<p>Os modelos “bobbers”, fruto das motos destinadas a II Grande Guerra da Harley-Davidson que desfilavam nas ruas como troféus ambulantes também estavam expostas. A formação dos primeiros Clubes de Motocicletas pode ser acompanhada em outra grande vitrine do museu americano. <span style="line-height: 1.6em;">A moto voadora do acrobata de duas rodas Evel Knievel também está presente, com direito à uma homenagem emocionante em formato de filme e fotos.</span></p>
<p>Hora do recreio! Uma sala mais técnica recebe a todos nós, alunos, e ali foi possível dar um tempo de história e ver a evolução dos motores ao observar maquetes com cortes laterais de motores reais funcionando e painéis onde se pode ouviar o ronco de cada uma das grandes famílias (Intake Over Exhaust; Flathead; Knucklehead; Panhead; Shovelhead; Evolution; Evolution V2).</p>
<p><img alt="Lado a lado, várias motocicletas clássicas da Harley-Davidson estão expostas no museu" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/motociclismo_museu_harley_davidson_5_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Uma engenhoca permite que o visitante sinta nas próprias mãos as diferenças de equilíbrio que os quadros dos modelos produzem. Continuando a diversão, visito uma sala onde as crianças uniformizadas da escola se acotovelam, pois brinquedos e produtos colecionáveis da Harley estão expostos. Desde chupetas, passando por motinhos à corda e roupas de época, sempre com a marca Harley-Davidson gravada.</p>
<p>No andar superior, podemos ver algo impressionante: um depósito onde são encontrados um exemplar de cada modelo já produzido pela montadora. Fabricou? Separa uma e guarda para o futuro, no museu.</p>
<p>No andar inferior, próximo à saída, percebemos a forma que a Harley influenciou o cinema, são exibidos trechos de filmes épicos como Easy Rider, com direito à visitação e fotos da moto de Peter Fonda. Vemos também tentativas da marca em emplacar scooters e motocicletas trail.</p>
<p>O destaque deste andar é o projeto Rushmore. <span style="line-height: 1.6em;">Com vários filmes e comparações ao vivo de equipamentos alterados pelo projeto. Consideramos</span><span style="line-height: 1.6em;"> um marco, pois a Harley-Davidson, em uma mistura de proteção à marca e garantia que a evolução agradaria ao público, buscou fazer alterações de acordo com o gosto desse último.</span></p>
<p><img alt="A Harley-Davidson deixou sua marca nas pistas de corrida, produzindo vários bólidos" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/motociclismo_museu_harley_davidson_4_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Depois de visitar mais de quatrocentos e cinquenta motos e itens relacionados dentro do prédio principal, saio para dar umas voltas no complexo e encontro uma área onde se pode comprar “Rivets” (rebites grandes) a US$ 18.00 e fixá-los em enormes paredes, com seu nome e uma mensagem. Não precisa dizer que a maioria são HOGs (Harley Owner Group).</p>
<p>Como não poderia faltar, há uma enorme loja com produtos exclusivos e, como poderíamos esperar, um restaurante com comida decente a preços acima do razoável. Mesmo assim, arriscamos um belo burger a US$ 14.95, sentados próximo à turma da escola que não falava em outra coisa além de ter uma Harley-Davidson quando crescesse.</p>
<p>Fizemos a visita em cinco horas, e um retorno é bem-vindo. Há a opção de se tornar membro e visitar quantas vezes quiser por um ano, além de uma série de benefícios, como Rivets e “Dog Tag” (colar com identificação) grátis, 10% de desconto no restaurante e loja e acesso a áreas exclusivas no site. Vale dizer que fotografias são permitidas em todos os locais do museu.</p>
<p><img alt="Esculturas chegam a custar milhares de dólares Algumas são obras de arte como esta da imagem!" height="467" src="http://carroonline.terra.com.br//motociclismoonline/staticcontent/images/uploads/motociclismo_museu_harley_davidson_12_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Além da aula da recente história americana, a visita ao museu mostrou que a Harley-Davidson faz jus à reputação de ser “a” marca nos Estados Unidos. <span style="line-height: 1.6em;">Não há competição! Marcas secundárias são necessárias para a existência da Harley e, estrategicamente, não fazem a menor sombra.</span></p>
<p>Talvez daqui a 110 anos alguma outra retire a coroa da Road King, ofusque os olhos do morcego da Ultra-glide e tenha mais tradição do que um motor Evolution. <span style="line-height: 1.6em;">Hoje, a Harley-Davidson é uma nação de duas rodas, com Milwaukee como capital federal e Willie G. como monarca maior!</span></p>