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Mulheres e motos, relação cada vez mais em alta no Brasil

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  • Publicado: 08/03/2021
  • Atualizado: 09/03/2021 às 16:24
  • Por: Willian Teixeira

Nesta segunda-feira, 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher e não custa lembrar: lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive pilotando motos, cenário que felizmente vem crescendo em nosso país!

Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) analisados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o número de mulheres habilitadas para pilotar motos cresceu 95,7% entre 2011 e 2020, saltando de pouco mais de 4 milhões para quase 7,9 milhões de portadoras de carteira de habilitação da categoria A.

Mulheres e motos, relação cada vez mais em alta no Brasil
Percentual de mulheres motociclistas cresceu mais de 90% no Brasil entre 2011 e 2020 (Divulgação/Harley-Davidson)

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E esse crescimento se intensificou a partir de 2017, segundo o levantamento: mais de 985 mil CNHs de categoria A foram tiradas por elas em todo o país de lá até novembro de 2020. Já de acordo com o Detran.SP, houve um aumento de 8% no total de mulheres habilitadas para a condução de motocicletas no Estado entre janeiro de 2019 e janeiro de 2021, passando de 2,2 milhões para quase 2,5 milhões.

Do busão lotado aos scooters

Econômicas e ágeis, as motos tem ganhado cada vez mais destaque quando o assunto é a mobilidade urbana no Brasil. E a economia de tempo está entre os fatores que levaram a coordenadora de inteligência de mercado Juliana Marques, de 32 anos, a esse universo, mais precisamente ao mundo dos scooters.

“Mesmo morando perto do meu trabalho demorava mais de uma hora para chegar. Pegava de duas a três conduções e ainda caminhava mais de um quilômetro por dia, caminho que passei a fazer em meia hora depois de ter comprado meu primeiro scooter, um PCX branco ano 2013”, comenta. Ela lembra que sua rotina ficou ainda mais intensa na época em que fez pós-graduação, e viveu um acontecimento que acelerou a decisão final sobre a compra da moto: “Já tinha a questão da demora para chegar ao trabalho, e a pós mexeu ainda mais em minha vida, pois a faculdade era longe de casa. E uma noite enquanto eu voltava da aula tentaram me assaltar quando descia do ônibus, dai tomei a decisão de comprar minha moto para largar de vez o transporte público”, relembra.

Mulheres e motos, relação cada vez mais em alta no Brasil
Juliana Marques, motociclista: “Mesmo morando perto do trabalho demorava mais de uma hora para chegar. De moto vou mais rápido” (Arquivo pessoal)

A especialista em inteligência de mercado comenta que sua opção por um scooter aconteceu por conta da comodidade do câmbio automático. “Eu tinha tirado carta uns 4 anos antes de comprar meu scooter, e fiquei tensa por não saber como seria pilotar depois de tanto tempo e resolvi encarar. Comprei uma cota de consórcio e não contei para ninguém, comecei a pagar e usei o dinheiro das férias para dar o lance, e quando fui contemplada optei por um PCX seminovo, ano 2013. No começo foi difícil porquê eu tive medo, é natural, mas não contava para ninguém por medo de ser julgada, e eu não queria mostrar fraqueza”, afirma a especialista em inteligência de mercado.

Ela lembra que enfrentou resistência de alguns conhecidos antes de tirar sua carteira de habilitação, até mesmo um antigo namorado a desaconselhou. “Ele sempre dizia que eu era meio desastrada e não achava uma boa ideia, mas hoje em dia eu tenho minha moto e ele, que se casou e fez família com outra pessoa, parou de andar por opção própria”, diz.

Depois do PCX branco, Juliana adquiriu outro PCX no ano de 2019, este mais novo (ano 2017), que ficou em sua posse até 2020, quando foi roubado enquanto sua irmã – que tirou habilitação da categoria A por influência de Juliana – usava o scooter para voltar do trabalho. “Ela é técnica de laboratório e não pode aderir ao home office, e após esse ocorrido eu estou sem moto, mas quero comprar uma maior para poder usá-la em viagens. Penso em um Yamaha XMAX ou em uma moto de maior cilindrada, ainda estou estudando as possibilidades”, finaliza.

Ganhando a vida em duas rodas

Além de usar a moto como meio de transporte, muitas mulheres também estão tirando seu sustento em duas rodas. Uma delas é Mikhaele Macedo Vieira, que começou a usar sua motocicleta como instrumento de trabalho durante a pandemia. “Com as medidas de isolamento social, o restaurante em que eu trabalhava fechou e tive que sair à procura de algo para garantir meu sustento”, conta a motociclista, que atualmente trabalha com aplicativos de entrega e afirma que não trocará mais de profissão. “Nosso trabalho foi reconhecido e valorizado. Isso é gratificante. As pessoas agradecem por eu levar comida ou documentos até elas e permitir que fiquem seguras em suas casas”, enfatiza Mikhaele.

Mikhaele Macedo Vieira, motofretista: “Nosso trabalho foi reconhecido, é gratificante” (Acervo pessoal)

Vanda Lopes da Silva também é uma delas, mas exerce a função de motofretista desde 2002, quando conquistou uma vaga numa empresa formada somente por homens. “Éramos 43 pessoas e eu era a única mulher. No primeiro mês, bati a meta de entregas. Com isso, fui conquistando o respeito de todos e o meu espaço”, relembra.

O presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, afirma que as empresas estão atentas ao número de mulheres que pilotam motocicletas, que aumenta a cada ano. “É um público exigente. Por isso, o mercado precisa estar atento às suas necessidades. Hoje vemos um número crescente de mulheres que têm nas motocicletas sua fonte de renda, especialmente no cenário atual, em que os serviços de delivery passaram a ter grande papel social o que, consequentemente, deu às motocicletas mais protagonismo nas ruas e avenidas”, diz.

Mulheres e motos, relação cada vez mais em alta no Brasil
O público feminino é exigente e o mercado precisa estar atento as suas necessidades, destaca Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo (Divulgação)

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Temos mais mulheres motociclistas de várias faixas etárias!

Segundo dados do Denatran, faixa das motociclistas entre 26 a 30 anos teve aumento de 50,4% no número de habilitações nos últimos nove anos. Já o total de mulheres com idades de 41 a 50 anos e que possuem CNH categoria A teve um crescimento de 169,4% nos últimos nove anos, passando de 574.233 em 2011, para 1.546.799 em novembro de 2020.

Vanda Lopes da Silva, motofretista: “Em meu primeiro mês bati o recorde de entregas, com o tempo conquistei o respeito de todos” (Arquivo pessoal)

Ainda de acordo com esse levantamento, o aumento mais expressivo de mulheres com carteira de habilitação na categoria A está na faixa acima de 60 anos. Em 2011, elas eram 23.646 e em novembro do ano passado passaram a 147.460, o que representa uma alta de 523,6%. O segundo maior crescimento em termos percentuais foi na faixa etária entre 51 a 60 anos. Em 2011, havia 148.891 mulheres habilitadas a pilotar uma motocicleta neste grupo etário, e até novembro do 2020 elas somavam 609.791 habilitações, o que corresponde a uma elevação de 309,6%.

Elas são mais cuidadosas no trânsito

Uma pesquisa do Infosiga SP, banco de dados do Programa Respeito à Vida gerenciado pelo Detran.SP, aponta que somente 6,3% dos casos de acidentes de trânsito envolvem mulheres na direção, considerando todos os modais, um percentual 16 vezes menor do que o número de acidentes com homens ao volante. As condutoras do sexo feminino representam 40% dos motoristas de todo o Estado, um total de cerca de 26 milhões de condutores.

De janeiro de 2016 a janeiro de 2021, 407 motofretistas homens perderam a vida no Estado, enquanto entre mulheres motofretistas três óbitos envolvendo acidentes foram registrados. “O baixo número de mulheres na categoria somado à prudência feminina contribui para a baixa estatística. As condutoras do sexo feminino definitivamente são mais prudentes no trânsito”, analisa Sílvia Lisboa, coordenadora do Programa Respeito à Vida.

Mulheres e motos, relação cada vez mais em alta no Brasil
Camila Amaral, motofretista: “É bom que há mais mulheres de moto no trânsito, elas são mais cautelosas” (Acervo pessoal)

Há sete anos atuando como motofretista, Camila Amaral Ferreira, de 30 anos, moradora de Itaquera, na zona leste da capital, conta que quando começou a fazer entregas em uma pizzaria quase não havia mulheres prestando este serviço, mas com a pandemia ficou mais comum encontrá-las, principalmente em delivery de aplicativos.

“Pela necessidade, por estar desempregada na ocasião, aceitei o desafio de ser motogirl, entreguei pizza, exames médicos, documentos, e hoje faço entregas por aplicativo”, conta. “Não é uma tarefa fácil porque as pessoas ainda são muito egoístas no trânsito e não respeitam, mas é um trabalho importante principalmente neste período de pandemia e que bom que há mais mulheres de moto porque elas são mais cautelosas, principalmente no corredor, o que faz um trânsito melhor.”, conta Camila.

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