Todo motociclista se identifica por uma marca ou modelo de moto, por ser a primeira, a mais emocionante ou a que apaixona. No nosso caso, é a Montesa!
Texto: Carlãozinho Coachmann
Fotos: Acervo Motostory
Trabalhando entre janeiro e março na exposição Duas Rodas e Uma Nação, que realizamos em Socorro, SP, tivemos que fazer um tremendo exercício para escolher as 38 motos que estariam expostas lá. Isso entre as mais de 250 que pertencem ao Moto Classic Museum, as motos cedidas pelo Remaza Collection, pela Tec Moto e pelo Edgard Soares, fora as outras que poderíamos ter levado e que simplesmente não couberam. Se o Motostory se propôs a falar das histórias das pessoas e suas motos, era preciso falar um pouco também sobre a minha própria história e a do meu pai, o Carlão Coachman.
Definir as motos que fariam esse papel não foi assim um desafio tão grande, afinal, nossa trajetória está intimamente ligada à história da espanhola Montesa no Brasil. O que não deixou de ser uma surpresa, foi descobrir a quantidade de pessoas impactadas pela presença da marca, especialmente pelas icônicas Enduro 250 e 360 H6 e H7. Você se lembra delas? Sabe da história?
Muitas vezes já contei sobre o primeiro contato de meu pai com a famosa Cota 247 de trial. Carlão havia ganho de presente da minha mãe, Lídia, o dinheiro de uma pequena herança. Era para comprar uma moto. Ele foi até a loja de compressores de um espanhol chamado Ramires, na Rua dos Pinheiros, em São Paulo, e tentou comprar uma Cota 247. Meu pai já tinha notícias da moto, sabia o que ela era capaz de fazer, mas o teimoso espanhol não quis vender a moto ao meu pai por julgar que ele tinha pouca experiência, e que ela “era muito brava.” Inconformado, Carlão saiu de lá e comprou a Yamaha DT 250 que se vê na foto da abertura.
A primeira leva de Montesas foi o modelo de trial, a Cota 247. Na primeira foto da galeria acima, Carlão e Ronnie rebocam o Bitencas e sua Puch 125. (foto de Julio Carone). Com a decisão da Ibramoto de nacionalizar os modelos Enduro 250 e 360 H6, as trilhas ficaram amarelas, mesmo elas sendo motos mais caras do que a Honda CB 400
Pouco tempo depois, montado na DT e com um empréstimo aprovado, voltou à loja do Ramirez e disse: “Pronto, se posso pilotar esta DT, também posso pilotar a Cota.” Naquela época, o modelo já era famoso na Europa e havia, inclusive, protagonizado o filme Duas ovelhas negras no cinema, em 1974, com o ator James Caan, em que ele interpreta um detetive que persegue um fugitivo pilotando uma. Meu pai enlouqueceu vendo o filme e decidiu que aquele seria o seu esporte. Nascia o trial no Brasil, a partir de um pequeno grupo de donos de Cotas, liderados por ele.
Nesse grupo havia um grande amigo chamado Sinésio Fernandes, de Campinas, que era muito ligado ao dono da empresa Ibramoto, o Sr. Isidoro Trozman. Ansioso por ampliar seus negócios em uma jovem indústria brasileira de motocicletas, Trozman decide acrescentar a Montesa ao portfólio de marcas da Ibramoto, que já produzia também as Garelli.
Em um encontro entre os três, Isidoro pergunta: “Mas vocês acreditam mesmo na Montesa?”. Sinésio de pronto responde: “Tanto acredito que serei seu primeiro revendedor!”. E Carlão completa: “Eu compro a primeira H6, e nossa turma toda o primeiro lote, mas você precisa trazer também as novas trial Cota 349.” Assim, no princípio dos anos 1980, começa a produção das primeiras Enduro H6, nas cilindradas 250 e 360, que logo se tornariam as rainhas das trilhas brasileiras.
As novas Yamaha DT 180 e Honda XL 250 ainda não tinham chegado, e a TT 125 custava um terço do preço de uma 360, e elas pareciam pouco para enfrentar as especialistas fora de estrada vindas da Espanha. Como não eram baratas, seu mercado ficou restrito, mas a esses dois modelos ainda foram acrescidas a atualizada H7, um foguete nas trilhas, e a cross Capra 250. Com o fora de estrada explodindo e o surgimento dos primeiros enduros, as Montesa viraram sonho de consumo e verdadeiro objeto de desejo até os dias de hoje. Foi justamente isso que me surpreendeu em Socorro, durante a nossa exposição: sonho vivo até os dias de hoje.
Texto publicado na edição 268 da revista MOTOCICLISMO
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