Dentro do projeto Motostory existe um tema: sexo frágil o escambau! E fala de nossas mulheres pioneiras e poderosas.
Texto: Carlãozinho Coachman
Fotos: Acervos Edgard Soares / Motostory
Como um historiador definiria este período da história que estamos atravessando daqui a cem anos? Existirá luz no futuro para que alguém ligue um computador para encontrar os registros de hoje, quase todos digitais? Como será a sociedade daqui algumas décadas depois de acalmadas as mudanças que estamos vivendo? Fui criado e educado por uma mulher à frente de seu tempo chamada Lídia. Uma pessoa sensível e absolutamente livre de preconceitos que me ensinou a não rotular. As atitudes e o caráter definem a pessoa, não seu sexo ou orientação sexual, nem a cor da pele ou religião.
Assim, cresci tendo “todos os tipos de amigos” que alguém pode ter, e aprendi que ser bom ou mau independe de todo o resto… é uma questão de caráter e educação, só isso. Mas, ao longo da história, e hoje olhando para trás, é fácil entender que muitas outras mulheres romperam barreiras antes, para que minha mãe pudesse agir com a independência (emocional, financeira e profissional) que tinha já nos anos 1970, durante a minha infância. Em uma sociedade em constante transformação, existiram outras “revoluções” no passado que nortearam o que somos hoje, certos ou errados.
Em tempos de “empoderamento feminino” (não gosto de rótulos, assim como Morgan Freeman disse na entrevista a Mike Wallace), usamos este espaço Motostory para lembrar de algumas mulheres pioneiras em nosso segmento e que abriram as portas que hoje estão escancaradas, para os milhares de mulheres motociclistas e empresárias do nosso setor.
Quando você estiver lendo esta revista, em julho de 2019, saiba que a Sra. Dedé Ceccarelli terá completado cem anos de vida no dia 11. Tive o privilégio de conhecê-la e a sua história, de comer seus bolinhos durante dois dias de gravação e de recebê-la na humilde homenagem que fizemos ao pai dela, Constante Ceccarelli, durante o mês de junho deste ano. Ela, depois de mais de 40 anos sem ver a moto, foi ao encontro da Matchless G80 de 1948 que pertenceu a seu pai. Nas gravações que temos, um único senão em relação ao seu passado de motociclista e ajudante de mecânica de seu pai na oficina de Campinas, SP: “Ah! Eu tinha tanta vergonha. Nenhuma mulher fazia o que eu fazia naquele tempo. Fosse hoje eu teria aproveitado muito mais”.
O sobrenome da outra mulher de vanguarda da nossa história muita gente conhece Tognochi. Sim, Giulianna é a irmã dos geniais Gualtiero e Paolo Tognocchi de que tanto falamos aqui. O que muita gente não sabe é que ela também foi protagonista dentro da nossa história, não apenas por ser uma fervorosa defensora de seus irmãos nas pistas ou por ter entregado as honrarias a Luiz Bezzi (o mago de Santos) quando este resolveu se aposentar das pistas.
Além de pilotar (competiu apenas uma vez de Lambretta), ela foi empresária e das mais importantes. Decidiu abrir uma revenda da marca na famosa esquina da Rua dos Pinheiros com a Mourato Coelho, onde hoje existe um restaurante. Curioso? Passa lá pra ver. Detalhe: a familia morava na parte de cima do imóvel e ela alugou a parte de baixo sem dar muita satisfação e começou a trabalhar. Pleiteou ser revendedora oficial da marca, pois já conhecia todo mundo, pediu aos irmãos as peças da FAPA S.A., empresa deles e do pai que fabricava peças de Lambretta e também algumas para ônibus (começou com os ônibus, aliás) e montou tudo sozinha. O marido? Só ficou sabendo da empreitada no dia da inauguração, para a qual foi carinhosamente convidado. O nome? Viareggio, uma referência em seu tempo e uma escola para muitos.
P.S.: o nome FAPA não lhe é familiar? Já ouviu falar da Fapinha, fabricante de miniveículos? Já descobriu de onde veio o nome? Pois é, a Fapinha pertence até hoje ao Paolo, irmão dela, e do filho dele Giampaolo. Entendeu?
Texto publicado na edição 259 da revista MOTOCICLISMO
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