Os irmãos Raul e Maurício Fernandes são os proprietários da 2W Motors, que representa as marcas Husqvarna, Piaggio (divisão de triciclos), Fantic, KTM bikes, pneus da CEAT, pneus da Goldentyre, além de donos de duas concessionárias Royal Enfield em São Paulo. Uma delas, por sinal, acabou de completar cinco anos.
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Mas sob os seus atuais cargos de empresários, batem corações apaixonados por motos. Maurício Fernandes é um grande piloto de off road, campeão de inúmeras provas importantes, incluindo o Rally dos Sertões. Raul Fernandes é um dos maiores jornalistas da área de motocicletas e durante muitos anos esteve à frente da MOTOCICLISMO Brasil como diretor de redação. Um exímio jornalista, com uma visão de mercado que poucos têm.
Neste bate-papo, eles falam sobre o negócio, como tudo começou, e da sua estratégia de buscar nichos nesse mercado de motocicletas e bikes. Leia a entrevista abaixo e veja também o vídeo.
Vocês são proprietários da 2W Motors que, por sua vez, tem vários negócios no ramo de motos e afins. Com quais marcas vocês trabalham?
Maurício Fernandes – Hoje a gente representa a Husqvarna Motorcycles e também a Piaggio Comercial, que é a linha de triciclos da marca. Além disso, temos as bicicletas da KTM e a Fantic, que é uma marca de bikes italiana. Somos concessionários da Royal Enfield, em São Paulo. E estamos representando os pneus da CEAT, que são os originais da Royal Enfield. Representamos ainda os pneus Goldentyre, uma marca italiana especializada em enduro, motocross, enfim, off road.
É muita coisa para cuidar, né gente?
Maurício Fernandes – Uma marca está interligada a outra. Como a gente representava a Husqvarna, que é 80% off road, os pneus Goldentyre praticamente fazem parte da operação. Por sinal, um dos motivos de passarmos a importar esses pneus foi justamente a dificuldade de encontrar esse tipo de produto no Brasil. Hoje, temos pneus para atender os clientes e suas motos, e também para o mercado em geral. Com a CEAT é mais ou menos a mesma coisa. Como comercializamos a Royal Enfield no dia-a-dia, vender os seus pneus é algo lógico, que vai junto.
Raul Fernandes – Mas ao mesmo tempo vamos trabalhar também com os pneus de baixa cilindrada da CEAT, para motocicletas utilitárias. Os triciclos da Piaggio também utilizam os pneus da CEAT. Está tudo interligado. Existe muita dificuldade para encontrar pneus de triciclos no Brasil. Teremos um e-commerce para comercializar todas essas marcas e tipos de pneus.
Como foi que a 2W começou? Lembro que o Maurício tinha uma concessionária BMW Motorrad. Depois o Raul se juntou aos negócios do irmão? Foi por aí?
Maurício Fernandes – Eu fundei essa concessionária em 2011, com um sócio. Logo em seguida o Raul veio trabalhar conosco. Depois abrimos a primeira concessionária Triumph no Brasil, em 2012. Em 2015, iniciou a operação da Husqvarna. Em 2017, como assumimos a Royal Enfield, decidimos sair da operação da BMW e Triumph, e passamos a ter um negócio só nosso, sem outros sócios.
Vocês que foram os intermediários para trazer a Royal para o Brasil?
Maurício Fernandes – Fomos os únicos empresários que aceitaram o desafio de encarar a Royal Enfield. Hoje existem muitos concessionários da marca. Mas o primeiro ninguém queria ser. Temos orgulho de falar sobre isso. Porque a Royal ofereceu para vários grupos de concessionárias e nunca ninguém quis. Porque não conheciam a marca, achavam que o produto não teria destaque aqui. Aconteceu a mesma coisa com a Triumph, com o desafio de sermos o primeiro concessionário. Muitos questionaram se sabíamos o que estávamos fazendo, porque o seu histórico no Brasil não era bom.
Raul Fernandes – Com a Royal foi pior porque era uma marca pouco conhecida, sem nenhuma história no país. As pessoas não acreditavam. E por ser um produto clássico, a referência que existia era do número de vendas das clássicas da Triumph, que era pequeno. Hoje estamos em um nível bem alto de vendas e chegamos a atingir o quinto lugar no mercado brasileiro, isso já com todos os 20 dealers funcionando. Mas, mesmo quando éramos a única concessionária em São Paulo, lideramos o Ranking da Motociclismo de motos clássicas por bastante tempo. Temos duas concessionárias em São Paulo, uma na Avenida Ibirapuera e a outra no Jardim Anália Franco, na zona leste.
E com a Husqvarna? Como aconteceu o negócio?
Maurício Fernandes – Sempre fui um piloto de off road e a marca tinha muito a ver com a gente. No começo tive muito contato com eles porque a BMW era dono da Husqvarna. Mas, depois, a BMW vendeu a Husqvarna para o grupo KTM. Como o importador na época estava desmotivado, entrei em contato com a Husqvarna lá fora e eles aceitaram que assumíssemos a operação em 2015. Foi mais trabalhoso porque é um produto de nicho, pouca gente sabe a respeito. Não faz ideia do mercado, porque é preciso estar dentro para conhecê-lo. Como para nós isso não era problema, encaramos e hoje estamos muito bem.
Como vocês entraram na área de bikes? Primeiro com a bike elétrica, certo?
Raul Fernandes – Pouco antes da pandemia, iniciamos uma conversa com a Fantic, na Itália, para que fossemos representantes dessas bikes elétricas no Brasil. Já estávamos pensando em mobilidade. Com a KTM Bikes, nós os procuramos para sermos os representantes aqui no país. No nosso lazer, sempre usamos esse tipo de bike. Assim, já estávamos pensando nesse produto, pois muitos pilotos usam bicicleta para treinar. A KTM veio para complementar a gama de bikes.
Na área de triciclos, com a Piaggio, como vem sendo a aceitação?
Raul Fernandes – O triciclo está dentro do ramo de motocicletas, porque ele é considerado “motos e similares”. Também foi pensado na questão da mobilidade urbana. Ele não tem, por exemplo, a questão do rodízio aqui em São Paulo. Além disso, é bastante econômico, com um consumo muito próximo de uma motocicleta. Como veículo de carga, chega a carregar 500 kg. Na versão de passageiros ele leva três pessoas. Tem modelo elétrico e outro a combustão. Estamos com o veículo em fase final de homologação, para iniciar as vendas.
Maurício Fernandes – Já vimos que o modelo de passageiros tem muita procura em condomínios, sem falar das oportunidades como moto táxi.
Em algum momento vocês olharam para trás e sentiram falta? Maurício, de ser um exímio piloto e de ter tido o seu nome ligado à competição. Raul, por ter sido um exímio jornalista, diretor de redação da MOTOCICLISMO Brasil. Hoje, ambos são executivos. Só não andam de terno e gravata, né?
Maurício Fernandes – Agora está até mais fácil ser piloto: quando chega o container eu já escolho a minha moto (risos). Como eu continuo no esporte, é mais simples administrar o negócio, especialmente na área do off road. Dá para entender bem quais são as necessidades do consumidor. Atualmente estou correndo o brasileiro de motocross. Em 2020 eu ganhei o Rally dos Sertões, em uma das categorias. Tem muita gente no mercado que só faz as coisas visando o dinheiro no final do mês. E não é a mesma coisa!
Raul Fernandes – Eu continuo usando a moto no dia a dia. Estou sempre nos passeios que realizamos. Foi um conhecimento que ganhei na MOTOCICLISMO Brasil e que eu não iria jogar fora. Todo o estudo de mercado que eu fiz enquanto trabalhava na MOTOCICLISMO, isso nos ajuda bastante também. Como, por exemplo, fazer algum estudo sobre uma marca ou outra. Até mesmo sobre os estudos de pneus e as suas possibilidades. Viemos ganhando bagagem, criando uma estrutura e um conhecimento que hoje podemos usar nos nossos negócios. Dinheiro acaba sendo uma coisa natural, uma consequência, mas não o motivo principal.
Tem mais negócios em vista? Ainda há brechas nesse mercado de motos e bikes?
Maurício Fernandes – Sim, ainda tem muitas. Alguns colegas nossos, do jornalismo, falaram: “vocês não param”. Mas não é isso. A gente não pode parar para não ser atropelado. Em qualquer mercado você sempre tem que andar para a frente. E conquistar novas oportunidades, encarar novos desafios. Uma coisa que é o máximo hoje, amanhã não é mais. Precisamos estar sempre atualizados.
Qual mensagem vocês gostariam de passar para os leitores da MOTOCICLISMO Brasil?
Maurício Fernandes – Acho que é importante entender e valorizar os profissionais da indústria do motociclismo. No final do dia, entra moto, sai moto, entra peça, sai peça, mas esse pessoal está sempre ali trabalhando pelo motociclismo. A moto é uma paixão e sempre vai ser. O importante é saber se divertir com a motocicleta onde for, na terra, na rua, no asfalto, na estrada, enfim.
Raul Fernandes – A minha mensagem é que sempre devemos acreditar nas oportunidades. Estudar bastante, claro. Com certeza nada é fácil, em todos os mercados. As vezes o que era considerado uma coisa de louco, acaba virando algo muito legal! Depois de um tempo as pessoas falam: “aquele cara era um visionário”. Não, as oportunidades surgiram, ele aceitou o desafio de tentar vencer os obstáculos. Aí o tempo passa e aquilo acabou se tornando uma coisa simples e corriqueira. E não podemos esquecer de ter a paixão no coração. Porque quando se acredita com paixão, a gente se cansa menos, se considera trabalhando menos (pois trabalhamos com o que a gente gosta). Acreditar para vencer, sempre!