Entrevista_Marcos-Bento_presidente-da-Abraciclo
Especiais

Entrevista com Marcos Bento, presidente da Abraciclo

14 Minutos de leitura

  • Publicado: 20/10/2023
  • Por: Redação

Marcos Antonio Bento está na presidência da Abraciclo desde o primeiro semestre de 2023. Diretor Executivo de Relações Institucionais da Honda no Brasil, o executivo assumiu o posto no lugar de Marcos Fermanian, que ocupou a posição por 11 anos.

Formado em Direito pela UFG (Universidade Federal de Goiás), Bento ingressou na Honda em 1996, na unidade de Manaus (AM). Em seus 27 anos de carreira na Honda, acumulou experiência nas áreas de Logística, Fiscal, Controladoria e Jurídica, abrangendo os negócios de motocicletas, automóveis e serviços financeiros.

O editor da revista MOTOCICLISMO, Ismael Baubeta, teve a oportunidade de conversar com o novo presidente da Abraciclo. Neste bate-papo eles falaram sobre as atividades da entidade perante o mercado brasileiro de motos, as expectativas para o segmento, além de segurança na pilotagem e muito mais. Confira no vídeo abaixo, ou leia a entrevista nos próximos parágrafos deste artigo.

MOTOCICLISMO: Gostaríamos que você começasse falando um pouquinho sobre a Abraciclo. Qual é o mote de trabalho da Abraciclo com relação às motocicletas?

MARCOS BENTO: Bom, a Abraciclo é uma entidade que tem mais de 47 anos. A gente tem 14 associados, são dez associados de motocicletas e quatro associados de bicicletas. Os nossos dez associados de motocicletas estão entre os dez mais importantes fabricantes de motocicletas do mundo. Então, a Abraciclo tem um papel muito importante de defesa dos interesses desses associados, que significa melhorar a discussão técnica, regulatória e de trânsito em relação à motocicleta. Então, todos esses assuntos são capitaneados pela entidade. Essa é a importância e é o papel que nós estamos aqui fazendo.

MOTOCICLISMO: Com a entidade pública…

MARCOS BENTO: Em todos os setores. É claro que a gente tem um grande relacionamento com as autoridades, porque o país é um país regulado, mas também com outras associações, com a imprensa e com todos aqueles que querem discutir a importância da motocicleta no Brasil.

MOTOCICLISMO: E existe uma relação da entidade também com os não associados, com as marcas que não fazem parte da Abraciclo, por exemplo. Vocês têm algum, alguma relação com eles, algum trabalho específico?

MARCOS BENTO: Bom, como eu disse, a gente tem dez associados de motocicletas e quatro associados de bicicletas. O principal fator que nos une é que todos esses 14 fabricantes estão estabelecidos com fábrica na Zona Franca de Manaus, e a associação tenta reunir todos aqueles que são dedicados à fabricação de motocicletas na Zona Franca de Manaus. A gente tem mantido contato com aqueles que querem se associar, né? É claro que a gente tem regras, princípios e regulamentos a cumprir, mas estamos abertos para que a associação possa congregar todos aqueles fabricantes que produzem motocicletas na Zona Franca de Manaus.

MOTOCICLISMO: Pelo bem da motocicleta.

MARCOS BENTO: Com certeza. Eu acho que quanto mais a gente tiver unido embaixo de uma bandeira que busca um bom relacionamento com as entidades, um ambiente regulatório favorável para o desenvolvimento e crescimento do produto motocicleta no país, é muito importante que a gente esteja reunido numa estrutura que vai te dar a condição de ter pessoas técnicas, embasamento jurídico para que a gente possa fazer uma discussão e uma interação saudável com as autoridades.

MOTOCICLISMO: Cada vez mais as marcas estão fazendo lançamentos mundiais e o Brasil está inserido nesse mapa, vamos dizer assim, de lançamentos. Como você vê essa participação do Brasil no mercado mundial desses lançamentos, vamos dizer assim, das motos?

MARCOS BENTO: Muito boa a sua pergunta, Ismael, porque acho que é importante. Não sei se todos sabem, mas o Brasil hoje é o maior produtor mundial de motocicletas fora do eixo asiático. Isso é muita coisa, né? A gente tem aí uma indústria de quase 50 anos de história no Brasil, e nós estamos aqui com as maiores marcas de motocicletas do mundo, os maiores produtores mundiais de motocicletas de alta tecnologia no mundo, com fabricantes em Manaus. Então, isso nos eleva a um patamar de que a motocicleta brasileira, ela está num patamar de primeiro mundo a nível de qualidade e tecnologia. Então, para você ter ideia, hoje a gente exporta para países considerados primeiro mundo em tecnologia, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, França. Além disso, a gente tem, além de obedecer, como você disse, os lançamentos globais, as motos de ponta que são lançadas lá fora, a gente tem esse tipo de qualidade no Brasil, o Brasil é pioneiro e protagonista no etanol, que é uma tecnologia brasileira, né, que fez com que a gente hoje tem aí cerca de mais de 65% da produção de motocicletas no Brasil hoje são flex com tecnologia flex, e isso faz com que o nosso produto contribua muito com a política de descarbonização e também nos torne um país de vanguarda, a ponto da nossa tecnologia flex já foi anunciada e em breve também será produzida na Índia, que é um dos maiores mercados produtores de motocicletas do mundo. Então, acho que hoje é o cenário de produção de motocicletas no Brasil é um cenário de muito orgulho para nós. Nosso produto Made em Manaus é um produto de alta tecnologia, de alta performance e também com uma capacidade de levar para o consumidor brasileiro um produto que não perde em nada para qualquer mercado estrangeiro.

MOTOCICLISMO: Essa invasão de motocicletas e principalmente, scooters elétricos. Você vê isso como uma tendência? E agora estão falando do álcool. Como você enxerga essa entrada de motos elétricas? Você acha que se sustenta? Vai continuar ou o caminho deve ir mesmo pelo etanol?

MARCOS BENTO: Eu acho que o caminho é o anunciado por todas as grandes montadoras. Eu acho que não é somente a questão de eletrificação. O que estamos falando hoje é de descarbonização. Então, nesse sentido, é claro que o Flex já é um movimento muito forte, é uma tecnologia que temos domínio e que contribui muito para a política de descarbonização. Então isso é um é um orgulho do nosso programa brasileiro, da nossa tecnologia, porque ela está totalmente alinhada com a política de descarbonização, mas a eletrificação é uma realidade. Todos os nossos fabricantes detêm essa tecnologia. Eu acho que é de conhecimento de todos, recentemente, quatro montadoras japonesas lançaram um programa de união tecnológica para também produzir novas tecnologias alternativas em relação ao combustível. Então, a eletrificação é uma realidade e eu acho que ela será gradativamente e ampliada no Brasil, de acordo com o desenvolvimento de infraestrutura, adaptação do produto, e eu acho que passa a ser uma realidade sim, para o mercado brasileiro.

MOTOCICLISMO: Pouco se fala sobre o descarte dessas baterias. Pelo menos a gente não tem muita informação sobre isso porque parece que é um problema. Pode ser um problema.

MARCOS BENTO: Sim, eu acho que é. Hoje a gente tem um mercado de 0,5% do nosso, de participação do mercado dos elétricos. Eu acho que globalmente, não só a indústria de motocicleta, mas a indústria de automóveis tem discutido muito a temática da eletrificação. Mas e a temática da eletrificação? Ela deve ser feita com muita responsabilidade. O que significa isso? Nós precisamos obedecer todos os critérios em relação ao uso da tecnologia. A utilização do recurso elétrico combinado com investimento em infraestrutura e também quanto às regras de descarte quanto ao uso da bateria, né? E eu acho que o Brasil está no caminho certo. A gente tem preparado essa discussão com as autoridades. Ela é muito aberta, franca.

MOTOCICLISMO: Mas não tem uma regulamentação ainda a respeito disso.

MARCOS BENTO: E eu acho que hoje, até pelo volume, até por ser uma coisa inicial, essas questões estão em discussão, né? Mas eu acho que com certeza é para que haja, vamos dizer, uma maturação da tecnologia. Será fundamental a discussão dessa temática do descarte.

MOTOCICLISMO: Uma outra questão muito importante que a gente vem falando, que é sobre a faixa exclusiva de motocicletas que ela foi reintroduzida, Foi anos atrás? Foi. Fizeram um teste que não deu muito certo e agora foi reintroduzida com muito sucesso, principalmente aqui em São Paulo. Na Avenida 23 de Maio, foi expandida para a Avenida dos Bandeirantes. Você vê isso como uma tendência que possa também ser exportado, vamos dizer assim, para outros Estados e outras metrópoles.

MARCOS BENTO: Acho que a faixa azul, como você disse, e é uma realidade muito feliz, muito, muito concreta, que aconteceu no no último ano em que a gente vê e mais do que redução de acidentes, mas a gente vê uma harmonia, um espaço racional para que o usuário da motocicleta possa transitar por grandes avenidas em harmonia com os automóveis. Eu acho que esse estudo, a Abraciclo como entidade, acompanhou muito de perto. Junto ao CD, o Senado, e nós apoiamos essa iniciativa. E é claro que tudo isso precisa ser feito estudo técnico, aprovações técnicas pelos órgãos responsáveis e a gente entende como uma medida positiva. É claro que esta realidade sendo exportada para outras capitais vai depender, é óbvio, disso que eu falei, de estudos técnicos de cada município e as devidas aprovações. Mas eu acho que os números de São Paulo e os depoimentos e de nós, Eu que moro em São Paulo, sei também que a gente utiliza essas duas vias. Eu acho que a realidade de mudança, ela, ela é perceptível, já, já credencia. Eu acho que num estudo para uma nova capital, uma implantação para um novo município, eu poderia dizer para você não como é, mas como Bento, usuário que utiliza. Ontem mesmo eu utilizei a 23 de Maio e é bom, a gente vê, né? Essa harmonia que hoje existe entre a motocicleta e o automóvel. Então, eu acho positivo e eu acredito que é um estudo bem feito. Credencia para que novas capitais, novas metrópoles ou novos centros possam utilizar na mesma condição, como São Paulo fez.

MOTOCICLISMO: Funciona mesmo. A gente percebe, Sim, muito.

MARCOS BENTO: Ontem mesmo eu fiz esse trajeto e fiquei impressionado porque a gente ficava naquele, aquela troca de faixa, aquele receio ali. Mas é que eu acho.

MOTOCICLISMO: Que a delimitação de um espaço para motocicleta faz com que o usuário de carro também respeite mais aquele espaço, né? Sim, ele até então ele estava na faixa dele. Os dois estavam na faixa dele. A moto era um intruso. Vamos dizer assim…

MARCOS BENTO: E vamos dizer assim, por mais que ele seja uma linha, né? Vamos dizer quase que. Mas a questão do respeito do espaço ele é necessário, né? Você vê que em alguns outros países, por exemplo, os automóveis dão prioridade para o veículo menor, que é a bicicleta, né? E às vezes, aqui, talvez por uma cultura, a gente tem esse espírito de concorrência, né? E o ideal é que a gente tem uma harmonia, né? Ou seja, são dois veículos que precisam trafegar na mesma via.

MOTOCICLISMO: E a gente entra já num outro assunto que eu queria abordar aqui também, que é a questão da preparação, principalmente dos motociclistas. A gente está falando aqui Qual? O que a Abraciclo faz com relação a atividades? Enfim, para fomentar a boa formação do novo motociclista ou a reciclagem do motociclista? Enfim, a melhoria da pilotagem do motociclista com relação à segurança, à consciência, enfim, tudo que envolve a pilotagem de uma motocicleta.

MARCOS BENTO: Acho que a Abraciclo tem várias iniciativas relativas à formação do condutor, a segurança viária. A gente participa de câmaras temáticas junto aos órgãos regulatórios. Nós também temos as iniciativas de cada fabricante em relação ao ensino, à educação, à estimulação de práticas de boa condução. E é importante destacar que a. Formação ela. Existe uma discussão sobre a questão do tempo, burocracia e custo. Eu acho que o ideal para o cliente, o nosso cliente, principalmente o cliente de entrada. Às vezes existe muito essa discussão, tempo de emissão da CNH versus custo dessa questão burocrática. Mas a preocupação maior da Abraciclo também é com o quesito formação. Então, a gente acredita que essas discussões que estão sendo feitas e precisam ser feitas em relação à melhoria do processo de formação, não pode prescindir a questão de formação, mesmo a formação técnica do condutor. Eu acho que é essa educação, essa formação técnica que vai fazer com que a gente tenha pessoas mais preparadas para que a gente tenha um trânsito mais seguro. E também comentava sobre a questão de educação, né? Eu na escola. Educação na escola. Porque trânsito? É feito por todos nós. Não importa se você usa motocicleta, carro, ônibus ou se você é pedestre, né? A gente vê inúmeras situações em que a gente está discutindo culpa, mas muitas vezes é falta de informação. Falta de educação. É a pessoa que precisa respeitar o espaço do outro, dá a vez para quem precisa passar por uma faixa de pedestre. Então, respeito. E eu acho isso o quanto antes, né? A gente pudesse introduzir esse assunto numa formação educacional, né? Como outros países fazem noções mesmo. Isso com certeza faria. Contribuiria porque eu acho que isso é um conjunto de ações, contribuiria para que a gente tivesse um trânsito mais seguro.

MOTOCICLISMO: Isso é uma questão de gerações, né?

MARCOS BENTO: Eu brinco que. Eu morei no Japão há quase 30 anos atrás e tem uma cultura de as criancinhas pequenas vão para a escola sozinha, mas ele chega, levanta a mão, não a faixa de pedestre e todo mundo para ele atravessa, né? Ele está acostumado porque ele tem noção. Então, por exemplo, ele não passa atrás num veículo que está dando marcha ré. O que a gente é não é uma crítica, é uma uma realidade. Às vezes a pessoa não é.

MOTOCICLISMO: Não passa.

MARCOS BENTO: Não passa ali atrás ou a pessoa nunca teve a oportunidade de frequentar um curso para tirar uma habilitação. Mas enquanto passageiro ou enquanto pedestre, ele também precisa ter essas noções, né? E eu acho que deixar toda essa responsabilidade somente para a habilitação, né? Eu acho que a gente perde, perde esse tempo de formação, né?

Assine nossa newsletter e receba os principais destaques da MOTOCICLISMO diretamente em seu e-mail! Para se inscrever, clique aqui.

MOTOCICLISMO: Um cuidar do outro, na verdade, né?

MARCOS BENTO: Porque é respeito, né meu, O meu limite, o meu espaço. E, vamos dizer.

MOTOCICLISMO: Terminam quando começam.

MARCOS BENTO: E essa harmonia é importante, né? Não somos concorrentes, estamos todos querendo utilizar a mesma via da melhor forma e todo mundo com pressa, mas prescindindo de respeitar a outra pessoa. O direito dele, né? Tudo isso, a educação básica de que? Que vai fazer com que a gente tenha mais segurança, um trânsito mais seguro. Legal.

Siga a MOTOCICLISMO nas redes:
Instagram | Facebook | Youtube 
Twitter | GoogleNews

MOTOCICLISMO: Estamos terminando. Qual que você acha que é o maior desafio da Abraciclo aí nesses próximos tempos?

MARCOS BENTO: E eu acho que o Como Nós Congregamos todos os todos os nossos associados são fabricantes, são indústrias. Eu acho que é um olhar geral da indústria. Hoje é a situação macroeconômica, né? Eu acho que a gente tem que a gente precisa de um ambiente de negócios favorável. A gente está chegando num patamar de retomada de crescimento para o segmento de bicicletas e a gente só consegue isso com a condição macroeconômica estável, né? Ou seja, ter uma uma uma economia estável. Ter. Um cliente que possa comprar o nosso produto é um ambiente favorável para isso. Isso é muito importante. Então esse olhar não é só o nosso segmento, toda a indústria tem isso. Eu acho que também um A gente tem um grande desafio em relação à reforma tributária, mas a gente vê com muito otimismo essa primeira fase, que já passou pelo pelo, pela Câmara e agora caminha pelo Senado. E eu acho que a gente está aí num caminho bom, né? Acho que o mercado tem uma perspectiva boa para 2023 e a gente espera que tudo isso caminhe como tem sido agora, para que os próximos anos a gente continue com esse crescimento saudável e sustentável, que vai ser bom não só para o mercado de motocicletas, para nós, os fabricantes em geral, mas de um modo geral, porque a motocicleta hoje é um produto que é utilizado como fonte de renda, né? Então, acho que esse protagonismo que a motocicleta conseguiu diz respeito tão somente o olhar direto para o cliente, né, Que é oferecer um produto de alta tecnologia de alta performance, com preço justo e com consumo de combustível. É, vamos dizer, equacionado, né? Então, tudo isso faz com que o produto seja atrativo. Então, todo o nosso olhar, Ismael, é para que a gente continue ter esse ambiente favorável, para que a gente continue crescendo e oferecendo esse produto. Para nós, motociclista, para você, para todo mundo, para que a gente tenha um produto de alta performance legal.

MOTOCICLISMO: Para finalizar, deixe um recado para os nossos seguidores, internautas, leitores. Fique à vontade!

MARCOS BENTO: Bom, primeiro eu queria agradecer a oportunidade de poder falar com esse importante meio de comunicação e dizer que motocicleta é um produto que apaixona os brasileiros, que apaixona e aqueles que usam. E que nos orgulha por ser um produto brasileiro de alta performance que pode ser inclusive exportado para diversos países. Então, ter um veículo importante como vocês, que fala exclusivamente desse produto motocicleta para nós também, que faz parte dessa indústria, é muito importante. Então, eu queria agradecer essa oportunidade de desejar para vocês aí e muito sucesso e uma vida longa em relação ao desenvolvimento desse produto que nos une e nos apaixona.

Deixe seu Comentário

Conteúdo Recomendado