Reduto de natureza retumbante, a Patagônia é um lugar incrível para percorrer de motocicleta
Texto e fotos por Ton Pederneiras
A expectativa que uma viagem como esta percorrendo a Patagônia na Argentina e no Chile gera é enorme e os desafios de pilotagem também. Montamos um grupo muito divertido com pessoas de várias partes do Brasil para viver esta experiência deslumbrante durante oito dias, percorrendo de maxitrail pitorescas formações, lagos gigantes, vulcões impressionantes e vistas espetaculares da Patagônia, onde o clima só respeita a própria vontade.
Dia 1 – Encontro em Bariloche
No caminho para o hotel em Bariloche, o lago Nahuel Huapi, aos pés dos Andes, com a cidade brilhante ao fundo e sua catedral já deram um spoiler do que teríamos pela frente. Depois que todos chegaram ao hotel, fomos nos conhecendo e logo montamos nossa primeira mesa compartilhada no restaurante El boliche de Alberto, onde começamos experimentando suculentos cortes de carne argentina regados a cerveja e vinho locais. A tarde foi livre para que todos pudessem conhecer o centrinho e fazer câmbio. À noite o jantar foi no Don Molina, onde o cordeiro patagônico é a especialidade da casa. Depois do champanhe de entrada, vieram várias garrafas de vinho e muita carne, tudo impecável e delicioso. Em comum tínhamos estampada em nossos rostos a ansiedade para subir nas motos.
Dia 2 – A fronteira a ser comemorada
Depois de um café da manhã reforçado, todos equipados e sobre suas montarias que os levariam pelos próximos sete dias, começamos a jornada. O comboio invade a estrada contornando o lago Nahuel Huapi com a cordilheira avermelhada ao fundo deixando a catedral cada vez menor. Poucos quilômetros adiante acessamos a lendária Ruta 40, sentido Villa La Angostura. O relevo da cordilheira e a quantidade de lagos proporcionaram vistas lindas, e a estrada sinuosa, com subidas e descidas e que a cada curva desvenda um novo cenário, só diversão. Nesse lugar incrível os motociclistas começam a se soltar sobre suas motos e naturalmente, como magia, começam a fazer parte do cenário. A parte mais difícil do dia foi nas aduanas com os trâmites de imigração no Paso Central, entre tudo levamos sete horas, por isso o carro de apoio é tão importante, sempre que a sede ou fome entravam em cena, havia à disposição de todos água, isotônicos e energéticos, além de mix de castanhas e cereais, entre outros agrados. Passada a dificuldade, a cordilheira nos recompensou como vitoriosos, uma estrada belíssima atravessando florestas de árvores gigantes e secas que pareciam ter sido tiradas de um quadro surrealista e, lá no topo, tal qual o pódio, a placa “Bien-venidos a Chile”, a alegria da foto resume o sentimento de vitória. Chegamos à noite em Puerto Varas, onde os peixes do cardápio nos esperavam em destaque no menu.
Dia 3 – Chloé, uma ilha no Pacífico
Da janela do quarto a vista do vulcão Osorno emociona, mas o belo lançador de lava teria de esperar, pois o destino do dia seguinte seria a ilha de Chloé, e não o vulcão. Descemos rapidamente por autoestrada até o fragmentado litoral do sul do Chile, onde pegamos uma balsa até a curiosa ilha. Na travessia uma bela surpresa animou o percurso: vários lobos-marinhos nos acompanharam fazendo mergulhos e reaparecendo nas gélidas águas do Oceano Pacífico. O tempo ajudou no percurso para conhecer a ilha, tivemos a sensação de estar no dia, lugar e hora certos. Passamos por Castro e descemos até Chonchi, onde conhecemos as simpáticas e coloridas casinhas de palafita à beira-mar, um tradicional cartão-postal onde tudo é construído em madeira. Depois de um almoço com salmão e frutos do mar, fomos conhecer as famosas igrejas, construídas pelos jesuítas, de arquitetura ímpar e tombadas pela Unesco como patrimônio da histórico da humanidade. De volta a Castro, nos hospedamos em um incrível resort e cassino com todas as regalias possíveis e, no jantar, acumulamos várias rolhas de vinho, já que também comemoramos dois aniversários no grupo, uma noite sensacional.
Dia 4 – O vulcão do outro lado do lago
De volta ao continente nos preparamos para o próximo destino, o vulcão Osorno. A estrada que contorna o lago Lallinque parece ter sido construída por um motociclista, com ótimo pavimento, cheia de curvas acompanhando o relevo e que permite admirar o vulcão de vários ângulos. Depois de uma bela foto no mirante começamos uma subida indescritível até o vulcão. A estrada do parque começa rodeada por mata e, à medida que ganhamos altitude, a vegetação vai mudando e passa a ser baixa, típica dos Andes. O cenário muda e as curvas alternam a vista entre o cume nevado do vulcão e o lago gigante lá embaixo. Já estávamos próximos da montanha que admirávamos há dois dias, agora podíamos ver os belos recortes na neve com seu brilho azul e a terra escura sob ela. A subida até o vulcão é feita em dois lances de teleférico até o ponto onde se chega ao glacial mais próximo, onde todos voltamos a ser crianças fazendo guerra de neve, deslizando sobre ela e nos divertindo muito. Deixamos o Osorno em busca de outro vulcão, o Villarica, o qual avistamos ao final do dia, soltando fumaça.
Dia 5 – O lago entre vulcões
Ficamos na cidade de Pucón aos pés do vulcão dois dias, mas como andar de moto é uma premissa, fizemos o Circuito dos Siete Lagos. Uma bela estrada que segue ao sul de Pucón. Ladeamos vários lagos até onde um deles forma uma praia e os mais corajosos puderam mergulhar em suas águas geladas. A surpresa destes corajosos foi sentir a areia do fundo do lago quente, graças à atividade vulcânica. O merecido descanso foi em cenário fabuloso cercado por montanhas, florestas e outro vulcão ao fundo. Voltando a Púcon a cidade turística ofereceu infinidade de opções: uma delas foi a cerveja na praia de areias negras, além de muitos restaurantes com pratos típicos muito bem preparados.
Dia 6 – De volta à cordilheira
A experiência nos Andes é inesquecível e sempre impressiona. Fomos cruzando o passo Mamuil Malal com suas subidas e curvas maravilhosas, onde pudemos aproveitar todo o potencial das motocicletas por mais de uma hora. Por todos os lados as montanhas nevadas enobrecem o visual e nos fazem pequeninos. A travessia da fronteira foi rápida e, para enfrentar o off-road que viria adianta, ministramos um pequeno curso de todo-terreno para que todos pudessem ficar mais à vontade sobre suas motos. Vencidos os obstáculos off-road acabamos chegando cedo à San Martin de Los Andes, cidade muito arborizada com suas casas típicas de montanha e ótimas parrillas para continuar delirando com a boa carne e os excelentes vinhos da região. A cidade concentra um centro comercial onde é possível fazer compras de equipamentos para aventura das melhores marcas e foi aproveitado pelos viajantes depois da merecida siesta. Como não poderia ser diferente, à noite enchemos os pratos de carne e as taças de vinho, pois o prazer gastronômico também faz parte do objetivo de nossa viagem.
Dia 7 – A ruta
Fizemos a volta pela Ruta 40, provavelmente o melhor trecho do roteiro, conhecida como a Route 66 da América do Sul, que por lá é chamada de Ruta dos Siete Lagos (mesmo nome do circuito chileno) e percorre o alto da cordilheira com uma sucessão de curvas sem fim num sobe e desce frenético. No percurso, muitos mirantes em diferentes lagos e a união do grupo já fazia parecer uma família, compartilhando a experiência euforicamente. O almoço foi em uma charmosa cabana em Villa La Angostura com vista encantadora para embalar a refeição. O roteiro terminou onde e como começou, em Bariloche, em frente ao lago, com o avermelhado dos Andes ao fundo e as torres da catedral guiando-nos como um farol. O encerramento foi com um maravilhoso jantar onde pudemos reunir e projetar as melhores imagens da viagem.
Dia 8 – A despedida
Aos poucos fomos nos despedindo com o coração repleto de boas memórias da Patagônia. Encontrei o último parceiro deixando o hotel, ao lado das motos, olhando para o lago com os olhos cheios de lágrimas, o que resume a emoção de todos, em uma viagem em lugar incrível e abençoado.
Ton Pederneiras | 11 99512-1382
Tour Guide TRX e jornalista
www.destinoincerto.com.br