A nova coluna da Ju Corguinha está em clima de viagem! Você vai descobrir como a nossa aventureira se inspira para planejar roteiros e viver novas aventuras, sempre trocando muitas figurinhas com outras destemidas meninas muito atuantes neste universo chamado motociclismo. Confira!
Férias chegando, planejamento da viagem correndo contra o tempo e eu, super ansiosa para aproveitar cada segundo que a estrada vai me proporcionar na expedição que farei em janeiro por cinco países da América do Sul. Eu sempre sonhei em fazer expedições de moto e levei 11 anos para conseguir conciliar as férias, o trampo e o dinheiro para realizar a primeira viagem tão sonhada que me desconectou da rotina e me enriqueceu pelo contato com outras culturas. Viajar expande nossos horizontes e nos transforma, criando um novo olhar sobre a vida. É incrível essa transformação!
A minha primeira expedição aconteceu em março de 2018, teve 21 dias e contou com mais de 6.000km. Segui em uma Ténéré 250 de Niterói (RJ) até Porto de Galinha (PE), com um roteiro no qual passaria por alguns lugares já conhecidos e outros a conhecer, e esse movimento foi importante para entender a dinâmica da estrada com o meu desejo de desbravar os lugares destacados, ou não, pelo caminho. Para planejar a primeira expedição, conversei com amigos viajantes, peguei dicas nas redes sociais, realizei várias pesquisas na internet e fui desenvolvendo cada etapa de acordo com o meu interesse.
O roteiro, passando por rotas não tradicionais, trouxe emoção e a essência de liberdade que o mundo das duas rodas nos proporciona. Recordo-me da adrenalina na travessia do Rio Mangaba, do município de Japaratinga para Porto das Pedras na AL-101, ao ver o tamanho da embarcação que faria o meu transporte e da moto, confesso que tive muito medo dela afundar! Era um barquinho bem pequeno, foi só emoção!
Essa estrada – AL-101 – que citei, está localizada no litoral de Alagoas e é considerada uma das mais bonitas do Brasil, um verdadeiro tesouro nordestino que também é conhecido como Rota Ecológica. Ela possui apenas 40 km de extensão com uma exuberância absurda. Ao longo do trajeto, é possível conhecer praias paradisíacas, falésias, mangues, rios, coqueirais e vários vilarejos. O meio de subsistência local é o turismo e o artesanato. Quando passei por lá, via estava bem sinalizada e conservada.
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Apesar do estudo e definição do roteiro dessa viagem, uma opção, que não abri mão, foi a possibilidade de adaptações ou mudanças de rotas para conhecer atrativos indicados por nativos. Geralmente, por meio dessas indicações, conhecemos locais encantadores e fora dos destinos comerciais. Foi assim que conheci a Lagoa dos Tambaquis em Estância, no Sul de Sergipe.
Uma lagoa nascida pelas águas das chuvas e que é abastecida de tambaquis pelos moradores da região. Passar o dia banhando-se nas águas cristalinas, alimentando os peixes e fazendo esportes como mergulho e stand-up são o atrativo do local. No entorno da lagoa, existem vários restaurantes que possuem mesas na areia e cadeiras dentro de água. Durante toda viagem, tive muitas experiências boas e a melhor é a relação de amigos que fiz pelo trajeto. Só quem vive a estrada entende o sentimento das amizades alcançadas pelo caminho.
Ao longo desses 5 anos após a primeira expedição, surgiram outras incríveis como Chapada dos Veadeiros, Tocantins e Jalapão, Chapada da Diamantina, Serras Catarinenses e os Estados do Sul, essas experiências nacionais me cativaram e me impulsionaram para que, agora, eu conquiste a primeira expedição internacional.
O roteiro está definido de forma macro, iniciarei pelo Uruguai, passando por Argentina, Chile, Bolívia – se o tempo ajudar – e retornando pelo Paraguai. Destaquei alguns atrativos imperdíveis, mas o planejamento ficará em aberto caso surjam novas vivências em locais não tão populares que possam ser indicados ao longo do caminho, ou que você leitor possa me indicar.
Nesse processo de planejamento, fui buscar algumas inspirações, conhecer histórias e pegar dicas com pilotas incríveis que já viveram esse momento.
Iris, uma pilota que adora se aventurar por novos caminhos em viagens solo, se apaixonou pelo motociclismo, após pegar uma carona com um amigo. A partir desse momento, decidiu quebrar as barreiras em seu meio social e familiar a fim de viver o seu sonho sobre duas rodas. Para ela, independente da viagem ser nacional ou internacional, o primordial para fazer uma expedição é ter um bom seguro, conhecer bem as rotas, ter contatos que poderão apoiá-la ao longo da estrada e ser consciente no tamanho da bagagem para levar apenas o essencial. Um ponto de destaque para sua segurança e sua diversão é a participação em grupos de apoio aos motociclistas, assim, a cada destino ela possui um porto seguro.
Quando decidiu fazer sua expedição internacional, ela conta que muitas pessoas trouxeram o discurso de alerta que amedronta: “Você é mulher! Vai viajar sozinha para o exterior! Não vai dar certo!”, mas ela acreditou no seu potencial, seguiu firme no seu objetivo e teve uma viagem de sucesso. Íris viajou pelo Uruguai, Argentina e Chile. Conta que a receptividade dos povos argentinos e uruguaios foi maravilhosa, que se sentiu em casa e os amigos continuam até hoje. Já o Chile, conquistou por sua geografia e suas belas paisagens.
Um ponto que Iris ressalta é a importância de dominar a moto e entender o mínimo sobre a mecânica e as peças. No Uruguai, a moto que viajava teve um problema no estator, não havia peça para comprar e, por encomenda, demoraria cerca de dois meses para chegar. Conhecer o problema proporcionou a autonomia para buscar uma solução e poder retornar ao Brasil.
Na nossa conversa, Iris levantou um assunto bastante interessante para a nossa coluna, conta que na última expedição dela para o Nordeste, recebeu muitos elogios por ser mulher e estar em viagem solo, e isso trouxe uma reflexão que compartilho para pensarem também: Será que uma mulher que decide enfrentar os desafios e viajar sozinha é “doida” ou será que não está sendo encorajada ou, até mesmo, sendo desmotivada, a fazer o que deseja? E ela completa: “Vamos viver enquanto a tempo porque o amanhã não se sabe!” – já com planos para sua nova expedição.
Gabriela Freitas, viveu a experiência de viajar para o Atacama com apenas 1 mês de habilitada e sem experiência de estrada. E como isso aconteceu? Vamos conhecer essa linda história! Ela, garupa do pai, sem habilitação, estava planejando a viagem para o Atacama com o pai e com o irmão. Em paralelo, estava no processo para tirar a habilitação, somente para acompanhar a galera nos cafés da manhã e passeios pequenos, com zero de pretensão, diz ela.
No entanto, no meio desse movimento, o pai perguntou: “Por que você não aproveita esse momento, finaliza o processo de habilitação, compra uma moto e vai pilotando com a gente?”, ela topou de pronto e seguiu firme na decisão recebendo incentivo dos amigos motociclistas da sua família. Gaby conta que os desafios foram extremos para quem estava habilitada apenas 30 dias, tinha aprendido a pilotar na moto da escola e, simplesmente, subiu numa Harley 1200 e foi pilotar por quase 10 mil kms, passando por 3 países: Uruguai, Argentina e Chile. Ela fala com grande alegria do que viveu e do apoio recebido do pai e do irmão, que foram essenciais para comprovar para ela mesmo a sua capacidade de superação. Essa viagem, além de todo contexto de empoderamento, trouxe um valor indescritível para a família da Gaby.
Passados cinco anos, com mapa redesenhado, Gaby iniciará novamente essa aventura acompanhada do pai e do irmão e, certamente, eles viverão uma outra experiência cheia de novas emoções e sentimentos.
Euri, tem 53 anos e começou no motociclismo recentemente, aos 52. Com seu espírito aventureiro, sentia falta de uma atividade que trouxesse a felicidade. Para sua surpresa, foi com a moto que sentiu uma realização incrível!
No começo, ela achava que não conseguiria dominar uma máquina tão potente, no entanto, determinada no seu objetivo, buscou o aprimoramento por meio de escolas de pilotagem e iniciou suas viagens com agências de moto turismo. Para ela, os passeios orientados proporcionam segurança para o seu desenvolvimento.
Para Euri, andar de moto no trânsito onde os motociclistas, por muitas vezes, são invisíveis para carros, ônibus e outros veículos pesados exige uma preparação igual a qualquer outra atividade, desta forma, todas as suas ações são com muita responsabilidade. Ao planejar uma viagem, sempre pensa nas intercorrências que podem acontecer a fim de traçar um plano B, afinal, sempre existirá uma realidade que não se pode controlar e o piloto tem que estar preparado. Para pilotar, é necessário criar confiança e colocar na mente que o passeio só é bem sucedido quando você chega em casa e abraça quem você ama.
Ela afirma que tem uma grande admiração pelas meninas que tem a moto como forma de trabalho e conseguem viver em um ambiente estressante e perigoso que é o trânsito nas grandes cidades.
“A cada saída com minha moto, crio mais confiança. Porém, nunca quero perder o medo do trânsito, respeitando meus limites e os da moto também. Fazer passeios de moto proporciona um sentimento de liberdade que jamais provei antes. Seja como lazer ou profissão, a moto é desafiadora, interessante, bela, meiga com seu dono, mas não admite erros e exige muito respeito na sua condução. Lembrando que para dominar essa máquina, precisamos cuidar bem do corpo e da alma, praticar exercícios e fazer tudo com responsabilidade.”
Certamente, histórias como a de Íris, de Gaby e de Euri nos fascinam e trazem muita motivação para que nós, mulheres, busquemos os nossos sonhos!
Em Janeiro, pegarei a estrada com a minha motoca, na companhia do meu marido, cheia dessa energia gostosa e curiosa pelo novo mundo que se formará dentro de mim. Viva comigo essa aventura acompanhando tudo pelo Instagram – @jucorguinha. Em fevereiro, a coluna retorna cheia de histórias da minha viagem e de mulheres incríveis que seguem me inspirando.
Motociclista desde novinha, Ju Corguinha é uma apaixonada pelo mundo do motociclismo, do motoclubismo e do mototurismo. Integrante do motoclube Guardiões do Raul MC desde 2007, ocupando atualmente a vice-presidência do clube, primeira mulher a ocupar uma função na diretoria e compõe a liderança do Motogirls, movimento motociclista feminino, desde 2016.
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