Nesta edição da coluna da Ju Corguinha você vai descobrir como o motociclismo pode ser um universo completamente diferente, seja pelo piso por onde sua moto vai circular ou pelo seu nível de pilotagem. Nossa aventureira relatará experiências no mototurismo que a levaram a buscar o aperfeiçoamento na pilotagem e conversas com mulheres inspiradoras. Confira!
Indiscutível que o motociclismo é movido pela paixão e pelo entusiasmo da liberdade, no entanto, as experiências vivenciadas nesse universo possuem mundos totalmente distintos. Enquanto no on-road estamos em estradas pavimentadas, asfaltadas, em ambiente urbano ou curtindo uma viagem numa longa highway, no off-road temos terrenos desafiadores com estradas de terra, areia, lama, rípio, piçarra ou até mesmo desbravando trilhas no meio de matas e florestas. E como consequência desses dois mundos, temos motos, técnicas de pilotagem, equipamentos de segurança e estilos de vida totalmente diversos.
Confesso que o mundo off-road me atrai de uma forma única. Não sei se pelo contato com a natureza, que tanto me completa, ou por ser um cenário que me desafia a todo momento, ou ainda por ser um sonho de adolescente, que ficou adormecido. Em 2007, quando ingressei para o motoclubismo, minhas viagens sempre tiveram como destino os encontros de motociclismo e ambientes on-road. Em 2018, meu olhar se voltou ao mototurismo e foi quando passei a incluir alguns destinos off-road nas minhas vivências.
Posso dizer que, inicialmente, a proporção era de 5% do total da viagem. Aos poucos, essa proporção foi aumentando e, com ela, as dificuldades de dominar a moto. Não ter a técnica necessária de pilotagem limitou alguns passeios e/ou me fez passar por alguns perrengues que, graças a Deus, hoje são motivos de grandes risadas.
Na última viagem, em abril de 2023, foram 22 dias de estrada, 14 fronteiras entre Estados do Brasil, rodando 8.000km. Saímos do Rio de Janeiro, eu com uma Versys 650 e meu marido com uma V-Strom 650. No roteiro, passamos pelo o Sul do Piauí e do Maranhão, para conhecermos a Chapada das Mesas, e seguimos para o Litoral a fim de percorrermos as cidades dos Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba e Jericoacoara, a famosa Rota das Emoções.
Ainda no roteiro, visitamos algumas cidades do Ceará e do Rio Grande do Norte, sempre buscando rotas alternativas, “fugindo” das rotas tradicionais. Foi nesse embalo que, no início da viagem, erramos um trecho da BR 135 em Minas Gerais e pegamos um caminho pela Reserva Indígena de Xacriabá. Rodamos cerca de 60km no areião, levei três trombos, quedas leves e foi desesperadora a sensação de não conseguir dominar a moto. Naquele dia, bati o martelo: preciso fazer um curso de pilotagem off-road para big trail. Ao retornar da viagem, comecei a buscar alguns cursos, conciliar datas, investimentos e eis que finalmente consegui fazer o curso no começo deste mês de dezembro de 2023. Entretanto, antes de falar sobre o curso, gostaria de falar sobre o processo da escolha e do fortalecimento pessoal.
Apesar de estar certa de que iria fazer o curso, quando comentava com algumas pessoas sobre o que eu queria fazer, os comentários eram: A moto é pesada! Você não vai aguentar! Vai se machucar! Pra que você está inventando isso? E, no processo de escolha do curso, o fato de ver turmas, quase em sua totalidade, composta somente por homens, me deixava bastante insegura, afinal, qual era o ambiente que eu teria que enfrentar?
Nós, mulheres, temos que fazer um trabalho diário para vencer esses obstáculos. E nada como um bom papo com pilotas que se superam e são apaixonadas pelo off-road para nos estimular.
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Alethea, uma mineira de BH, mora em Itaipava/Petrópolis, locais com muitas trilhas para off-road e muita natureza. Quando adolescente, sua diversão era sair da escola com os amigos, que tinham uma DT 180, para andar em lotes vazios ao lado do colégio. O tempo passou e ela foi desestimulada a andar de moto por um namorado que falava que a moto era pesada e ela iria se machucar. Determinada em buscar seus sonhos, hoje, Alê tem sua CRF 230cc e nunca a deixa parada. Faz projetos para o futuro como competidora de rally e flat track.
Leila Calaça é uma apaixonada pelo off-road desde os 16 anos, quando começou a pilotar. Devido à rotina, ficou afastada das trilhas e só retornou quando se casou, incentivada por seu marido. Hoje, ela faz parte do grupo de trilheiras Batom de Barro. Leila afirma que, com 51 anos, tem medo de cair e se quebrar, mas vai com medo mesmo. No percurso, com a aventura e a adrenalina, o medo vai embora e ela segue fortalecida.
Priscila Grillo conta que aceitou o convite para fazer a primeira trilha, porém até subir na moto e iniciar o trajeto, a sensação era de não entender o motivo de ter aceitado. Quando foi vivenciado aquele momento, a sensação era de não querer estar em outro lugar senão naquela trilha de morros e crateras. A adrenalina, a superação de cada obstáculo e o incentivo de mulheres incríveis moveram-na para que vivesse uma experiência sem igual.
Nesse meu processo de escolha de um curso de off-road para Big Trail, uma mulher, que me inspirou bastante, foi a mineirinha Gisele Favaro. Por meio da sua rede social e de seus treinamentos com a Nação Big Trails, ela me levou até essa equipe maravilhosa.
Conversando com Gisele sobre a sua história, ela contou que começou a pilotar em 2013 por causa do trabalho e por uma necessidade de visitar os pais, que moravam no sítio, ingressou no off-road. Com a pandemia, esse deslocamento do centro urbano para a zona rural se tornou mais intenso e ela foi curtindo esse movimento.
Gisele, que já participou de algumas competições off-road, conquistando o pódio, como o Bites 2021, disse que é muito grata à Nação Big Trails, pois a base recebida nos treinamentos foi super importante no seu processo. Comentou ainda que a Nação Big Trails vai muito além do curso, da técnica e da superação, principalmente por sair de lá outra pilota. Para ela, é uma família e que não há tratamento diferenciado por ser homem ou mulher, é todo mundo piloto. Nossa aventureira se lembra com muito carinho da equipe e o quanto é legal estar com ela curtindo o off-road. Gisele é um símbolo de superação para mim e estou na torcida por ela.
Sobre o curso, claro, escolhi a Nação Big Trails! Recebi um apoio incrível com as orientações sobre a moto e os equipamentos de segurança. O curso foi espetacular! Uma equipe cuidadosa com todos, preocupada em apoiar o nosso desenvolvimento. Eu fui a única mulher do grupo e, em nenhum momento, houve qualquer distinção. A vibração foi muito positiva, num ambiente super sadio e de alegria. Tive muitas conquistas e superações! Saí de lá com a certeza de que quero e preciso voltar. Estou extremamente feliz e mais consciente sobre a minha pilotagem. Esse movimento será super importante para a minha nova aventura.
Daqui a 15 dias, encontro vocês para contar sobre os planos para Janeiro. Até lá!
Motociclista desde novinha, Ju Corguinha é uma apaixonada pelo mundo do motociclismo, do motoclubismo e do mototurismo. Integrante do motoclube Guardiões do Raul MC desde 2007, ocupando atualmente a vice-presidência do clube, primeira mulher a ocupar uma função na diretoria e compõe a liderança do Motogirls, movimento motociclista feminino, desde 2016.
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