Nesta edição da coluna da Ju Corguinha você vai ver como a presença feminina no motociclismo vem se expandindo e as sensações que algumas mulheres motociclistas viveram na construção de suas jornadas em duas rodas. Confira!
A paixão pela liberdade proporcionada pelas duas rodas aliada a economia e a agilidade trazem um novo cenário para a vida das mulheres que se desafiam a introduzir a moto em seu cotidiano. Seja como forma de trabalho ou para facilitar o dia a dia, elas estão pelas ruas vencendo assédios, preconceitos, medos, como também, recebendo apoio, mensagens de incentivo e olhares de admiração.
Para poder falar sobre as situações vivenciadas por nós mulheres, conversei com algumas pilotas para trazer o sentimento, as ações e as reações delas perante as vivências do trânsito. Não há consenso fechado, nem uma realidade única, cada mulher traz consigo uma bagagem que influenciará na sua forma de viver e de se expressar frente aos desafios. No entanto, existe uma forte tendência ao sentimento de coragem, de sororidade e de saber exatamente onde se quer chegar.
Segundo Cristiane Gomes, ela sente uma diferenciação no tratamento no trânsito. O tempo todo ela precisa se impor. Sente que é nítido quando está pilotando com uma roupa mais larga, tipo capa de chuva e com cabelo dentro da bandana, passa “despercebida” e mais tranquila. No entanto, afirma que adora se sentir bonita pilotando, mas sempre bem equipada. Ela acredita que ainda temos um longo caminho para a igualdade de gênero no motociclismo e não podemos desistir!
Poliane é quem carrega o namorado na garupa, afirma que quando chega nos lugares percebe aquele olhar de espanto, ” Como assim, ela que pilota?” e ela responde orgulhosa: ” Sim, eu sou a pilota e ele é a garupa!” Poliane diz “Faço questão de garantir esse espaço e de levar junto essa mulherada maravilhosa! Quando vejo uma mulher pilotando, acho o máximo! Me dá um baita orgulho!”
Para Fran Estrela, ela se sente orgulhosa quando alguém a identifica como mulher! É sinal que paradigmas estão sendo quebrados. Afirma que já sofreu discriminações, mas não liga e continua firme no propósito de vivenciar uma experiência única.
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De acordo como os dados do Sistema de Informações Gerenciais de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga-SP), as mulheres são mais prudentes no trânsito e o percentual de participação em acidentes e multas é menor quando comparado aos homens. Os dados apontam que, em 2022, dos acidentes de trânsito que levaram o condutor a óbito, apenas 7,3% foram gerados por mulheres.
Para Gaby Gouvea, certificada como batedora com uma vasta expertise em escoltas, guarda de trânsito no Rio de Janeiro e instrutora de pilotagem, a pilotagem defensiva e preventiva é um item primordial em seus treinamentos. O celular no trânsito é muito preocupante! Assim, no trânsito, o piloto precisa ter atenção em alguns pontos, como: ficar na direção do retrovisor do motorista para certificar que o motorista está vendo a moto antes de uma ultrapassagem, ser amigável no trânsito dando a passagem quando perceber que alguém tem mais pressa e, claro, utilizar equipamentos de segurança sempre. Para ficar mais feminina, Gaby adotou as trancinhas no capacete e adora mostrar que, ali, é uma mulher pilotando. Em seus anos de experiência, ela afirma que as mulheres são cuidadosas no trânsito.
Conversamos também com Viviane Siqueira, da GPR Motorcycle Course, uma importante escola de pilotagem do Rio de Janeiro. Inclusive ela mesma já foi aluna do GPR, vislumbrou com a moto a oportunidade de ter qualidade na sua vida social. E nesse sentido, Viviane ganhou cerca de 4 horas diárias no deslocamento da casa para o trabalho. Hoje, ela é a responsável pelas matrículas do curso da GPR e tem observado o quanto o número de alunas aumentou. Em 2023, a escola teve em torno de 150 alunos, das quais 15% foi representado pelas mulheres. Antes, este número seria bem menor, afirma.
“Sobre as alunas, normalmente, elas são recém habilitadas e estão buscando independência e confiança na pilotagem urbana. Querem ter a liberdade de ir ao trabalho e viajar pilotando a sua própria moto. E as mulheres que já pilotam buscam aprimorar a técnica. Acredito que o fato da mulherada ser mais cautelosa e menos resistente às correções, o aprendizado é mais eficiente, vamos dizer assim. Uma coisa eu posso falar com propriedade, porque já passei pelo processo de ser aluna, é que o GPR tem um tratamento diferenciado com o aluno. Observando as necessidades de cada um, independente do “gênero”. A nossa equipe de instrutores é altamente capacitada e consegue identificar a dificuldade de cada aluno para fazer as correções necessárias e é nesse momento que percebemos que as mulheres estão mais disponíveis em aceitar as correções e os apontamos. Acredito que o fato delas chegarem sem vício de pilotagem também facilita o processo de aprendizagem.”
Após esses relatos revigorantes, está claro que moto e mulher é uma união que veio para ficar.
Vejo vocês daqui a quinze dias para compartilhar uma experiência mágica na minha vida!
Motociclista desde novinha, Ju Corguinha é uma apaixonada pelo mundo do motociclismo, do motoclubismo e do mototurismo. Integrante do motoclube Guardiões do Raul MC desde 2007, ocupando atualmente a vice-presidência do clube, primeira mulher a ocupar uma função na diretoria e compõe a liderança do Motogirls, movimento motociclista feminino, desde 2016.
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