No último final de semana tivemos o GP da Comunidade Valenciana, 14ª etapa da Moto2 e da Moto3 e 13ª corrida da categoria rainha do Mundial de Motovelocidade, a MotoGP. Essa diferença ocorre porquê as demais tiveram suas corridas no Catar antes da pandemia, enquanto a MotoGP ficou impedida de competir no país asiático por causa do coronavírus.
O Autodromo Ricardo Tormo em Valencia é relativamente novo se compararmos a outros circuitos da Europa. Ele foi construído em 1999 e é utilizado pela F1 durante o inverno europeu por ser uma região mais quente. Além da F1 e da MotoGP, a pista recebe também o Mundial de Superbike, NASCAR Euro series, WTCC, DTM, F3 Euroéia, GP2 Series, F4 Espanhola, Etapas do CEV e diversas outras categorias de motovelocidade dos campeonatos espanhóis.
O circuito é muito seguro para MotoGP! Possui extensas áreas de escape e todas elas com caixa de brita, sem necessidade de barreiras de proteção tipo “AirFence”. O circuito dá também a possibilidade de diversos traçados com diferentes distâncias, mas a MotoGP, usa o traçado completo tradicional que possui 4km de comprimento, com nove curvas para a esquerda, cinco curvas para a direita e gira no sentido anti-horário.
A pista tem 12 metros de largura e a reta principal possui 876 metros. Na minha opinião é um dos melhores autódromos do mundo para se assistir corrida! Ela tem formato de arena, sem grandes desníveis e você consegue ter visão total do circuito independentemente do local da arquibancada em que você esteja! Vale muito a pena colocá-lo em seu wishlist!
Moto3
Dos quatro pilotos que ainda tinham chances de lutar pelo título – Arenas, Ogura, Arbolino e Masia – quem conseguiu a melhor posição no grid, foi o espanhol Jaume Masia, que largou da primeira fila, na 4ª posição. O líder do campeonato, Albert Arenas, largou em 6º, enquanto Ai Ogura partiu do 7º posto e Tony Arbolino saiu apenas do 17º lugar. Apesar disso, ele mostrou o verdadeiro sentido da expressão “Treino é treino, jogo é jogo”. Mesmo largando do fundo do grid, o italiano da Rivacold Spiners Team terminou a primeira volta na 5ª posição e na volta 2 assumiu a 2ª colocação. Feito isso, Arbolino começou a buscar Raul Fernandes, da KTM, que largou em 3º e liderava a prova até o momento.
Diferente do que normalmente acontece nas provas da Moto3, onde os 24 pilotos correm separados em apenas um ou dois grande grupos, nesta etapa tivemos diversos grupos de três pilotos disputando posições. Faltando dez voltas para o final, o grupo da frente era formado por Raul Fernandes, Tony Atbolino e Sergio Garcia. Faltando três voltas para o final, Arbolino assumiu a ponta e foi o primeiro a cruzar a linha de chegada, seguido por Sergio Garcia e Raul Fernandes.
Com a vitória, Arbolino subiu da 4ª para a 3ª colocação do campeonato, ficando a apenas 11 pontos do líder Albert Arenas, que concluiu o GP da Comunidade Valenciana na 4ª colocação.
Moto2
Assim como as demais categorias, a Moto2 está muito disputada, e chegou ao segundo GP em Valência com o 4º colocado a apenas 29 pontos do líder. Curiosamente, pela terceira vez este ano o piloto que liderava a corrida na Moto2 acabou caindo. A vítima dessa vez foi o italiano Fabio Giannantonio, que caiu na última volta enquanto liderada a prova.
Líder da temporada, Enea Bastianini largou em 12º e chegou em 6º. Já o vice-líder Sam Lowes teve um final de semana para esquecer. Ele sofreu uma queda terrível no FP3 e lesionou a mão. Mesmo assim, ele largou em 18º e concluiu a prova de forma heróica na 14ª posição.
Quem se destacou foi o Jorge Martin. O espanhol teve um 6º lugar como sua pior posição de corrida considerando as últimas três etapas com os seguintes resultados: 3º em Aragón, 6º em Teruel e 2º no GP da Europa. Na etapa da Comunidade Valenciana, Martin mostrou porque mereceu subir para a MotoGP em 2021. Ele largou em 5º, teve diversas disputas durante a corrida e garantiu a vitória após levar a melhor sobre Garzo e Bezzecchi em uma disputa de tirar o fôlego! Com a vitória, o espanhol diminuiu para 23 pontos a diferença para Bastianini e, apesar de ser uma missão bem difícil, ele ainda está no páreo pelo título da temporada 2020 da Moto2.
MotoGP
Com 37 pontos de vantagem para Fabio Quartararo e Alex Rins, o espanhol Joan Mir tinha grandes chances de conquistar o título no GP da Comunidade Valenciana. E o piloto da Suzuki fez uma corrida bem confortável, sem se expor a grandes riscos. Largou em 12º e terminou a prova na 7ª posição, resultado suficiente para o piloto da Suzuki conquistar o título de campeão da categoria mais importante do motociclismo mundial pela primeira vez na carreira.
Franco Morbidelli fez uma corrida impecável, praticamente liderando de ponta a ponta. Porém, isso não significa que ele teve vida fácil durante toda a prova. Faltando três voltas para o final, o australiano Jack Miller começou a se aproximar e na última volta, os dois protagonizaram algumas trocas de posições mais eletrizantes da temporada, valorizando ainda mais a vitória do italiano. Fecham o pódio Miller e Pol Espargaró.
Alex Rins, que também não classificou bem para a corrida, largando somente na 14ª posição, mostrou mais uma vez ser um “piloto de domingo” e chegou na 4ª posição! Com esta posição, Rins entra de vez na disputa direta pelo vice campeonato com Morbideli e Viñales.
Eis o campeão, Joan Mir!
Quem é “Mr. Consistence”?! E qual foi seu caminho até a coroa da categoria rainha? Joan Mir Mayrata é Espanhol de Palma de Maiorca e recém completou 23 anos no dia 1º de Setembro. Ele começou a desenhar sua carreira na Red Bull MotoGP Rookies Cup fazendo duas temporadas em 2013 e 2014, onde terminou a temporada com três vitórias e seis pódios. Neste mesmo ano, Jorge Martín foi campeão da categoria.
Em 2015 disputou o CEV Moto3, onde venceu quatro das seis primeiras corridas mas acabou terminando a temporada na 4ª posição. No mesmo ano ele fez sua estreia na Moto3, disputando uma etapa na equipe Leopard Racing, substituindo o piloto Japonês Hiroki Ono em Phillip Island.
Em 2016, Mir fez uma temporada completa na Moto3 com a Leopard Racing, conquistando dois pódios, 144 pontos no campeonato e terminando na quinta posição na classificação geral, eleito o melhor estreante do ano.
Seguiu com a Leopard Racing na Moto3 em 2017 e não deu chances para seus concorrentes! Foi campeão da temporada com 10 vitórias e 13 pódios em 18 corridas, não pontuando somente na etapa do Japão. Ele fechou a temporada com 93 pontos de vantagem sobre o vice-campeão, Romano Fenati.
Em 2018, Mir subiu para a Moto2 na equipe Marc VDS, onde ele terminou a temporada com 4 pódios e na 6ª posição no campeonato. No final do ano, foi anunciado como novo piloto da equipe Suzuki Ecstar para a temporada 2019, no lugar do italiano Andrea Iannone. No ano de estreia na MotoGP ele já demonstrava consistência. Apesar de ter ficado fora por duas etapas após sofrer um acidente nos testes em Brno, terminou o campeonato em 12º, com 92 pontos, tendo como melhor resultado um 5º lugar na Austrália.
No final de 2019, Mir renovou seu contrato com a Suzuki por mais dois anos. Em 2020, o espanhol mostra novamente sua consistência e técnica, conquistando sete pódios em 13 corridas, sendo uma vitória na etapa do Grande Premio da Europa, em Valência, na semana passada.
Neste final de semana, em uma corrida estratégica, Mir termina a corrida na 7ª posição e se consagra o primeiro campeão mundial da MotoGP tendo sido campeão também da Moto3. Além disso, a equipe Suzuki volta a conquistar um Mundial após 20 anos. O último título havia acontecido no ano 2000, com o norte-americano Kenny Roberts Jr.
Parabéns ao Team Suzuki Ecstar, que mostrou ter uma equipe extremamente competente por trás de Mir e Rins, liderada por dois grandes profissionais: o Team Manager Davide Brivio e Sylvain Guintoli, experiente piloto de testes e campeão Mundial de Superbike!
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Léo Pereira é piloto de motovelocidade e instrutor de pilotagem da Triumph Riding Experience TRX. Também é empresário, representante da Airfence Safety Systems e editor do anuário da MotoGP, o MotoGPBook Brasil.