A Ducati, uma marca reconhecidamente passional e de DNA puro-sangue esportivo, por sua vez, em 2011 levou seus genes para um segmento antagônico ao que costumou frequentar com o lançamento da Diavel, uma moto que mistura os estilos naked, custom e, como eles denominaram, cruiser, mas pode ser considerada também uma musclebike.
A Ducati XDiavel S segue o legado iniciado pela Diavel, mantém a identidade, mas os engenheiros italianos fizeram um exercício de design mais arrojado e chamativo. Hoje, com a mesma estrutura, há três versões, a Diavel e as XDiavel S e Dark. Todas elas equipadas com o motor Testastretta DVT 1262, mas as XDiavel têm um pouco menos de potência, são 152 cv a 9.500 rpm, contra 158 cv na Diavel.
Texto: Ismael Baubeta
Edição: Alexandre Nogueira
Fotos: Renato Durães e divulgação
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Os conceitos mudam cada vez mais rápido e sucessivamente, e, assim como as peruas no mundo dos carros foram dando lugar aos SUV, que, por sua vez, foram ganhando versões cada vez mais esportivas e poderosas, nas motos não seria diferente. Marcas tradicionais em determinados segmentos também dão guinadas radicais em suas motos para se aventurar em novos terrenos. A Harley-Davidson, por exemplo, recentemente lançou uma maxitrail com motor em V, depois de entrar no segmento de motos elétricas, com a Live Wire.
Notável beleza
Se a Diavel é, digamos, mais discreta na composição visual, com menos peças metálicas brilhantes e muito preto distribuído pelo corpo, a XDiavel S é muito mais atrevida, eu diria até animal, embora mantenha uma boa porção de preto em seu layout, ela recebeu alguns detalhes que lhe renderam mais agressividade, como nas belas ponteiras de escape laterais mais curtas e cromadas, no detalhe usinado nos raios das rodas, que têm desenho diferenciado, e nas laterais dos cilindros e cabeçote, detalhe que minha mão, ao tocá-los sentiu que pareciam duas tesouras de cirurgia, tive que concordar.
O tanque, o banco e a rabeta seguem a silhueta que sugere velocidade, e na traseira o que se destaca é a enorme roda com pneus de 240 mm de largura, uma pata e tanto, que está totalmente exposta do lado direito, já que a balança é do tipo monobraço. A traseira termina em um pequeno banco de garupa, que na versão avaliada recebe um sissy-bar, igualmente minúsculo. A iluminação também tem um papel importante no design, o farol em LED tem luz de posição DRL (Day Running Light) que faz lembrar o formato do escudo da marca. Sob o banco as duas luzes das lanternas separadas também já são marca registrada do modelo, os piscas foram posicionados no suporte de placa, que é também onde o para-lama está fixado na balança.
Ergonomia
A XDiavel S é baixinha, o banco está a 755 mm do chão, portanto subir e apoiar os pés no chão é tarefa fácil. Uma vez sentado, você vai perceber como ela é longa, é preciso se inclinar para a frente para agarrar o guidão, assim como para posicionar os pés sobre as pedaleiras você tem que estendê-las bastante.
Uma posição que, com a passagem dos quilômetros, você percebe que não é das mais relaxadas, afinal, as pernas avançadas e guidão afastado do corpo, obrigando você a se sustentar firme à medida que a velocidade aumenta, acaba sendo cansativo. Outro desabono da posição são as pancadas que sobem pela espinha ao rodar pela cidade, principalmente se você for pego de surpresa, mas a emoção de acelerar seu coração italiano se sobrepõe a tudo isso.
Desempenho e emoção
A XDiavel S é uma custom de personalidade diferenciada, não só pelo design moderno e chamativo, mas também pela capacidade de aceleração, digna de uma musclebike. Os quase 250 quilos da moto totalmente abastecida parecem ser menos. A eletrônica embarcada é das mais completas, desde a chave de presença do sistema keyless, para dar a partida, aos comandos do acelerador eletrônico responsivo aos modos de pilotagem com parâmetros autoajustáveis de ABS cornering, controle de tração e de largada e o antiwhelie, todos com o propósito de deixar a pilotagem mais segura e ao mesmo tempo permitir uma tocada esportiva mais arrojada.
O motor da XDiavel S é de dois cilindros em L a 90°, chamado de Testastretta, tem 1260 cm³, oito válvulas, comando variável do tipo desmodrômico e refrigeração líquida. Essa configuração é capaz de gerar 152 cv a 9.500 e 12,5 kgf.m a 5.000 rpm de potência e torque máximos respectivamente, números respeitáveis.
A simples vista pode não parecer ser muito, se você pensar nos 217 cv de uma Panigale V4, por exemplo, mas, nas primeiras aceleradas com afinco, você vai confirmar que são capazes de oferecer sensação de vertigem, tal a rapidez com que ela ganha velocidade, basta piscar os olhos, e você está a 100 km/h. Imagine sair de um semáforo, e antes de chegar à próxima esquina, já ter entrado nos três dígitos na velocidade. É preciso moderação, porque se você se deixar levar pela emoção, a cada arrancada vai se pegar fazendo um 0 a 100 km/h.
Os três modos de condução (Sport, Touring e Urban) ajudam nos diferentes temperamentos que o motor pode incorporar, o primeiro é mais arisco nas respostas e fica meio incômodo para rodar no trânsito urbano, naquele anda e para, o mínimo movimento no punho direito significa uma guinada para frente, ideal para quando você quer deixar a “uruca” para trás comendo poeira.
O modo Touring, apesar de dispor de toda a cavalaria, é mais amigável ao giro do acelerador, tem respostas mais suaves sem ficar sonolento, e o modo Urban, limita a potência a 100 cv macios como seda, este seria o modo Rain de outros modelos, nele, tanto o controle de tração como o ABS estão em posição de intervenção máxima em nome da segurança. O modo Sport é o mais permissivo, e o Touring, o intermediário.
Uma moto que conta com controle de largada é porque, no mínimo, merece atenção se você está pensando em acelerar para valer, é o tipo da emoção que os italianos da Ducati gostam de deixar marcada em suas motos, eu particularmente adoro motos intensas como esta.
Ciclística e freios
A Ducati quando desenvolve suas motos não economiza na quantidade e qualidade de seus componentes, prova disso são as enormes bengalas de 50 mm de diâmetro Marzocchi e o amortecedor totalmente reguláveis e as potentes pinças radiais monobloco de quatro pistões, dignas de motos de pista.
A XDiavel S não tem como esconder seu DNA “ítalo-esportivo” marcado a ferro e fogo, embora, no motor, seja possível deixá-la mais amigável e suave na condução com a eletrônica, no projeto com distância entre-eixos de 1.615 mm, ângulo de cáster de 30° e trail de 130 mm é de se esperar que tenha certa dificuldade para engolir as buraqueiras das cidades, some a isto a posição de pilotagem com as pernas avançadas, e o resultado é sentir na coluna as pancadas vindas da roda traseira. No entanto, leve-a para rodar na estrada e sinta a mudança drástica, seu comportamento é preciso, as mudanças de direção são feitas de forma rápida e, mesmo com o pneuzão de 240 mm na traseira, ela responde sempre pedindo mais, até chegar ao limite de inclinação com naturalidade. Se você descer uma serra, ao final, vai querer dar meia-volta e subir só por diversão.
Mordida poderosa
O sistema de freio segue a mesma receita radical, é potente, tem funcionamento preciso, os dois discos de 320 mm na dianteira, mordidos pelas pinças radiais de quatro pistões são mais que suficientes para fazê-la parar com rapidez, e o ABS (com três modos selecionáveis: Expert, Esportivo e Safe & Stable) tem funcionamento combinado e pouco se faz notar. O disco de 265 mm com pinça de dois pistões atrás também é eficiente a auxilia muito nas frenagens.
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A Ducati XDiavel S é uma moto ímpar, pela beleza e ousadia de suas linhas, componentes, mas também pelo excelente desempenho. Ele seduz e convida para uma diversão sem pudor, mas se você não é deste tipo, tem os R$ 114.990 da etiqueta e acha esta moto demais, também pode comprar um exemplar para colocar na sala como obra de arte, não seria exagero.