Quando a Ducati lançou a Scrambler, tinha o objetivo de que a família formada por quatro diferentes versões (Icon, Urban Enduro, Classic e Full Throttle) se descolasse da imagem das motos de alta performance da marca, prova disso foi a estratégia de comunicação e vendas com identificação em amarelo e boutiques exclusivas para elas (principalmente na Europa) e a simplicidade do projeto.
Texto e avaliação: Ismael Baubeta
Edição: Alexandre Nogueira
Fotos: Renato Durães
Os italianos esperavam que a Scrambler, no Brasil, tivesse o mesmo êxito que teve na Europa, mas a recepção por aqui não foi tão calorosa, e aos poucos a Ducati foi retirando as versões menos vendidas até deixar somente a Icon, esta que testamos e que recebeu algumas modificações que lhe dão oxigênio extra para sobreviver por mais algum tempo, pelo menos até que sua irmã de 1.100 cm³, lançada há pouco na Europa, chegue por aqui e, quem sabe, a substitua.
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Singelas mudanças
A Ducati manteve o design praticamente inalterado, as mudanças foram pequenas e é preciso atenção para poder encontrá-las, as mais visíveis foram feitas nas rodas, que agora tem detalhe escovado nos raios de fundo preto, e na ponteira de escape. Mas, a alteração tecnológica mais significativa foi a adoção do sistema ABS Cornering, que mesmo em frenagens com a moto inclinada, atua suavemente, aumentando a segurança. Para completar o pacote, foram incorporados farol de LED com DRL (Daytime Running Light), painel com marcador de combustível e indicador de marchas e outro banco com novo formato e de espuma mais macia também foi incluído.
O que importa
A proposta da Ducati para a Scrambler foi muito bem definida: ser uma motocicleta despojada, estilosa e divertida para viver o motociclismo curtindo com os amigos, além de oferecer boas sensações na pilotagem. Os italianos, ao mesmo tempo, queriam que ela fosse capaz de cativar fãs e novos aficionados da marca para aumentar e garantir volume expressivo. Tentar atrair motociclistas que pudessem estar distantes da marca por questões de grana. Ela nasceu para ser a mais acessível das Ducati, mas nem por isso a menos divertida.
Sensações
Quando você monta na Scrambler percebe suas particularidades na ergonomia. O guidão alto e largo faz a posição de pilotagem parecer com a de uma moto off-road, mas a posição recuada das pedaleiras desmente a sensação. O mesmo acontece com o novo banco, que agora tem a espuma mais macia, está mais confortável e permite rodar por mais tempo sem sofrimento. Mas é na hora de fazer o motor roncar que a diversão começa. Quem busca uma Scrambler não deve estar preocupado com os números de potência e torque absolutos, pois não é este o espírito da coisa, embora os 73 cv a 8.250 rpm e os 6,9 kgf.m a 5.750 não sejam pouco para os 189 quilos da moto.
Ao apertar o botão de partida, você vai achar que ela está com preguiça de ligar, como se o motor de arranque não fosse capaz de fazê-lo, mas calma, é uma característica dos motores italianos, ela liga e logo o barulho emitido pela ponteira já invade os tímpanos e começa a empolgar os sentidos. Aperto o manete de embreagem e, ”clank”, engato a primeira e acelero para sentir o empurrão dos dois cilindros em L a 90°, refrigerados a ar. O motor herdado das Monster 796 foi melhorado para ficar mais liso, sem aqueles trancos que costumávamos sentir na naked ao acelerar e desacelerar, bom para rodar tranquilo nos passeios dominicais com sua garota na garupa.
A vibração é uma das características do motor que continuam vivas, mas você se acostuma e, à medida que a conhece mais intimamente, passa a gostar desse “pulsar” no corpo. Os quase sete quilos de torque máximo (6,8 kgf.m a 5.750 rpm) empurram forte já às 3.000 rpm, mas se você enfiar a mão no acelerador e fizer o giro subir engatando marchas, a diversão aumenta com determinação, sem sustos, aumentando a adrenalina na tocada, se você assim quiser.
Virtudes
É lógico que quem compra uma Scrambler, provavelmente não pensa em colocá-la na terra, mas se decidir fazê-lo, o ideal são as estradas de terra batida, assim pode se divertir fazendo-a levantar poeira nas derrapagens abanando a traseira para os lados, ela não tem controle de tração. As suspensões, segundo a fábrica receberam novo acerto e tem maior capacidade de absorção de impactos, ela parece estar um pouco mais macia, dá para arriscar pequenos pulos, mas os 150 mm de curso tanto na frente quanto atrás, limitam a altura da decolagem, mas acho que é uma manobra que poucos vão ter vontade de fazer com ela, afinal, ela em outro espírito.
A Scrambler exige um pouco de força para seguir a linha que você escolheu, mas, uma vez nela, ela percorre bem assentada a trajetória sem sustos, e, se passar por ondulações nas curvas, os movimentos são suaves e previsíveis. Os pneus Pirelli MT 65 vão bem sobre a terra, mas impressionam no asfalto, eles têm ótimo grip, transmitem bom feeling no guidão e permitem fazer curvas insanas.
Freios
A Ducati sempre teve sistemas de freio eficientes, não seria diferente na Scrambler, o enorme disco de 330 mm na dianteira é mordido por uma pinça radial de quatro pistões que exige pouca força no manete para fazê-la parar, atrás o disco de 245 mm ajuda nas frenagens com boa desenvoltura, mas a melhora no sistema é invisível a olho nú, é o ABS Cornering, com ele, caso você precise frear com a moto inclinada e a roda ameace deslizar ele entrará em ação sem derruba-lo. Equipamento bem-vindo para qualquer motociclista.
A Scrambler é uma moto divertida e despojada, como a fábrica planejou, e ainda é a mais barata do lineup da Ducati, mas os R$ 56.990 pedidos por ela não são pouca grana e podem fazer o comprador pensar em outras alternativas, como a homônima Triumph Scrambler 1200 XC, mais forte e bem mais recheada de tecnologia, por R$ 63.790. E agora, macarronada a bolonhesa ou peixe frito com batata frita?
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