Minha experiência comprova que também existe preconceito contra a mulher motociclista, assim como em todas as áreas profissionais e na vida cotidiana. Assim como vários estudos. (*Por Tatiana Paze)
Um deles, feito pelo “Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)”, realizado este ano, afirma que 90% da população masculina mundial tem algum tipo de preconceito contra as mulheres. No Brasil, 89,5% dos entrevistados revelaram ter ao menos um preconceito contra mulheres, e 52,39% pelo menos dois. Esse estudo não seria diferente para mulheres motociclistas.
Perguntas e afirmações como: “essa moto não é muito pesada pra você?”, “nossa, você é corajosa, hein?” e “mulher não entende nada de moto”, ainda saem da boca de muitos homens. Esse preconceito geralmente acontece com pessoas que não são do meio motociclístico, na maioria das vezes nunca pilotaram uma moto, mas não se limita aos não motociclistas.
Muitas vezes o preconceito vem da própria mulher, que por falta de incentivo e auto-confiança, ou por dar muita atenção a tudo o que a sociedade machista diz, acaba incorporando a ideia que moto não foi feita para ela e que não é capaz de pilotá-las.
Há alguns anos, quando eu realizava a entrega técnica de motos em uma concessionária BMW Motorrad, senti algumas vezes o “olhar torto” de clientes no momento que o vendedor lhe dizia que era eu quem explicaria tudo sobre a moto. A primeira vez que isso ocorreu foi um pouco constrangedor, pois notei claramente naquele homem a desconfiança de que uma mulher fosse capaz de explicar em detalhes todas as funcionalidades da moto.
Felizmente essa situação durou pouco. Foi só eu começar a fazer meu trabalho que imediatamente o mais novo proprietário de uma BMW mudou seu comportamento. Ele se deu conta que ali tinha um profissional que falava com propriedade do seu novo brinquedo. O cliente ficou mais surpreso, quando viu que quem iria pilotar a moto até a saída da concessionária era a mesma profissional que lhe fez a entrega técnica, ou seja, eu mesma. Ouvi pedidos de desculpas dizendo, envergonhadamente, não ter confiado no meu trabalho nem no meu conhecimento do produto.
Depois dessa experiência de um ano, não me restaram dúvidas de que o preconceito realmente existe, até que se nos prove o contrário. E mesmo provando a capacidade e conhecimento, ainda têm os insistentes, que continuam afirmando que lugar de mulher é em casa cuidando dos filhos.
Hoje em dia é normal assistir uma competição de motos e ver alguns grandes pilotos mulheres que além de motociclistas, fizeram da corrida sua carreira e muitas vezes estão entre os 3 primeiros lugares no pódio.
Minha paixão pela moto surgiu desde que me conheço por gente. Cresci tendo a certeza que um dia eu teria a minha motocicleta. Tinha tanta vontade de aprender a pilotar, que em uma certa ocasião, escondida de todos, subi em uma Yamaha DT180 na garagem e coloquei em prática tudo aquilo que vinha aprendendo na teoria.
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Sem dúvida foi a melhor sensação que tive até aquele momento. A partir dali, nunca mais fiquei sem pilotar. Fui atrás da minha CNH categoria A, fiz um curso de pilotagem em Interlagos, coloquei em prática as técnicas no meu dia a dia e praticamente todos os finais de semana, lá estava eu na estrada.
As mulheres estão em uma luta constante pela igualdade de gênero. Infelizmente a cultura machista persiste fortemente na sociedade. Somos diferentes sim, somos mulheres, mas isso, definitivamente, não nos torna incapazes de fazer aquilo que nos dê vontade.
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Atrás do bem material aparente na motocicleta, que para muitos é apenas um meio facilitador de mobilidade urbana, ela pode promover excelentes mudanças no estilo de vida de uma pessoa. Depois que o “bichinho” da motocicleta nos pica, nossa alma também se torna motociclista. E, então, o destino deixa de ser o mais importante, qualquer deslocamento sobre uma motocicleta se torna especial.
A paixão pela moto faz a mulher ultrapassar muitas barreiras, às vezes é necessário apenas dar o primeiro passo e aprender a andar de moto para que a vontade se torne paixão, e ela vire muitos quilômetros e histórias pelas estradas mundo afora.
Nasci motociclista de alma e me tornei motociclista na prática, depois disso, não me importa o que os outros pensam, sou realizada como mulher e como a profissional que me tornei. Se eu pudesse dar um conselho para as mulheres, eu diria: “Se você gosta de moto e quer começar a pilotar, corra atrás, pois isso só depende de você! Não é difícil e está muito mais perto do que você imagina”.
*Tatiana Paze é motociclista há mais de 20 anos e instrutora de pilotagem oficial da BMW Motorrad no Brasil.
**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião da MOTOCICLISMO.