Perto de completar 50 anos de Brasil, o mercado de motocicletas já mostrava maturidade até nos anúncios da época do pós-guerra
Texto: Carlãozinho Coachman
Fotos: Acervos Edgard Soares / Motostory
Você sabe que nossos olhos enxergam aquilo que a gente quer ver. Assim, com as redes sociais e os grupos de “zap zap”, recebo uma quantidade enorme de referências de anúncios de época. Por ter nascido em 1965, a todo instante meus amigos mandam referências de nossa infância e adolescência dos anos 1970 e 1980. Os primeiros anúncios de Honda e Yamaha produzidas no Brasil, do tênis Kichute e das balas Soft que teimavam em descer pela garganta. Cada geração tem as suas referências e a publicidade é uma das ferramentas que melhor explica os diferentes momentos e costumes da vida humana.
Assim, em 1949, ao lançarem a revista Motociclismo, Eloi Gogliano e seu braço comercial Wilson Fittipaldi precisavam atrair anunciantes para seu novo empreendimento. Uma das maravilhas de olhar atentamente para os anúncios de cada época está justamente na quantidade de informações que eles nos trazem. Como sabemos, a nata do motociclismo em São Paulo ficava concentrada no centro da cidade, na confluência das ruas General Osório com Barão de Limeira, ou, simplesmente, a “Esquina do Veneno”. O motociclismo já havia se espalhado pelo país, Rio de Janeiro era a capital federal e tinha grande importância tanto em motos como em bicicletas, mas era naquela região central na capital paulista que estavam se formando as maiores forças tanto do esporte como dos negócios com motocicletas. O anúncio da Cantina Capela dá mostra do que estava se tornando aquele mundo de aficionados por motocicletas. Ela não ficava ali no centro, mas na região do Brás, do outro lado do Rio, mas convidava “Dando-nos o prazer da sua visita V.S. se certificará do que lhe podemos oferecer, tornando-se mais um de nossos prezados “Habitués”. Se isso não é prospectar novos clientes, então não sei o que é.
Os especialistas também estavam se destacando naquela altura, e se concentravam na mesma região. A Oficina Piratininga, que levava o mesmo nome do Piratininga Moto Clube, era comandada por Georgevich e Carmona, duas referências na época que ofereciam “serviços e peças de alta qualidade.” A história dos Carmona será tema de uma matéria especial, afinal, seguem até hoje ligados ao motociclismo.
Luiz Latorre era, já naquele tempo, o representante exclusivo das Moto Guzzi, mas tinha em seu estoque uma infinidade de marcas e modelos. Foi, segundo sabemos, a primeira loja a se instalar na região e segue lá até hoje, ativa, sendo a última sobrevivente daquela época de ouro. Outro anúncio que chama a atenção é da Boettcher Rocha e Cia., que ficava à Rua dos Gusmões. Hoje já sabemos que nosso ídolo do motocross Roberto Boettcher é filho de outro grande motociclista, o “Paulistinha” Ervino, que no final dos anos 1950 se mudara para Goiânia e ajudaria no desenvolvimento do motociclismo por aquelas bandas. Mas e este Boettcher Rocha? Seria da família? Outro destaque dentre os anunciantes era a existência de “generalistas” fortemente envolvidos com o negócio das motocicletas. Isnard e Cia. era um importador e exportador de maquinários e outros bens de consumo e chegou a importar a raríssima Veloccete LE. A Mesbla, na 24 de maio, atuou durante anos na importação e distribuição de motocicletas e em 1949 vendia a icônica BSA, “moderna e econômica, fazendo 30 km/l.” Será? Quer ver mais anúncios das décadas de 1940 e 50? Vá ao nosso site em “A moto e a publicidade do pós guerra.”
Texto publicado na edição 258 da revista MOTOCICLISMO
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